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nos bastidores da Altice Arena com Fernando Daniel – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 17, 2023

Chego pouco depois das cinco da tarde à Altice Arena, onde uma fila de cinquenta adolescentes já espera que as portas se abram. Estão ali desde manhã. Entro no recinto e, sentado ao piano, um rapaz mais novo do que eu, com a fotografia do avô ao lado, toca uma balada. Está ali desde as onze a ensaiar o concerto do princípio ao fim, para que o dia com que sonha desde puto corra tal e qual como o imaginava no seu quarto de adolescente em Estarreja. Testa o som, as luzes, a voz e até o que dirá entre cada cantiga. Ouço as duas últimas músicas do alinhamento e sigo com a comitiva para a zona dos meet and greets, onde conheço a Kika, uma das participantes do programa The Voice Kids que sonha chegar ao patamar do seu ídolo. Nem dois minutos depois, Fernando Daniel aproxima-se da fila onde umas centenas de fãs vestidas com cachecóis e T-shirts do cantor aplaudem e gritam o seu nome. A um canto da sala, o pai de Fernando assiste a tudo isto em silêncio, acompanhado do neto, o pequeno Diego, de onze anos, que dali a umas horas também subirá ao palco para cantar com o tio o refrão de uma das músicas mais aguardadas da noite.

O pai de Fernando Daniel trabalhou a vida inteira numa fábrica de automóveis. Sempre gostou de cantar mas era tímido. Fala comigo, responde a tudo o que lhe pergunto mas nem por um segundo desvia o olhar embevecido do filho. Lembra-me as noites em que chegava a casa, já com todos a dormir, e “ouvia o Fernando ensaiar, sozinho no quarto”. Só nesse momento percebo a importância do que está prestes a acontecer, uma importância que as pessoas com quem converso só me conseguem transmitir falando uma e outra vez do sítio de onde vieram.

Enquanto uma rapariga passa por nós a chorar baba e ranho depois de ter abraçado o cantor, o pai diz-me que no dia em que o Diego nasceu, o Fernando Daniel marcou um golo quase do meio-campo. O árbitro andou uns metros valentes a correr atrás dele, de amarelo em punho, para o punir por ter mostrado uma camisola onde dedicava aquele momento ao sobrinho. Ao ouvir isto, percebo que se o Fernando Daniel faz questão de cantar acompanhado do sobrinho talvez não seja por querer partilhar com os seus aquele momento mas antes por saber que isso o ajuda a marcar golões do meio da rua.

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