Paul King, o realizador dos dois Paddington, assina esta “origin story” sobre Willy Wonka, o herói fabricante de chocolates mágicos do livro de Roald Dahl Charlie e A Fábrica de Chocolate, já filmado por duas vezes, a primeira por Mel Stuart com Gene Wilder em 1971, a segunda por Tim Burton com Johnny Depp, em 2005. Interpretado pelo sobrevalorizado Timothée Chalamet, Wonka é uma confeção fantástico-musical levezinha e bastante açucarada de sentimento (o que Roald Dahl teria detestado), que acena na direção do filme de Wilder (usa mesmo uma das canções deste na banda sonora — a única que se destaca, aliás…), mas não adianta praticamente nada em relação à personagem principal em termos de caracterização, nem constrói um mundo tão consistente e elaborado como os das fitas de Stuart e sobretudo de Tim Burton, apesar do recurso intensivo aos efeitos digitais. Atores como Rowan Atkinson e Sally Hawkins surgem subaproveitados em papéis secundaríssimos. Se fosse chocolate, Wonka era daquele feito industrialmente, com uma embalagem colorida mas demasiado doce e insípido, sem recheio.
Depois de quase 30 anos sem fazer uma longa-metragem de ficção, o octogenário cineasta espanhol Víctor Erice (O Espírito da Colmeia), regressa ao formato apenas pela quarta vez com Fechar os Olhos. Um programa de televisão sobre o misterioso desaparecimento, na década de 90, de Julio Arenas, um famoso ator que rodava um novo filme, vem reacender o interesse pelo caso, e tirar da sua semi-reclusão o realizador, Miguel Garay, que nunca mais fez nada no cinema e vive de traduções e da venda ocasional de contos. Pausado e melancólico, com personagens idosas que puseram de parte as ambições, falharam as suas vidas ou desistiram delas, e de coisas anacrónicas ou cada vez menos usadas (incluindo o celuloide), Fechar os Olhos é uma espécie de “thriller” da terceira idade, que associa o cinema com a memória e a identidade, indubitavelmente bem executado em todos os aspetos, incluindo o uso do tempo longo, embora algo distante e rebuscado, e cultivando uma cinefilia requentada. E que nos faz perguntar: não haverá um excesso de condescendência reverente em redor da figura de Víctor Erice?
Depois do seu remake de Assim Nasce uma Estrela com Lady Gaga em 2018, Bradley Cooper realiza e interpreta Maestro. É um filme biográfico que está mais interessado na intimidade do lendário Leonard Bernstein, nas suas contradições sexuais, sentimentais e conjugais, referidas ao seu casamento com a atriz Felicia Montealegre (personificada por Carey Mulligan), que lhe aturou até à morte a promiscuidade de bissexual incansável, e os vexames sociais e domésticos ocasionais, do que na sua vertente artística e cultural de compositor de bailados, óperas e musicais da Broadway, músico, maestro, divulgador e pedagogo, vencedor de vários Grammys e Emmys, e detentor de álbuns de ouro e de platina. Maestro foi escolhido pelo Observador como filme da semana e pode ler a crítica aqui.