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No palco, Marco Mendonça quer mostrar como o blackface em Portugal “não é uma coisa pontual, não é uma coisa rara” – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 15, 2023

Pintar a cara de preto para imitar artistas, representar pessoas racializadas ou servir como disfarce carnavalesco já levou a pedidos de desculpa públicos de líderes mundiais. A condenação é, para alguns, um capricho da geração woke, uma obsessão da brigada do politicamente correto. Para outros, a maquilhagem é uma representação sorridente do período da escravatura e racismo estrutural. E tem um nome: blackface.

O termo dá título ao monólogo que o ator e criador Marco Mendonça apresenta no TBA — Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, desta sexta-feira (17) a domingo (19). Blackface é uma das peças-fenómeno desta edição do Festival Alkantara, certame que conjuga disciplinas das artes performativas, a decorrer na capital até 26 de novembro. As três récitas esgotaram várias semanas antes da estreia.

É o primeiro espetáculo a solo do ator de 28 anos, que assina a direção artística do espetáculo (com Bruno Huca no apoio à criação e Gisela Casimiro no apoio à dramaturgia). “O rescaldo do que aconteceu ao George Floyd, aquela onda internacional de solidariedade e protesto, fez-me pensar que, enquanto potencial criador no tecido teatral português, me interessava falar sobre isto.” Nos últimos dois anos, lançou-se numa profunda investigação sobre o tema e mergulhou nas raízes desta prática que remonta aos “minstrel shows” dos Estados Unidos de finais do século XIX, em que atores brancos se disfarçavam de negros, maquilhando a cara com carvão de cortiça queimada e graxa, representando de forma simplista e pejorativa pessoas africanas e afro-descendentes. “Comecei a investigar, a perceber a origem, a altura em que se tornou popular, que eventualmente terá sido importado para a Europa e a ser mais notório cá”, recorda ao Observador. “Foi a parte interessante desta descoberta: perceber que em Portugal, afinal, fazia-se e faz-se blackface muito mais do que pensava.” O blackface “não é uma coisa pontual, não é uma coisa rara” e “mesmo sendo uma coisa bem intencionada, está a mexer com uma violência histórica”, argumenta.

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