“Fingir não é o meu forte”. Isabel Ruth descreve-se assim na legenda de uma fotografia na página 93 da sua autobiografia, publicada pela editora Guerra & Paz, em 2006. Está de braços cruzados e um olhar que denuncia a mesma franqueza com que, em entrevista ao Observador, fala sobre o filme Os Verdes Anos (1963), que a 29 de novembro cumpriu exatamente 60 anos sobre a estreia. Eis uma atriz pouco dada a fingimentos.
Dela não esperem que suavize o que foi mais do que um “estado de graça”: “Eu não fazia ideia do que era fazer cinema”. Os Verdes Anos é a primeira obra de Paulo Rocha (1935-2012) e o vislumbre de uma atriz então desconhecida. Na fita, Isabel Ruth afirma-se, nas palavras de Bénard da Costa, como “o primeiro grande nome do Cinema Novo” (Histórias do Cinema, Imprensa Nacional, 1991), personificando, aos olhos de uns, a complexidade da luta de classes, e, aos olhos de outros, o inconformismo de uma jovem mulher (Ilda) que desafia as expectativas que lhe são delineadas.
Oh Ilda
Quem te mandou ser atrevida
Ter ambições, fazer-te à vida?
(…)
Para quê emigrar, partir
Não te chegava a pátria inteira para servir?”
– Versos de A Sopeirinha, em Fotopoesia, autobiografia de Isabel Ruth, Guerra & Paz, 2006
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