O Pedro Mexia foi ao Japão e tem escrito no Expresso uns textos bonitos acerca da viagem que fez. Até eu que não gosto de voar pensei que também podia sentir lá as emoções que o Pedro tem descrito. O Japão parece um mundo mais diferente do que o mundo já é quando saímos do nosso país. Calculo que visitar um lugar assim possa mesmo mudar-nos, por entendermos que a terra apesar de estar toda mapeada continua a ser muito maior do que a nossa habituação a ela.
Quando escreve sobre o Japão o Pedro não esconde que foi turista. Afinal andou nas mesmas voltas tão facilmente previsíveis que qualquer um dá quando está envolvido na ingrata tarefa de “conhecer novos países” (já vos tenho dito como o turismo moderno é uma continuação da maldição dada por Deus a Caim: “fugitivo e errante serás na terra”). Esse prenúncio da banalidade que hoje é viajar é valioso nesses textos (não sei se ele pensou nisto quando os escrevia mas eu pensei).
Mas quando escreve sobre o Japão o Pedro também não esconde o deslumbramento. Se é certo que um errante erra, também acerta. Nas páginas das Escrituras há dois fluxos opostos em não ficar onde se pertence: o negativo, com Caim (se quisermos até antes com os seus pais Adão e Eva, expulsos do Éden), e o positivo com Abraão (que descobre que pode confiar em Deus ao não ficar na terra dos seus pais). Logo, viajar é uma maldição mas também pode ser uma bênção.
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