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Foi despedido por causa de Neymar, treinou 20 clubes, foi jogador de Scolari. Dorival Júnior, o selecionador que só fazia “feijão com arroz” – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Jan 8, 2024


Dorival Júnior não teve muito tempo para pensar. Na passada sexta-feira, na sequência de um período particularmente pouco conseguido desportivamente, a Confederação Brasileira de Futebol decidiu dispensar Fernando Diniz e convidar o treinador do São Paulo para assumir o cargo de selecionador nacional. Dois dias depois, o São Paulo anunciou a mudança — afinal, ninguém precisa de muito tempo para aceitar a concretização de um sonho.

“É a realização de um sonho pessoal que só foi possível porque tive o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido no São Paulo. Tenho de agradecer por ter feito parte deste importante período de reconstrução, liderado com competência pela presidência e pela direção. Agradeço também à torcida por todo o carinho e apoio”, referiu o treinador brasileiro de 61 anos, em declarações divulgadas pelo próprio São Paulo.

Sem que a Confederação Brasileira de Futebol tenha ainda confirmado oficialmente a informação, é agora completamente certo que Dorival Júnior vai substituir Fernando Diniz — que estava a acumular o cargo de selecionador nacional com o comando técnico do Fluminense. Natural de Araraquara, estado do interior de São Paulo, o treinador foi o eleito depois de o eterno favorito Carlo Ancelotti ter decidido renovar com o Real Madrid. E terá como primeiro grande desafio a Copa América que arranca no final de junho.

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Mas antes de ser treinador, Dorival Júnior foi jogador — ou melhor, Júnior foi jogador, já que só utilizava o apelido e deixava o nome próprio para trás. Começou no Atlas e no Marília, mas foi na Ferroviária que completou a formação e que acabou por se estrear profissionalmente como médio. Depois disso, assumiu um verdadeiro estatuto de globetrotter que é muito comum no Brasil: representou 10 clubes diferentes ao longo de uma carreira de quase duas décadas, sublinhando-se a conquista do Campeonato Gaúcho em 1993 enquanto era orientado por Luiz Felipe Scolari.

Com formação em Educação Física, a decisão de se tornar treinador foi algo que surgiu com naturalidade. Estreou-se praticamente em casa, com a Ferroviária, e repetiu como técnico o que tinha cumprido como jogador — desde 2002, em pouco mais de duas décadas, orientou 20 clubes diferentes e passou por Vasco da Gama, Palmeiras, Fluminense e Atl. Mineiro, entre muitos outros. Mas só na primeira passagem pelo Santos, porém, é que se tornou um dos principais protagonistas do futebol brasileiro.

Dorival Júnior aterrou no Santos em 2009, pouco depois de conseguir devolver o Vasco da Gama à Série A, e assumiu uma equipa extraordinariamente ofensiva que contava com Neymar, Robinho e Ganso. Conquistou o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil, mas depressa se percebeu que seria vítima do mediatismo dos próprios jogadores. Depois de uma discussão inicial com Ganso, que se recusou a ser substituído num jogo e permaneceu em campo até ao apito final, o treinador acabou por ser o elo mais fraco de um desentendimento com Neymar.

Num jogo contra o Atl. Goianiense, com o Santos a beneficiar de uma grande penalidade, Dorival Júnior indicou para dentro de tempo que não seria Neymar a converter o castigo máximo — algo que deixou o avançado visivelmente irritado, acabando mesmo a discutir com o treinador em pleno relvado. Na altura, a imprensa brasileira revelou que a fúria de Neymar continuou já no balneário, com o jogador a atirar mesmo um copo a um dos adjuntos. Na conferência de imprensa, Dorival Júnior garantiu que o avançado não iria jogar a partida seguinte, um Clássico contra o Corinthians. Resultado? Foi despedido pela direção do Santos, que considerou a atitude uma “insubordinação”.

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O treinador brasileiro conquistou a Taça Libertadores com o Flamengo em 2022

Mas o assunto não ficou arrumado e as semanas seguintes trouxeram mais pormenores. Na altura, o jornal desportivo Lance! revelou que durante a temporada Neymar e outros jogadores do plantel tinham recebido várias mulheres num hotel onde estavam hospedados na antecâmara de um jogo contra o Grémio. Dorival Júnior soube, tendo sido informado através das imagens das câmaras de vigilância do hotel, e pediu castigos. A direção recusou, num capítulo que foi o início da queda do treinador e que pode tornar-se novamente relevante quando jogador e agora selecionador se reencontrarem na seleção.

A década seguinte voltou a ser um autêntico périplo por vários clubes brasileiros, com Dorival Júnior a acabar por assumir o rótulo de “bombeiro” das equipas que estavam em dificuldades para garantir a manutenção na Série A ou carimbar a promoção a partir da Série B. Com o passar dos anos, tornou-se o treinador que fazia “feijão com arroz” — ou seja, que cumpria, mas nunca era extraordinário. Até que chegamos a 2022.

Depois do bom trabalho no Ceará, para onde também foi contratado para reanimar a equipa depois da eliminação da Copa do Nordeste, Dorival Júnior foi o escolhido pelo Flamengo para substituir Paulo Sousa, que se tinha tornado no mais recente nome engolido pela memória do sucesso de Jorge Jesus. No Rio de Janeiro, conquistou a Taça Libertadores e a Taça do Brasil, alcançando os degraus mais altos da carreira e deixando para trás o rótulo de “bombeiro”.

Ainda assim, os títulos não chegaram para se manter no cargo no ano seguinte, acabando por rumar ao São Paulo, onde repetiu a conquista da Taça do Brasil e conseguiu merecer a confiança da Confederação Brasileira de Futebol para ser o novo selecionador nacional. Afinal, o cozinheiro que só fazia “feijão com arroz” soube tornar-se chef.





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