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As fantásticas senhoras – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Fev 11, 2024

Quem não se lembra da senhora cor-de-rosa que na campanha para as legislativas de 2015 aparecia diante de Passos Coelho para o confrontar com os cortes que segundo ela dizia (e a comunicação social repetia e repete), Passos fizera nas pensões? De nada servia explicar então (ou agora!) que a senhora cor-de-rosa não era uma paupérrima pensionista alvo dos nefandos cortes do Passos. Para começar “os cortes do Passos” eram nada mais nada menos que a contribuição extraordinária de solidariedade (CES) decidida pelo governo de José Sócrates em Dezembro de 2010 e inscrita no Orçamento para 2011. Por outro lado a CES só se aplicava a pensões com um valor superior a mil euros (a percentagem de redução ia dos 3,5% para as pensões acima dos 1.000 euros até aos 10% para pensões acima dos 3.750 euros) Em resumo os “cortes do Passos” foram aprovados em 2010 por um Governo socialista com os votos favoráveis do PS, a abstenção do PSD e o voto contra do CDS-PP, BE, PCP e PEV. Mas numa das mais espantosas manobras políticas de desresponsabilização de que há memória neste século em Portugal, não só muito rapidamente o PS se demarcou do que aprovara como, qual alma penada, o próprio PSD engoliu essa narrativa ao ponto de dizer que se quer reconciliar com os pensionistas. Pode dizer-se que isto se deve à estupidez natural e lutas internas dos laranjas. Também acho mas essa é apenas uma parte da explicação. Há neste baixar de braços também o reconhecimento do desgaste causado pelos falsos argumentos da senhora cor-de-rosa e seus clones: os argumentos combatem-se; as fantásticas senhoras e seu património emotivo são praticamente imbatíveis.

Note-se que a senhora cor-de-rosa não foi a única a marcar essa campanha de 2015. Tivemos também a “mãe revoltada”. A “mãe revoltada” surgiu em Setembro de 2015, num comício do PS em Setúbal. Estava Jorge Coelho a preparar-se para discursar quando subiu ao palco uma mulher que logo foi identificada como “mãe revoltada”. A “mãe revoltada” tinha um filho emigrado na China. O filho estava ou estivera em Portugal para celebrar o casamento mas o regresso a Pequim era incontornável.   A “mãe revoltada”explicava à assistência a que se juntara Jorge Coelho: “Não venho falar de nomes, mas de sentimentos e de sofrimentos””Falo de sofrimento. Uma mãe não pode ficar calada“. Acabou a apelar ao voto em António Costa “Pois temos uma oportunidade de mudar”. (Dão-se alvíssaras a quem conseguir explicar porque tendo os jovens continuado a emigrar nos anos de Costa como primeiro-ministro não mais se ouviu a “mãe revoltada”)

Em 2024, a avó de Mariana Mortágua podia ter sido a outra senhora cor-de-rosa. Ou, mais provavelmente ainda, a líder do BE podia ter criado a figura da neta indignada, lídima  sucessora da senhora cor-de-rosa e da “mãe revoltada”,  quando no debate com o líder do PSD proferiu aquele fatídico: “Eu vi o sobressalto da minha avó ao receber cartas do senhorio, porque não sabia o que é que lhe ia acontecer, e essa foi uma responsabilidade do PSD, que esvaziou as cidades”.

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