Os agricultores alemães prometem continuar os protestos que nos últimos dias têm paralisado várias cidades do país depois de o parlamento ter dado uma primeira luz verde aos planos orçamentais para cortar gradualmente os subsídios para combustíveis.
Ao longo das últimas semanas, os agricultores alemães têm levado a cabo numerosos protestos em todo o país para contestarem a decisão do governo de Olaf Scholz de acabar com os subsídios ao combustível agrícola. A onda de protestos culminou na última segunda-feira com uma concentração de cerca de 30 mil agricultores em Berlim, bloqueando com 5 mil tratores a zona das Portas de Brandeburgo.
Devido à forte contestação, o executivo alemão, conhecido como a coligação semáforo (por incluir os sociais-democratas do SPD, os Verdes e os liberais do FDP), procurou mitigar o impacto da medida, faseando-a até 2026, o que mesmo assim não foi suficiente para acalmar os ânimos dos agricultores.
Os protestos dos agricultores estão, além disso, a ser vistos como uma oportunidade para a infiltração da extrema-direita.
Alemanha. Os protestos de agricultores que são uma “janela de oportunidade” para a extrema-direita da AfD
Na quinta-feira, o presidente da Associação de Agricultores da Alemanha, Joachim Rukwied, tinha afirmado que os protestos das últimas semanas foram apenas um primeiro choque. “Se nada mudar, vai haver uma erupção”, avisou mesmo Rukwied.
Também na quinta-feira, já depois das declarações de Rukwied, a comissão de orçamento do parlamento alemão aprovou a proposta do governo que dita o fim dos subsídios ao combustível agrícola, que é o principal objeto de contestação por parte dos agricultores. Como explica o Euractiv, o orçamento ainda precisa da aprovação global do parlamento, embora essa aprovação, que deve ocorrer no início de fevereiro, seja vista apenas como uma formalidade, devido à correlação de forças parlamentares.
Em causa está uma correção orçamental que o governo alemão teve de levar a cabo em dezembro, depois de o Tribunal Constitucional ter declarado o Orçamento do Estado inconstitucional. O governo teve de implementar medidas para tapar um buraco de 17 mil milhões de euros no orçamento e o corte dos subsídios ao combustível agrícola foi uma de muitas medidas adotadas nesse sentido — e foi aprovada na quinta-feira, no novo pacote orçamental que recebeu luz verde da comissão de orçamento do parlamento.
Os agricultores permanecem inamovíveis no seu protesto, tendo considerado insuficientes as medidas que o governo propôs para mitigar o impacto do corte. “Tudo o que foi anunciado até agora só aumentou ainda mais a fúria dos agricultores, em vez de a acalmar”, explicou Joachim Rukwied. “Só eles [o governo] podem evitar protestos mais alargados.”
Para a tarde desta sexta-feira está agendada uma conferência de imprensa da Associação dos Agricultores da Alemanha, na qual os agricultores alemães deverão anunciar os planos para novos protestos na próxima semana.