A opinião prevalecente é que os factos já conheceram melhores dias. Evocam-se os tempos em que as pessoas se interessavam por aquilo que era o caso antes de dizerem o que achavam que era o caso. Hoje parecem ter uma inclinação para a falsidade: acreditam no que ouvem, naquilo que os outros lhes dizem, e consultam as suas consciências com à-vontade; fazem pesquisas pelo telefone, confiam nas suas sensações, e gostam só de se dar com quem tem hábitos parecidos. Não admira que tenham dúvidas sobre aquilo que não suscita dúvidas, e certezas sobre aquilo que não é o caso.
Deplorar a falta de respeito pelos factos é no entanto sobretudo deplorar a falta de respeito por frases que eu respeito. O meu respeito por essas frases, mais coisa menos coisa, veio também de coisas que ouvi, de coisas que outras pessoas me disseram, de consultas ocasionais dessa entidade misteriosa conhecida por consciência, de comoções sensoriais, e mesmo de pesquisas por conta própria. Quando se deplora a tirania da opinião podemos simpatizar com a indignação; mas nunca a conseguiremos derrubar com um exército de factos: para quem não tem a nossa opinião, os nossos factos são soldadinhos de chumbo. Acresce que não é prático proibir a falsidade, nem saberíamos como tal se faz.
Quando deploramos a falta de respeito por frases que respeitamos estamos a exprimir uma opinião compreensivelmente desfavorável sobre o facto de alguém não concordar connosco ou não nos ligar nenhuma. Gostaríamos que todos concordassem connosco, pelo menos a respeito das frases que respeitamos. Esse desejo de concordância é todavia um desejo; e a sua expressão é uma opinião: é, mais concretamente, uma opinião a favor das nossas opiniões.
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