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Querem matar um jornal? Chamem o Estado – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Jan 19, 2024

Decorre por estes dias em Lisboa um congresso em que, segundo as notícias, os jornalistas são convidados a resolver o seguinte “parodoxo”: a imprensa existe para servir o “interesse público”, mas o “modelo capitalista que sustenta as empresas jornalísticas impõe” o “primado do lucro financeiro”. De facto, o paradoxo que daqui decorre é outro: como é que profissionais que dizem trabalhar para informar o público podem estar, eles próprios, tão pouco informados?

A contradição entre interesse público e lucro privado é, na imprensa como em outras actividades, uma contradição falsa. Empresas financeiramente saudáveis são a maior garantia de independência e desenvolvimento da comunicação social. Se um jornal, rádio ou televisão der lucro, é porque teve a força necessária para atrair leitores, ouvintes e espectadores, e também anunciantes e outros parceiros. Só assim a imprensa pode ser o “quarto poder”. Nenhum poder é poder se estiver falido e dependente.

Mas não é assim que se encara a imprensa em Portugal. Demasiada gente, perante as dificuldades de um grupo de comunicação social, chama logo o Estado. Eis outro paradoxo, se quiserem descobrir paradoxos. Estamos num país onde foi o Estado, depois das nacionalizações de 1975, quem levou ao descrédito e à ruína a grande imprensa do século XX. Lembram-se ou ouviram falar de O Século? O Século foi o mais influente e próspero jornal diário que alguma vez existiu em Portugal. Até ao dia em que passou a ser propriedade do Estado. Ao fim de dois anos, fechava. Como é possível, com esta história, falar da propriedade ou do financiamento públicos como remédio para a comunicação social?

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