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Granada no Cais do Sodré – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 2, 2023

Soube da história, deliciosa, pelo “Isto é Gozar com quem Trabalha” (essa fonte informação de referência): um indivíduo azeri, de passaporte israelita, terá entrado na Portugália do Cais do Sodré e exibido o ecrã do telemóvel onde se lia a palavra “granada”. Preguiçosos: vêm atacar um país e nem se dão ao trabalho de aprender a dizer “granada” em português – ao menos, os artistas aprendem a dizer “obrigado”. Mas adiante: pânico. Gritos. Tensão. O terrorismo tinha, enfim, chegado à placidez lusitana. A escalada da tensão internacional finalmente rebentava na margem do Tejo. Porquê especificamente na Portugália? O bife já foi melhor, mas será motivo para tanto? Não bastava uma crítica no Google? E porque não o Ramiro? O Solar dos Presuntos? Ou um desses restaurantes para turistas que leva 15 euros por pastel de bacalhau e meia pensão por uma travessa de sardinhas?

Questões para mais tarde. Por agora, era preciso actuar. Veio a polícia, o Ministério Público, a PJ. O malfeitor, mostra o vídeo amador partilhado pela CMtv, foi imobilizado no chão do belo Cais do Gás e, presume-se, revistado… Afinal, não havia granada nenhuma. O homem de 36 anos, turista, ter-se-ia sentido mal e entrado no restaurante para pedir uma romã. Não sabendo português, escreveu em russo no telemóvel o que a aplicação entendeu traduzir por “granada”. Tudo um mal-entendido divertido. Estávamos a salvo. Podiam continuar a sair os bifes com molho de manteiga. Ainda não era desta que eram postas à prova as certamente notáveis capacidades de defesa da pátria ao dia de hoje.

O tradutor automático tem sido dado como culpado do caso, o bobo de uma história de travo exótico, mas a acusação parece leviana. Não era preciso um azeri a teclar em russo nem a má fama dos tradutores digitais para suceder tal qui pro quo; bastaria um vizinho espanhol levantar o braço e pedir em voz alta uma fruta para sobremesa. Sim, “romã”, em castelhano, diz-se “granada”, tal como em francês se diz “grenade” e em inglês “pomegranate”, todos derivados do longínquo latino “malum granatum”, que é como quem diz, maçã granulada. Ou seja, as sementes do fruto são, neste caso e como sempre, a origem de todo o mal – e de todo o bem. Não é a romã que se diz “granada”; é a granada que recebeu o nome da romã por perversa similitude física com aquela inocente maravilha.

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