2024 foi um ano político extraordinário a nível nacional e internacional. Em Portugal, o ano fica marcado pelo fim de reinado de António Costa, após nove anos como Primeiro-ministro, cujo mandato começou com o apoio da extrema-esquerda e terminou com a apreensão de mais de € 75 mil em notas na residência oficial do primeiro-ministro, precedido de vários casos de corrupção no seio do governo.
Caso para dizer: “o que nasce torto tarde ou nunca se endireita.” E mais uma vez, a governação socialista deixa pesada herança ao sucessor, quer com uma administração pública descapitalizada e desmotivada, mas também com a polarização politica dos extremos, advindo da má governação e deriva ideológica do Partido Socialista.
Porém, as legislativas de março de 2024 não se ficaram pela mudança de governo e Primeiro-ministro. O CHEGA, sob a liderança de André Ventura salta de um deputado eleito em 2019 para 12 em 2022, e pasme-se (!!!) 50 em 2024, com mais de um milhão de votos. Sinal, mais do que claro, de um eleitorado ávido de mudança.
Mas o ano político de 2024 fica sem dúvida marcado pela eleição de Donald Trump numa das eleições mais aguardas e acompanhadas das últimas décadas em terras do Tio Sam.
Sobrevivente a uma série de polémicas em que se viu envolvido — nomeadamente a invasão do Capitólio em janeiro de 2021 –, o facto é que, mais do que uma vitória de Trump, estamos a falar de uma monumental derrota do Partido Democrata, e do mainstream do politicamente correto, não só na América, mas um pouco por todo o mundo, que insistiu em levar a candidata Harris ao colo, com base na política identitária, que tem vindo a marcar a linha orientadora do partido nos últimos anos.
Apesar do dobro da verba angariada, do apoio de peso da fina flor da sociedade norte-americana, e dos media, Kamala Harris perdeu em toda a linha. Trump venceu no voto popular, colégio eleitoral (todos os swing states), Senado e Congresso, já para não mencionar a maioria dos juízes conservadores no Supremo Tribunal.
Caso para perguntar: que terramoto político este?
À revelia da Vox Populis, tem sido penoso, salvo raras exceções, o comentário político na nossa praça com protagonistas, que vivendo na sua bolha, encontram-se totalmente arredados da realidade do cidadão comum.
Importa recordar que já em 2016, contra todo o establishment, Donald Trump havia vencido Hillary Clinton, deixando o mundo estupefacto. Ou seja, já na altura pairava no ar um certo descontentamento do eleitorado americano após oito anos de governação Obama.
A estratégia democrata, na senda da política identitária, ao indicar uma mulher e negra para atacar um “racista, xenófobo e misógino” não vingou. Por razão simples; Harris foi sempre uma candidata de facção, não a candidata com visão nacionalista, na resposta à matriz identitária que faz dos Estados Unidos a maior potência do mundo.
À larga maioria dos norte-americanos não interessa a questão fraturante do aborto, mas sim mais emprego, dinheiro no bolso e segurança.
Após anos de suporte ao wokismo e afastamento do eleitor comum, na ditadura das minorias contra a maioria, a candidata Harris, para além de um sorriso estonteante (curiosamente agraciado por Putin) — nada mais tinha a oferecer ao eleitor americano do que causas fraturantes, como a interrupção voluntária da gravidez.
A América é mais do que isto, não admirando que a relatividade moral progressista de Harris foi copiosamente derrotada pelo pragmatismo conservador de Trump.
Mas se o wokismo de Kamala Harris foi derrotado sem apelo nem agravo nos Estados Unidos outra mulher negra marca o ano político de 2024, pela positiva.
Pela primeira vez na história da política inglesa uma mulher negra é eleita líder do partido conservador, contrariando a génese do wokismo, que aponta o homem branco e heterossexual como todo o mal do mundo, criando profundas divisões no seio do mundo ocidental, através da política do cancelamento. Badenoch é a antítese de tudo isto. É a precursora do virtuosismo conservador de Scruton: “na defesa que as coisas virtuosas são facilmente destruídas, mas não facilmente criadas. E das coisas virtuosas falamos de bens colectivos como a paz, a liberdade, lei, civilidade, espírito público, a segurança da propriedade e da vida em família, tudo aquilo que dependemos da cooperação dos outros, não tendo meios de o obter sozinho”.
Mais: defensora da memória coletiva de um povo, de uma história, de uma cultura, de uma identidade, com a qual se identifica, mas que acima de tudo respeita e defende, a antítese de tudo aquilo que o wokismo, alimento do partido democrata nos Estados Unidos nos últimos anos pretendeu destruir. Aliás, a monarquia britânica foi um dos alvos preferidos dos woke, enquanto expoente máximo da instituição do homem branco colonialista e imperialista.
