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Siri Helle. “É tão importante ensinar a ler e escrever como a resolver problemas e a lidar com as emoções” – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Abr 21, 2024


Nem tudo é mau quando pensamos em abundância tecnológica ou redes sociais — basta lembrar como uma videochamada permitiu esta entrevista entre Lisboa e Estocolmo. Mas, como notaria de rajada Siri Helle na mais recente edição da Pergaminho, toda a atenção é pouca com as gratificações instantâneas e superficiais — quem nunca descambou num ápice para um scroll tão infinito quanto passivo que atire a primeira pedra.

On ou off, o caminho está cheio de sentimentos negativos que bloqueiam a marcha, e há pequenas mudanças que nos podem ajudar. Entre a psicologia clínica e a escrita, a sueca de 32 anos baseia-se na terapia cognitiva comportamental, uma ferramenta para lidar com o stresse e a ansiedade, e aumentar a motivação. De forma simplificada, acredita que se mudarmos primeiro o comportamento, as emoções e os sentimentos seguir-se-ão.

Em “A Armadilhas das Emoções”, Helle desmonta mitos, defende que o autodesenvolvimento é mais importante do que a autoestima, garante que não há nada de errado com uma crise existencial, e recomenda que adicione um erro de datilografia ao seu trabalho como estratégia antes de ir para a cama.

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A Armadilha das Emoções – Como os sentimentos negativos nos bloqueiam e as pequenas mudanças nos podem libertarPergaminho, 15,93 euros

“Não podemos forçar emoções, mas devemos criar as melhores condições”, sustenta Siri, que aposta na inclusão da saúde mental nos curriculums e já está de volta da próxima obra. Foco? A saúde existencial, do sentido da felicidade à forma como lidamos com grandes questões como a mortalidade.

Dedica-se à Teoria Cognitivo-Comportamental, está habituada a lidar com o stress, a ansiedade, temas que conhece bem e que aborda recorrentemente neste livro. Há algo que a tenha surpreendido durante a escrita?
Neste livro tentei resumir o que aprendi durante o meu curso de psicologia, e na prática clínica, e tal como disse há sempre qualquer coisa de novo que encontramos e trazemos. Fiz uma pesquisa particular sobre autoestima que me surpreendeu bastante. Durante a experiência na infância explicam-nos, e acaba por crescer connosco, que esta é essencialmente uma questão genética, mas a verdade é que é algo que podemos manobrar de forma considerável mesmo na nossa vida adulta.

Não é uma condenação à partida. É aliás um dos mitos que desmancha na obra, esse determinismo que pode tornar-se incapacitante.
Sim, isso é definitivamente o que tento trabalhar na minha prática clínica. Tentar ter uma melhor autoestima passa por nos tornamos mais assertivos, por aprendermos a dizer não, ou quando tratamos do autocuidado. Se começar por dedicar-se a coisa como estas, por exemplo, a sua autoestima vai melhorar.

Recorda precisamente a evolução do movimento da autoestima, com enfoque particular nos EUA, do boom nos anos 80 a um declínio a partir de 2003. E dir-se-ia que o tópico voltou a ser mais atual que nunca. Como analisa estes altos e baixos?
A razão para a deflação [no começo dos anos 2000] deve-se ao estudo de Leary e Baumeister [De acordo com o seu modelo, a autoestima é um indicador do valor social percebido que flutua em função do grau segundo o qual a pessoa se sente valorizada pelas pessoas em seu redor.] Mostrou que a autoestima não é tanto uma razão mas antes um resultado, quando falamos por exemplo de sucesso académico. Penso que foi aí que perdeu alguma tração no meio académico, mas quanto ao público em geral, pelo menos na Suécia, e acredito que também em Portugal, é considerada uma das mais importantes construções em psicologia. Põe limites ao que conseguimos fazer enquanto pessoas, na vida real, é algo que está na nossa cabeça mas que não tem que afetar o nosso comportamento assim tanto.

Lembra neste “Armadilha das Emoções” que se pode ser rico, lindo, bem sucedido, etc e ainda assim ter uma péssima autoestima.
Isso.

Mas já que falamos de países distintos, como Suécia e Portugal, quão determinantes podem ser as condições geográficas, sociais nesta equação? Que nuances nota de forma mais lata?
É importante perceber que a autoestima tem um efeito no nosso mood, na nossa saúde mental, como nos vemos, mas não limita aquilo que podemos fazer. Não depende de onde vivemos ou da nossa situação na vida. Claro que se viver em adversidade é mais difícil tomar controlo da sua vida.



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