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O que é um psicopata? Como se identifica? E como se trata? 9 respostas sobre Perturbação da Personalidade Antissocial – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Fev 3, 2024

A psicopatia, também chamada de sociopatia, é o tipo mais grave de Perturbação da Personalidade Antissocial (PPAS). Caracteriza-se pela incapacidade de sentir empatia, culpa ou lealdade perante outros, sendo uma grave doença emocional que se disfarça atrás de uma fachada de boa saúde mental. “O psicopata pode parecer normal e até mesmo encantador”, explica a psiquiatra Paula Valente. “No entanto, falta-lhe consciência e empatia, o que o torna manipulador, volátil e muitas vezes, mas não sempre, criminoso.”

Sim. Apesar de todos os psicopatas serem, na sua essência, profundamente antissociais e incapazes de experiências afetivas profundas, alguns têm boas competências sociais. “Existe um subgrupo que revela características como o charme e a inteligência, muitos são excelentes comunicadores e são capazes de detetar facilmente as vulnerabilidades dos outros, que utilizam para proveito próprio.”

Os psicopatas são geralmente divididos em dois grandes grupos, esclarece Paula Valente:

  • Os psicopatas primários, com níveis mais elevados de ansiedade e maior tendência para comportamentos impulsivos, sendo este grupo que constitui a maior parte da população criminosa;
  • Os psicopatas secundários, também conhecidos como “psicopatas bem-sucedidos”, que são sedutores audazes e têm uma marcada ausência de ansiedade e menor impulsividade. Isso leva-os a conseguirem esconder as suas características antissociais e, por isso, frequentemente chegam a posições de liderança à custa da manipulação e aproveitamento dos outros.

Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, a Perturbação da Personalidade Antissocial (PPAS) caracteriza-se por um padrão de comportamento de desrespeito e desconsideração pelas regras sociais e pelos direitos dos outros. Estes comportamentos não são esporádicos, mas constantes ao longo do tempo e transversais a todos os contextos. Estima-se que PPAS afete 0,2% a 3,3% da população.

Nem sempre. “São indivíduos que procuram a gratificação imediata e apresentam um pobre controlo de impulsos. Demonstram desprezo pela segurança própria e dos outros, adotam comportamentos de risco, têm dificuldade em manter relações afetivas e/ou um emprego estável e em cumprir responsabilidades financeiras.” A médica refere ainda que se verifica uma ausência de remorso e indiferença por lesar os outros. Há diferentes graus ou intensidades deste comportamento, sendo que o nível de maior gravidade é a psicopatia.

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Com rigor, não são conhecidas. “Os trabalhos de investigação colocam a hipótese de que a PPAS resulta de uma predisposição psicobiológica — neuroanatómica, genética, neuroquímica, hormonal —, mas que seriam necessárias experiências precoces, traumáticas ou deficitárias, que alteram o processo normal do desenvolvimento, levando a uma perturbação funcional da personalidade”, diz Paula Valente.

O diagnóstico de PPAS só pode ser realizado na  vida adulta, pelos 18 anos.  Mas a maioria dos comportamentos que a definem — nomeadamente a desconsideração pelas regras sociais, o desrespeito pelos direitos ou sentimentos dos outros — já estão presentes na adolescência e, em alguns casos, mesmo na infância.

Tem tratamento, mas dificilmente tem cura. O tratamento passa pela tentativa de controlo dos comportamentos antissociais e o resultado depende da gravidade da perturbação, embora a psiquiatra refire que, geralmente, “não é muito animador”.

“Nos casos menos graves, existem resultados que comprovam a melhoria nos comportamentos antissociais, mas não existe um tratamento comprovadamente eficaz para a Perturbação de Personalidade Antissocial. E a generalidade  dos especialistas considera que a psicopatia não é tratável.”

Por um lado, porque apesar de haver medicação que pode ser usada para alguns sintomas (como a impulsividade), não há nenhuma específica para a perturbação em si.
Por outro, porque é muito difícil que a psicoterapia resulte, porque “depende da capacidade de o doente estabelecer um vínculo emocional e uma comunicação honesta com o terapeuta”, lembra a psiquiatra, e esta doença impede frequentemente que consigam fazer as duas coisas.

A psiquiatra Paula Valente é muito clara na mensagem: protegendo-se, acima de tudo, já que “as pessoas com estas características de personalidade podem, de forma continuada, extorquir ou explorar a família e amigos, exercer violência e representar uma ameaça para os familiares e para a sociedade”. Por isso, nestes casos, a segurança é o mais impoertante. Se necessário, envolvendo “os serviços sociais e as forças de segurança.”

Nas situações em que os doentes não são uma ameaça imediata, devem ser aconselhados a recorrer a tratamento psiquiátrico especializado, sendo que “a família ou pessoas próximas envolvidas também devem ser aconselhadas a aceitar apoio psicológico para minimizar e prevenir danos”.



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