O concerto no Teatro Académico Gil Vicente (TAGV) da banda formada em 1995 não será apenas para celebrar uma efeméride — o grupo nunca teve paciência para comemorar “uma coisa que não existia” —, mas para assinalar um reencontro efetivo dos Belle Chase Hotel, que preparam o lançamento de um novo álbum este ano.
“Nunca houve paciência para as efemérides. Cada um foi para o seu lado, tocávamos esporadicamente, mas não havia paciência para comemorar uma coisa que não existia”, disse à agência Lusa JP Simões, membro da banda.
Em 2022, houve um reencontro do grupo, promovido pela editora conimbricense Lux Records, que lançou uma música inédita dos Belle Chase Hotel nesse ano, em formato ‘single’, antevendo-se, já na altura, a possibilidade de o grupo voltar a estúdio para criar o sucessor de La Toilette des Étoiles, segundo e último disco da banda, editado em 2000.
Um desafio da produtora e agência Produtores Associados de pegar na banda levou JP Simões e Pedro Renato a considerar relançar a banda.
“Para mim, nunca fez sentido esta coisa de abanar uma coisa morta. Percebemos que gostávamos da ideia de voltarmos a trabalhar juntos e decidimos preparar um disco novo”, afirmou JP Simões.
Para o músico, se calhar Belle Chase Hotel ainda soam “a anos 90, mas há muita coisa dos anos 90 que ainda soa bem”.
Já há algumas músicas compostas, mas JP Simões afirma que ainda é cedo para dizer como será o álbum, que ainda só está a ver “o começo e não o fim do disco”.
“Estamos no início do retorno à viagem, mas mantêm-se algumas coisas. O Pedro Renato é um ourives da música, que gosta de fazer as coisas muito detalhadamente, e eu pego no que ele faz e, de certo modo, vou perverter. Isso mantém-se, mas desde que a banda desapareceu, produzi dezenas de discos e sou outra pessoa e acabo por ter um papel mais presente na produção”, aclarou.
Muda também o facto de todos os elementos estarem “mais velhos” e, talvez, as coisas “possam ser menos caóticas”, mas JP Simões nota que, desde que voltou a trabalhar para os Belle Chase Hotel, também viu ressurgir “o existencialismo auto-irónico” da banda.
“É provável que seja a mesma banda, mas feito por pessoas um pouco mais velhas”, constatou.
Também para Pedro Renato, as músicas acabam por ter “uma roupagem nova”, mas os ambientes de Belle Chase Hotel e a sua matriz mantêm-se.
“Os Belle Chase Hotel são um conjunto de pessoas com formações e gostos diferentes, em que sempre tentámos ser um bocadinho livres nas abordagens das músicas e não estarmos vincados a um só estilo musical”, salienta.
Para o guitarrista, a banda tem agora uma abordagem “mais prática”.
“Estamos mais velhos e, por isso, sabemos para onde devemos ir e que pesos mortos descartar. Nesse aspeto, estaremos mais sábios e as coisas que fazemos são mais simples, mais apuradas, mais estilizadas, mas com os mesmos ambientes”, com referências a géneros como a ‘exotica’ (género popularizado nos anos 50 e 60 em que se fantasiavam ambientes pseudo-tropicais por artistas ocidentais), bandas sonoras de filmes de série B, o ‘easy listening’, jazz, pop e rock, referiu.
Em relação à formação original, mantêm-se, para além de JP Simões e Pedro Renato, Raquel Ralha, Antoine Pimentel, Sérgio Costa e Luís Pedro Madeira.
O baixista e cofundador da banda, João Baptista, morreu em 2020, sendo substituído por Miguel Duarte.
“Agora também não temos violinista e saxofonista, que tínhamos na altura”, aclarou Pedro Renato.
Depois do concerto em Coimbra, produzido pela Lux Records a banda conta ainda tocar, pelo menos, no Porto e em Lisboa, para assinalar os 25 anos de Fossanova, lançado em 1998, esperando ainda regressar à cidade onde se formaram no final do ano, para apresentar o novo disco.