No passado Domingo, 21 de Janeiro, um grupo murcho de fiéis, segurando umas dezenas de cravos, juntou-se na Praça Vermelha para assinalar o centenário da morte de Vladimir Ilyich Ulianov, Lenine, “a primeira pessoa a fundar um Estado socialista”. Gennady Zyuganov, o actual líder do Partido Comunista da Rússia, aproveitou para lembrar que Lenine tentara “criar um mundo justo, com irmandade entre as nações e sem capitalismo”.
Vladimir Putin não se deixou comover. Não só não compareceu junto ao mausoléu do pai da revolução – que, entretanto, tinha já considerado “culpado pelo separatismo da Ucrânia” – como não comentou sequer a efeméride. Talvez por isso a China e os dirigentes chineses, partidários de uma ortodoxia política leninista, se tenham abstido de celebrar os cem anos da morte do seu guia imortal, daquele cujo corpo fora faraonicamente mumificado e o cérebro cientificamente retirado, compartimentado e conservado em meio asséptico para que, no futuro, pudesse estudar-se “a substância do seu génio”.
Tudo passa. Mas, aparentemente, há coisas que passam mais do que outras, e a Esquerda tem o dom de conseguir branquear ou fazer esquecer certos passados. No caso da União Soviética, edificada e mantida à custa de milhões de mortos e de um terror permanente, o passe de mágica foi arranjar um bode expiatório, criador e artífice de todas as maldades do comunismo – uma doutrina generosa, fundada por bolcheviques altruístas que, por um desses azares e acidentes históricos, teria sido desvirtuada por um homem mau, perverso, maligno – Josef Vissariónovitch, Estaline, o homem de aço.
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