Quando o marido morreu, Maria sentiu que parte de si andava no ar. A pairar sem pôr os pés no chão, a levitar sem querer voltar, como se não estivesse cá, na terra. Outra parte de si era como uma panela de pressão a ferver, prestes a rebentar. Passaram-se quase dez anos depois da doença, de 11 anos numa cadeira de rodas, de um cancro, de oito meses numa casa de cuidados continuados. Até à morte. Foram 56 anos de vida em comum até ao último suspiro.
“Nunca estamos preparados para a morte de ninguém”, diz. “É muito triste ver sofrer e não poder valer a quem se ama.” Maria sentia-se debilitada, deprimida, sem forças, queria desistir e desaparecer. Um ano depois, em 2015, estava a ser acompanhada pelo Programa de Apoio ao Luto do Município de Oleiros, vila da Beira Baixa, distrito de Castelo Branco, no interior do país. O projeto estava a começar, foi das primeiras a receber apoio. Há pouco mais de um ano, sofreu outra perda. Uma amiga de infância, como uma irmã, confidente e vizinha, morreu de cancro. “Tenho muitas saudades dela”, desabafa. E as dores voltaram a estalar.
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