Mas quem é Badenoch?
“Cresci num sítio onde as luzes não acendiam, onde ficávamos frequentemente sem combustível, apesar de o país ser produtor de petróleo”.
Filha de pais nigerianos, nasceu em Wimbledon, tendo posteriormente regressado à capital inglesa para viver. Reza a história que terá chegado a Londres com apenas € 100 onde limpou casas de banho e “virou hambúrgueres” no McDonald’s para sobreviver. Ao contrário de muitos outros afrodescendente Badenoch não se ficou por aqui. Sabia ao que ia.
Investiu em si e ganhou competências, licenciando-se na Universidade de Sussex em Engenharia Informática, seguido de mestrado na mesma área. Fez o duro caminho que muitos ainda olham como miragem na realidade dos afrodescendentes a viverem na Europa. Caminho que exige empenho, foco e determinação, em detrimento do caminho fácil ou, processo de vitimização.
Numa entrevista à LBC, e instada a pronunciar-se sobre o racismo institucional no país, afirmou que apenas havia sofrido preconceito por parte dos esquerdistas, a quem terá apelidado de estudantes “arrogantes”, que descreveu, numa entrevista à The Spectator, como membros de uma “elite urbana, muito mimada, com direitos e privilegiada”, porventura, alguma similaridade com os “queques que guincham” de António Costa.
Tem Margaret Tacher como uma das suas referências políticas o que revela engajamento com ideologia política a iniciativa privada, lealdade à identidade do povo britânico, assente na manutenção das suas instituições sociais, incluindo a religião, a monarquia, os direitos de propriedade, e a hierarquia social, enfatizando a estabilidade e a continuidade, na defesa da civilização, em defesa da memória colectiva.
Casada com um inglês e mãe de três, Kemi foi à luta nas “guerras culturais”, chegando a líder do Partido Conservador. É respeitada não pela sua cor da pele, ou por ser mulher, mas acima de tudo pela forma como pensa. Ou seja, a típica negra emancipada que a esquerda despreza.
Mas a problemática não passa apenas pela filiação e adesão à cidadania junto dos países de acolhimento. Para além das necessárias condições de acolhimento, a atitude paternalista das esquerdas sobre as minorias, na demanda wokista da eterna procura da justiça social, tem sido forte entrave à emancipação das comunidades imigrantes menos escolarizadas.
A este propósito dizia Scruton que a troco de uma política “inclusiva” os governos de esquerda têm marginalizado o património dos nossos costumes e crenças para: “que todos se sintam em casa, independentemente de qualquer esforço que possam fazer para se adaptarem ao seu novo ambiente”. E que “em nome do politicamente correcto que nos incita a sermos tão “inclusivos” quanto pudermos, a não discriminarmos, em pensamentos, palavras ou acções, minorias étnicas, sexuais, religiosas, ou de comportamentos. E para sermos inclusivos somos obrigados a abdicar daquilo que é nosso. A receita para o desastre a que chegamos. Este tem sido um dos maiores erros das políticas de imigração na Europa, secundado pelo pessimismo antropológico de Espinoza.
Assim, não foi de se estranhar a reação de alguns comentadores aqui do burgo sobre a eleição de Badenoch. A título de exemplo, Carmo Afonso veio dizer que: “quando uma mulher negra chega à liderança de um partido conservador, sei que não pode ter as características que me fariam celebrar a proeza”. Really ?
Para quem se apresenta como defensora das mulheres, das minorias, e da liberdade como a “coisa mais cara da vida” a declaração de Carmo Afonso é, no mínimo, uma enorme hipocrisia a estes pressupostos.
Para além da consideração paternalista a declaração carrega um certo sentimento de repulsa pelo negro que fora da coutada do pensamento único de esquerda se integra, se forma, mas que acima de tudo ganha consciência fora do pensamento de vitimização que faz parte do core bunissess canhoto: quanto mais ignorantes e dependentes, melhor.
E esta consideração ganha mais repulsa tratando-se de uma mulher. Aonde fica a tal solidariedade feminina para quem contrariaria o seu destino? Para com quem, que por fruto do seu esforço, contraria todas as fatalidades inerentes à sua condição de mulher e negra, em terra do homem branco conservador?
Porque liberdade Carmo Afono é termos a possibilidade para seguirmos o que quisermos, e não o que, em função da nossa cor da pele, determinado pensamento ideológico nos obrigue a seguir. Esse é outro tipo de racismo. Pois no dia em que a comunidade afrodescendente se libertar desse grilhão de paternalismo será mais do que meio caminho andado para um mundo melhor.
Até lá, Badenoch vai sendo a luz na escuridão do wokismo ainda vigente por esse mundo ocidental.
Que nunca se apague.
A todos, um bom 2025!