Mais um mercado de transferências, mais movimentações de entradas e saídas (neste caso com quatro caras novas e cinco jogadores a deixar o Estádio da Luz), mais explicações sobre todas as decisões tomadas, não tomadas e que mudaram antes de ser tomadas. À semelhança do que tem acontecido desde que assumiu a presidência do Benfica, Rui Costa regressou à BTV alguns dias depois da janela de janeiro para detalhar as principais operações dos encarnados no último mês, ao mesmo tempo que abordou também alguns temas da atualidade, a segunda metade da temporada e a situação complicada que Eriksson atravessa. Em dez pontos, o antigo número 10 defendeu os seus “mandamentos” e mostrou confiança no presente e no futuro.
“Percebo a questão em redor de Rafa e Di María. Tenho começar pelo início de temporada. Quer um, quer outro, abdicaram de muitos milhões de euros. Di María abdicou de contratos milionários, estava livre. Só por essa razão, tendo feito esforço é de aplaudir. Rafa, como também é sabido, teve enormes propostas para sair do Benfica. Na tal famosa conversa com o presidente em Inglaterra, que parecia um golpe de estado, ficou o compromisso de ambas as partes. Rafa rejeitou propostas enormes e Benfica prescindiu de valores arriscando que ele saia a custo zero no final da época. O compromisso de Rafa tem sido exemplar, está a fazer uma grande época. Merecem o nosso respeito e aplauso. Posso garantir que eles são dos mais influentes no balneário. Veremos o que dará até ao final da época, não vale a pena antecipar cenários”, frisou.
“O Jurásek tinha uma grande expectativa, até pelos números, e não me custa admitir que não teve o impacto que esperávamos, numa posição que não era nada fácil pelo impacto que Grimaldo tinha tido. Para anular alguma dúvida, não há nenhuma aquisição do Benfica que não tenha um entendimento do presidente e do treinador. Infelizmente para nós, o Jurásek não teve o impacto que se esperava. Tendo em conta o quão custoso que foi [14 milhões por 90% do passe], entendemos que fazer sair, ainda com a esperança que se reencontre, neste caso em concreto seria essencial valorizar este ativo. Tivemos de combater com muitos clubes, esses mesmos clubes mostraram interesse em tê-lo na sua equipa neste mercado. Acabou por acontecer isso. No final da época avalia-se a situação de novo”, destacou.
“Bah sem substituto? Substituto para o Bah ou para o Aursnes? Há essa dúvida… Avaliamos muito mais se ele está na posição certa ou não do que se está a jogar bem naquela posição ou não. Acho muita graça que se diga que a posição dele é médio esquerdo. Ele foi contratado para médio centro e até hoje foi onde jogou menos. Percebe o jogo em todas as posições e tem sempre um desempenho extraordinário. Foi o melhor defesa direito em Portugal durante o ano, com golos e assistências. Falámos na hipótese de contratar mais um lateral direito mas numa fase em que Bah estava magoado e as expectativas de regresso iriam demorar mais a recuperar. Quando vimos que ele já estava perto do regresso, como aliás já sucedeu, entendemos que havia mais urgência noutras posições. O Aursnes é um jóquer neste plantel porque consegue jogar bem em todas as posições. O nosso plantel é forte e equilibrado”, assegurou.
“Marcos Leonardo veio porque estávamos carenciados de golos, entendemos ir buscar mais um avançado. Muita gente pode pensar que devíamos ir buscar alguém com mais experiência e dinamismo mas importa referir que não há qualquer clube que me venda um avançado com 20 golos em janeiro. Dentro da nossa política, encontrámos um jovem que se já distinguia, que pudesse acrescentar no imediato, olhando para o futuro. Só foi possível porque o Santos desceu de divisão, caso contrário teríamos dificuldades em trazê-lo, e também graças às relações com o Santos e credibilidade com quem trabalhamos. Não custa dinheiro vivo agora, são contratações pagas a partir da próxima época. Levava perto de 50 golos já com 20 anos, dá-nos garantia para o presente e futuro. Tem mostrado o porquê da vontade em trazê-lo já”, frisou.
“Teve mais minutos do que os outros mas com a recuperação de Arthur Cabral, a vinda de Marcos Leonardo e a aposta em Tengstedt, fazia pouco sentido continuarmos com quatro avançados ainda para mais tendo um modelo em que jogamos muitas vezes só com um. Isso faria com que um deles teria poucos minutos ao longo da época, pelo que aparecendo uma proposta, como apareceu, achámos oportuno. Sabendo que nos deu muito no ano passado e até nesta época, já que muitas vezes foi influente a sair do banco, era preciso criar sempre um equilíbrio e trata-se de uma proposta que pode chegar aos 12 milhões. Ora, correndo o risco de chegarmos ao fim da época jogando poucos minutos e não haver uma proposta assim. Se não tivesse aparecido a proposta do FC Dallas, talvez a decisão tivesse sido diferente”, confessou.
