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Fado da prostituta das ruas de Buenos Aires – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 14, 2023

Os cânones da ficção dividiram as prostitutas em essencialmente dois grandes grupos. Tomemos o cinema como veículo. De um lado, a prostituta sofrida, desgraçada, moída pela rua e pelo vício como em Leaving Las Vegas. Do outro, a meretriz com um coração de ouro, ansiosa que um príncipe encantado a afaste daquela vida, como em Pretty Woman. Aqui, a ficção fica de lado. Estamos perante uma autobiografia que não pede desculpa por existir logo a partir do título: Puta Feminista — Histórias de Uma Trabalhadora Sexual. A voz é a de Georgina Orellano, argentina, nascida em 1986, trabalhadora sexual desde os 19 anos e, desde 2014, secretária-geral da AMMAR, Asociación de Mujeres Meretrices de Argentina. A recém-chegada edição portuguesa da Orpheu Negro, com prefácio de Joana Canedo (ativista e cocriadora do coletivo Manas/ GAT), tradução da premiada Helena Pitta.

Orellano é uma exímia contadora de histórias, que conta o seu passado sem se distanciar dele no presente. Continua orgulhosamente a sua atividade nas ruas, a par com a militância. Quem pega no livro não vai ao engano: esta é uma obra assumidamente panfletária, que não olha para a questão da prostituição como um problema para ser resolvido, mas sim como uma realidade para ser aceite — “nem abolicionismo, nem regulamentação: despenalização”.

Independentemente do modo como se encara a a prostituição, uma coisa é certa: para a compreender, é preciso ouvir quem dela vive. A autora repete a ideia várias vezes, em passagens como “consultaram todos menos as putas. O sujeito político a quem se dirigia a proibição nunca foi convidado a participar na tomada de decisões. Imaginam o escândalo que seria se numa concertação social chamassem especialistas de todo o tipo menos xs trabalhadorxs?”.

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