Um psiquiatra é um médico especializado em psiquiatria, ou seja, especialista em doença mental. Dedica-se ao diagnóstico e tratamento de perturbações mentais, emocionais ou comportamentais.
Um psicólogo é um profissional com formação em psicologia, a ciência que estuda o comportamento humano, os processos cognitivos e emocionais. Os psicólogos clínicos são especializados em intervenções em saúde e doença mental, fazendo avaliação e intervenção psicológica.
Apesar de ambos lidarem com perturbações mentais (como a depressão, ansiedade, perturbação bipolar, perturbação borderline, a esquizofrenia ou as dependências, entre outras), as formas de atuação e intervenção são diferentes. “O modelo do médico é sobretudo biológico e o do psicólogo clínico é um modelo psicológico”, explica o psiquiatra João Parente.
Um psiquiatra, depois de completar os seis anos do curso de medicina e um ano de internato comum, tem cinco anos de formação específica em psiquiatra, que inclui estágios práticos em várias áreas da psiquiatria, como internamento de adultos, Perturbações da Adição ou Psiquiatria Geriátrica, e implica também a realização de consultas externas e de serviço de urgência.
Um psicólogo tem cinco anos de formação pós-graduada em Psicologia — licenciatura e mestrado integrado — fazendo depois um estágio profissional ou ano profissional júnior, obrigatório para aceder ao exercício da profissão. Para os psicólogos que escolhem especializar-se em Psicologia Clínica e da Saúde, Psicologia da Educação ou Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações, isso implica cerca de mais quatro anos de prática profissional numa área específica, acompanhados de formação, supervisão e outras atividades relevantes, como investigação ou apresentações em eventos científicos ou profissionais.
Sim. O psiquiatra faz uma avaliação médica, o que significa que, além de recolher a história clínica, familiar e avaliar os sintomas — num processo chamado anamnese — tem capacidade para efectuar um “diagnóstico de exclusão”, ou seja, verificar, se os sintomas do paciente não se devem a uma condição física que tenha impacto no seu estado mental, como um desequilíbrio hormonal ou um problema neurológico. Sendo médico, lembra João Parente, o psiquiatra “pode solicitar exames complementares de diagnóstico, como análises ao sangue, à urina, e exames de imagem como a TAC ou a ressonância magnética”.
Já o psicólogo (que não pode solicitar exames de diagnóstico diretamente) vai fazer uma avaliação psicológica, ou seja, vai focar-se detalhadamente em aspetos relacionados com a maneira como a pessoa pensa, com as suas emoções, comportamentos, hábitos de vida, crenças e relações interpessoais, identificando questões problemáticas do funcionamento psicológico.
Sim. Tanto o psiquiatra como o psicólogo estabelecem um plano de tratamento, com base na avaliação que fazem. Mas o psiquiatra pode incluir no plano de tratamento a “prescrição de medicamentos ou outro tipo de tratamentos, como a electroconvulsivoterapia, a Estimulação Magnética Transcraniana e, mais recentemente, o Tratamento Assistido por Psicadélicos, nomeadamente ketamina”, diz João Parente.
Já o psicólogo clínico “ajuda o paciente no seu autoconhecimento, na exploração e compreensão da perturbação, na auto-regulação emocional, nas estratégias de ‘coping'[enfrentamento], nas suas escolhas e tomadas de decisão”, diz a psicóloga clínica Chantal Feron. As técnicas de intervenção que o psicólogo usa dependem do tipo de psicoterapia em que é treinado. Uma vez que não é médico, o psicólogo não prescreve medicação, mas pode aconselhar o paciente a procurar um psiquiatra para que este faça uma avaliação.
Sim. É frequente trabalharem em equipas multidisciplinares e, mesmo quando isso não acontece, muitas vezes o psiquiatra encaminha o paciente para seguimento em psicologia e o psicólogo sugere uma consulta de psiquiatria.
“A interação e o encaminhamento de parte a parte é de extrema importância em certas perturbações, possibilitando uma melhor e mais eficaz intervenção”, diz a psicóloga clínica Chantal Feron.
O que pode ajudar a tomar essa decisão é a gravidade da situação. Há perturbações mentais que podem ser acompanhadas e tratadas por um psicólogo — como sintomas de ansiedade ligeira, fobias ou sintomas depressivos leves. Outras, mais graves e com maior impacto no funcionamento da pessoa, exigem a intervenção de um psiquiatra porque podem implicar medicação ou outras abordagens de diagnóstico.
“Idealmente, os casos de psicose ou depressão muito grave, bem como episódios maníacos, deveriam ser vistos, em primeiro lugar, preferencialmente, por psiquiatras”, explica João Parente. No entanto, o médico também refere que, nestes casos, quando se procura a ajuda de um psicólogo clínico primeiro, “este referencia-o imediatamente para uma consulta de psiquiatria, frequentemente em contexto de Urgência”.
“Ambos trabalham com o objetivo do alívio do sofrimento e a promoção do bem-estar psíquico”, explica a psicóloga clínica Chantal Feron. Além disso, acrescenta o psiquiatra João Parente, “ambos têm como objeto de estudo e de intervenção o ser humano, no que diz respeito ao intelecto, às emoções, ao pensamento, à consciência de si próprio, às relações com os outros”, embora com modelos diferentes.
Além disso, há aspetos em que tanto a intervenção como os cuidados de psiquiatras e psicólogos se complementam. “Na intervenção familiar e psicoeducação, por exemplo”, diz João Parente, na articulação com o serviço social, e naquela que é sempre uma das grandes bases de intervenção, “na construção de uma relação empática e de mútua confiança com o paciente, sem a qual dificilmente qualquer plano terapêutico, mesmo que bem delineado, chegará a bom termo”.
No caso dos médicos psiquiatras, as competências são reconhecidas pela Ordem dos Médicos. Através do site da instituição, qualquer pessoa pode ver se um profissional é reconhecido como médico especialista em psiquiatria.
No caso dos psicólogos, é a Ordem dos Psicólogos Portugueses que regula o exercício da profissão, tendo também um directório dos seus membros, onde é possível ver quem está inscrito como psicólogo e quais as especialidades que tem.