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As pessoas com deficiência e o trabalho, uma conciliação rentável – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Dez 3, 2023

Apesar de não ter a notoriedade de outros “dias mundiais”, no dia 3 dezembro celebra-se o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. Esta invisibilidade também é refletida no orçamento de Estado de 2024, tanto nas verbas atribuídas como na ausência da menção a pessoas com deficiência, com exceções menores. A nota explicativa do Ministério do Trabalho e da Segurança Social associada a este documento também é vaga, sem verbas nem prazos mencionados. Contudo, infelizmente, a falta de propostas não se deve a tudo já estar feito.

Veja-se o caso do emprego. Na Europa (!), segundo o relatório de 2018 da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Desenvolvimento e Deficiência, existe uma diferença de 19 pontos percentuais na taxa de desemprego entre as pessoas sem deficiência e as pessoas com deficiência (não havendo necessidade de mencionar qual o grupo que tem uma maior taxa de empregabilidade).

Este fosso pode levar a pensar que existe uma maior incapacidade para o trabalho das pessoas com deficiência. Mas existem inúmeros casos em Portugal que contrariam este pensamento. A título de exemplo referem-se os casos de sucesso da Ana Sofia Martins (paraplégica) antiga arquiteta de Câmara Municipal de Setúbal e que atualmente tem o seu próprio projeto de viagens inclusivas intitulado Just Go by Sofia; Carolina Gameiro (hemiparesia e epilepsia) recursos humanos da Primedrinks; Catarina Oliveira (paraplégica) nutricionista e consultora em diversidade e inclusão; Daniel Maia (síndrome de Down) serviço de mesas no McDonalds; David Peres (tetraplégico) médico no hospital de Matosinhos; Leonor Belo (síndrome de Down) atriz; Paulo Jorge (surdo e com visão reduzida) informático no Instituto dos Vinhos do Douro do Porto; Ricardo Teixeira (tetraplégico) empresário de sucesso na área tecnológica e outras. Também me incluo no grupo de felizardos a quem foi dada uma oportunidade de trabalho. O mesmo não podem dizer muitos, muitos mais, como o Filipe Cardoso (défice cognitivo e baixa visão) que apesar de estar qualificado para o trabalho de restauração, sem contato com o público, ainda não conseguiu alcançar o seu sonho.

A muito grande maioria das pessoas com deficiência, independentemente do tipo de deficiência, tem capacidade de trabalhar, desde que devidamente enquadrada numa atividade, que pode ser muito diversa, como se retira dos exemplos mostrados. Por vezes, a dificuldade em encontrar um emprego compatível deve-se ao desfasamento que existe entre as competências do potencial empregado e das necessárias para desenvolver o cargo profissional.

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É verdadeiramente estranho constatar o estado atual no final do ano que viu nascer o interesse pelo Chat GPT e em que as possibilidades tecnológicas são praticamente infinitas para todas as aplicações. Mais estranho ainda quando o Banco Mundial publicou um documento intitulado “Tirar partido das lições da crise da COVID-19 para os alunos com deficiência” onde inclui o tema “COVID-19: Uma oportunidade para repensar a aprendizagem à distância com uma perspetiva de inclusão” e a ONU tem definido dentro do seu quarto objetivo de desenvolvimento sustentável a equidade da educação de qualidade, incluindo pessoas com deficiência.

Existem, porém, empresas e associações que tem estado a trabalhar para formar, utilizando meios tecnológicos e telemáticos, as pessoas com deficiência e conseguir colocá-las no mercado de trabalho. Entre elas encontra-se a portuguesa Humanwinety (de que faço parte).

Para concluir e após esclarecer que existem recursos humanos e tecnologia para empregar as pessoas com deficiência, falta desconstruir que as pessoas com deficiência são menos produtivas do que as outras. O relatório de 2018 sobre sustentabilidade da Accenture refere que as empresas que seguiram as melhores práticas para a inclusão da deficiência obtiveram uma média de 28% mais receitas, o dobro do lucro líquido e margens de lucro económico 30% mais elevadas, em comparação com as que não o fizeram. Um trabalho da Deloitte Australia concluiu que as equipas inclusivas superam os seus pares em 80% nas avaliações em equipa. Convencido? Quando será a vez da sua empresa dar o passo?



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