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acredita que há folga para o plano de emergência – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mar 14, 2024

De resto, a partir do quartel-general do PSD foram transmitidas orientações claras: é tempo de recolher e evitar causar ruído. Faltam contar ainda os votos da emigração, é preciso perceber como ficará o desenho final da Assembleia da República e de esperar para ouvir o que Marcelo Rebelo de Sousa tem para dizer, sendo que não passa pela cabeça de ninguém que o Presidente da República não venha a indigitar Luís Montenegro como primeiro-ministro.

Ao mesmo tempo, existe a perceção de que todos os adversários estão a cometer erros dispensáveis. O PS está a discutir na praça pública se chumba ou não o Orçamento; o Livre a pedir uma segunda ronda de audiências a Marcelo; o Bloco a tentar formar uma plataforma de convergência mesmo depois de Pedro Nuno Santos ter dito que quer estar na oposição; e o PCP a apresentar uma moção de rejeição a um governo que não conhece.

À direita, André Ventura a exigir ter um dedo na escolha de ministros enquanto ameaça chumbar o Orçamento; e a Iniciativa Liberal a pôr-se de fora de um governo para o qual não foi convidada — tal como explicava o Observador logo na noite eleitoral, a partir do momento em que se tornou matematicamente impossível uma maioria AD+IL que dispensasse o Chega, os liberais estavam automaticamente riscados de um futuro executivo.

Importa, por isso, não cometer erros e meter gelo nos pulsos. Tudo o que se possa dizer nesta altura são especulações. É verdade que já há movimentações para o futuro governo, com muita gente a alimentar expectativas de vir a ocupar pastas ministerais — mas os convites serão feitos por Luís Montenegro e o líder do PSD só os tem na sua cabeça.

Os sociais-democratas acreditam que entraram num jogo de paciência do qual sairão vencedores. Por um lado, acreditam que Pedro Nuno Santos, apesar do que vai dizendo e repetindo publicamente, não será capaz de chumbar o próximo Orçamento do Estado; e, se tal acontecer, o PSD acredita que Ventura acabará por cedo com medo de se estatelar nas próximas eleições legislativas — medo que o líder do Chega já disse não ter. Um destes três protagonistas vai bater contra um muro — e não será Montenegro.

É esta, pelo menos, a convicção da equipa de Montenegro, que vai repetindo a várias vozes as mesmas perguntas sobre um eventual chumbo de propostas estruturais e do Orçamento: entre o PS e o Chega, quem vai querer ficar com o ónus de chumbar um programa de emergência para a Saúde? A solução para a carreira dos professores? A revisão da grelha salarial dos elementos das forças de segurança? A redução dos impostos? O aumento do salário mínimo e do complemento solidário para idosos?

Ainda assim, nem os mais otimistas ignoram o risco de uma estratégia feita com o cronograma idêntico ao de “Aníbal Cavaco Silva I” — eleito em 1985, governou dois anos, decreto a decreto, até ser derrubado por PRD e PS, para depois conquistar a maioria absoluta em 1987. Aliás, não é de estranhar que uma das entrevistas mais citadas por estes dias é a de Leonor Beleza, figura maior do cavaquismo, à jornalista Maria João Avillez, no Observador, onde explicava, precisamente, como foram aqueles dois anos de puro combate político.

Ora, também a equipa de Luís Montenegro, que se quis assumir como verdadeiro herdeiro do legado de Cavaco Silva, acredita que pode durar pelo menos dois anos neste primeiro embate. Os sociais-democratas acreditam que o próximo Orçamento do Estado é o cabo das tormentas que têm de ultrapassar. Isto porque o próximo documento já será discutido e aprovado durante a janela temporal (outubro/novembro de 2025). Nessa altura, Marcelo estará impedido constitucionalmente de dissolver a Assembleia da República (há eleições presidenciais em janeiro de 2026). E o próximo Presidente da República só o pode fazer no segundo semestre de 2026. São dois anos a governar e, presumivelmente, a crescer na confiança dos eleitores.

O problema é que se a Aliança Democrática está a ver o filme, é de supor que os adversários, PS e Chega, também o estejam a ver. O incentivo para ajudarem Montenegro a afirmar-se politicamente é nulo precisamente porque ambos saberão o mesmo: quanto mais tempo o social-democrata for primeiro-ministro com dinheiro para distribuir, mas difícil será derrubá-lo nas urnas. A menos que acreditem que os ventos começam a ser menos favoráveis e apostem na implosão do governo da AD — arriscado, mas não impossível.

Montenegro aposta em raide para se instalar no centro e condicionar Pedro Nuno e Ventura



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