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Arquitectura de passagem – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 15, 2023

Tal como algumas pessoas imaginam que a ética é a política em pequeno, assim outras pessoas imaginam que a arquitectura é a decoração de interiores em grande. É verdade que a maior parte dos arquitectos faz coisas grandes e queria fazer coisas ainda maiores; e mesmo os que fazem coisas pequenas raras vezes as descrevem como pequenas. A sua inclinação professa é pôr ordem no mundo, arrumar tralha, deitar fora lixo e coisas antigas, e explicar como as pessoas devem viver. É por isso que tantos arquitectos têm ambições políticas; e que têm sempre ambições políticas de um certo tipo: o tipo grande.

Existe no entanto nas suas actividades uma ligação irremediável à pequena escala e ao uso, que, apesar das ideias que têm sobre o que fazem e das suas ambições sobre o que se deve fazer, lhes fixa os limites nos braços, nas mãos e nas pernas das pessoas comuns, que passam pela arquitectura como por vinha vindimada e lhes desarrumam tudo. Isso explica que as ideias, mesmo confusas ou más, dos arquitectos sobre as suas próprias actividades sejam quase sempre irrelevantes. Naturalmente há muitos arquitectos maravilhosos, que trabalham muito e muitas vezes trabalham bem; porém, como o resto de nós, nem sempre percebem exactamente aquilo que estão a fazer.

O ponto de vista do transeunte não é, para começar, um mau ponto de vista: passamos, arquitectos e não-arquitectos, todos os dias diante do resultado de actividades de arquitectos. São coisas em que normalmente não reparamos: escadas, luzes, canteiros, cidades, torneiras, botões, cadeiras, caminhos, cozinhas e vedações. Só reparamos neles quando magoamos uma mão, tropeçamos, torcemos um tornozelo, afastamos a cara, ou batemos com a cabeça. A medida da nossa aprovação é dada pela nossa ausência de atenção.

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