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Sozinha na montanha, o que é normal e o que é extraordinário? – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 7, 2023

Na estreia literária do texano Rye Curtis temos, em capítulos quase paralelos, o ponto de situação de duas personagens: Cloris Waldrip, que, aos 72 anos, foi a única sobrevivente de um desastre de avião em Montana, em 1986, isolada na montanha, num embate a solo contra a natureza; e Debra Lewis, guarda florestal, agora com a missão de encontrar e resgatar Cloris. A primeira, que viajava com o marido, tem, além da luta pela sobrevivência, de lidar com a recente viuvez; a segunda encontra-se a braços com o vício e a tentar superar um divórcio recente.

A luta de Cloris é a luta de qualquer um. Sem ferramentas e sem aptidões especiais para a sobrevivência, e ainda por cima com idade avançada, cada momento sabe a desafio, cada dia é uma incerteza. De encher o estômago a hidratar-se com água potável ou a encontrar superfícies seguras, de temperatura adequada, para dormir, tudo é um puzzle a precisar de solução. A movê-la, está a sobrevivência como um tem-de-ser que não é questionado, e por isso a senhora vagueia, deixando rastos da sua passagem, rastos esses que Lewis, com o seu grupo, vai seguindo a ver se consegue encontrá-la. À medida que os dias se transformam em semanas, a esperança parece perder a força, mas a obrigação da sobrevivência não cede. À volta da guarda florestal, ninguém parece achar que uma senhora de 72 ombrearia com a natureza tanto tempo.

A narrativa chega a atingir alguma complexidade, em parte pela opção do autor, de dar dois pontos de vista entrelaçados. Por um lado, temos alguém normal em face de uma circunstância extraordinária; por outro, temos a percepção do quão extraordinário é alguém normal encarar essa circunstância. O romance inclui ainda descrições minuciosas da paisagem, que têm ritmo de livro de aventura, mas o ponto alto será a personagem de Cloris: bem delineada, o tom nunca lhe falha. Mesmo estando ela a vaguear pela montanha, o leitor nunca se esquece de que está ali alguém daquela idade a vir de uma vida pacata, com uma caracterização credível que a torna em gente a sério.

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