“O Gonçalo não era nosso jogador, era do Wolverhampton. Foi fustigado com estas lesões todas que o condicionaram no início da temporada. Era outro jogador que tinha pouco minutos, ainda para mais não sendo nosso, teve esta oportunidade de ir para Espanha de novo, trabalhar com um treinador que já conhecia do Valencia, havia muita vontade do jogador… A vinda do Rollheiser preenche essa vaga. Não merecia que impedíssemos continuar o seu percurso. Será sempre um dos nossos. Se dúvidas houvesse, viu-se no ano passado em Alvalade. Ainda hoje, ninguém percebe, nem eu nem médicos, como é que ele aguentou os últimos 15 minutos a jogar com o Sporting naquelas condições e ainda foi influente no final. É um jogador que precisa de minutos. Se não encontrar num sítio, precisa de outro lugar”, salientou.
“Acabámos por antecipar a chegada do Rollheiser porque acreditamos que pode ser um elemento ainda importante nesta época. Antecipámos uma adaptação a uma realidade diferente. Pode ajudar a equipa no presente, ir-se adaptando e fazer o processo natural. Vai ser uma grande mais valia. Quando trazemos jogadores desta idade têm de ser suportados por outros que já temos no plantel. Temos jogadores com experiência. O talento destes jovens está lá todo e há uma fase de adaptação a uma realidade diferente. O Grimaldo demorou o tempo que demorou. É preciso dar tempo de adaptação ao nosso clube. Tem a ver com a grandeza, com a exigência, a mudança de campeonato, de sistemas táticos, de cultura, de exigência máxima de servir o Benfica. Cada jogador novo é avaliado ao mínimo pormenor pelo adepto, ao primeiro toque na bola… O jogador sente isso e sente que está num clube de dimensão enorme”, apontou.
“A intenção é sempre melhorar o plantel e ajustar o que pode ser ajustado, acreditamos que fizemos um bom trabalho e que acrescentámos jogadores que podem melhorar a equipa. Esperemos que seja proveitoso para o resto da época (…) O meu agradecimento a toda a estrutura do futebol. Ao Rui Pedro Braz pela força que me dá e pelo acompanhamento que me faz no mercado, sendo inexcedível em todo o apoio juntamente com a sua equipa de scouting. A Lourenço Coelho que está com a pasta do futebol e com a equipa diariamente, e também à administração que me vai dando as ferramentas para atingir tudo isto”, apontou.
“Mudanças? Tem muito a ver com o que foi a política desportiva que tracei para o clube, à qual se junta a financeira. A política desportiva foi o meu compromisso com o Benfica e é a linha que quero seguir. Quando se faz uma remodelação destas, nem sempre se acerta. Há uma máxima: pode falhar-se um jogador, não o critério. Não fujo às minhas responsabilidades, é natural que se possa falhar um jogador ou outro. A ideia foi essencialmente criar melhores plantéis, que possam ser vitoriosos e salvaguardar o clube. Desde a vinda de Roger Schmidt, começámos essa época com 54 jogadores, mais nove aquisições. 63 ativos. Neste momento, desses 63, temos 31. Nestes 31 ativos, 24 estão no plantel e sete emprestados. Temos 14 jogadores com menos de 24 anos, que salvaguardam o clube e criam um modelo de plantel muito mais valioso. O que se fez deixa-me satisfeito e otimista. O Benfica está mais preparado para o futuro”, vincou.
“Queria dar conhecimento da situação de Sven-Goran Eriksson. Infelizmente, soubemos internamente da notícia bem antes, sabemos há um ano e pouco. Este grande senhor, que será sempre da casa, nunca está esquecido por nós. Em setembro do ano passado, no dia do jogo com o FC Porto, esteve organizada uma homenagem a Eriksson, com tudo marcado e tratado em que viria com toda a família. Infelizmente, na véspera, o médico dele desaconselhou a viagem até Lisboa. Temos uma grande dificuldade em trazê-lo cá por essas razões. A família dele viajou e a filha viu o jogo ao meu lado. Não temos memória curta, pessoalmente foi o treinador que me fez estrear na equipa principal do Benfica e jamais esqueceria a história enorme que Eriksson tem com o Benfica. Se ainda não veio a Lisboa é porque não pode. Estamos todos com ele nesta luta a torcer para que possa ganhar mais este campeonato”, concluiu.