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a missão de um Albuquerque legitimado para governar e que não sai para agradar a ninguém – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mai 27, 2024

De calculadora na mão, Miguel Albuquerque sabe de antemão que há um parceiro que facilitava as contas: o Juntos pelo Povo (JPP), por ser o único que é suficiente para não se sentar à mesa com mais ninguém. Élvio Sousa, secretário-geral do JPP, quer primeiro uma noite bem dormida, porque é “boa conselheira”, e prometeu ser um “agente de estabilidade” (“A Madeira não vai ficar ingovernável pela nossa posição”). Ainda assim, habituado a dizer que PS e PSD são “farinha do mesmo saco” e mesmo perante um cenário parlamentar complexo, Élvio Sousa recordou que sempre disse que “o PSD está fora da equação”.

Os outros cenários pintam-se com o Chega: aos 19 deputados do PSD era preciso juntar dois do CDS e quatro do partido do André Ventura; ou até somar os quatro do Chega a um da IL ou do PAN. André Ventura acabou, num discurso através de Lisboa e depois de uma semana na Madeira a fazer campanha, a gabar-se da “centralidade que o Chega adquire” porque “nenhuma maioria natural se constituirá à direita sem a presença do Chega”. Como “elemento decisivo e pivô”, reiterou que “não há nenhuma possibilidade de acordo de governação com Miguel Albuquerque”e que o vencedor da noite “não tem condições políticas para se manter à frente do Governo Regional da Madeira”.

O Chega, através de André Ventura e de Miguel Castro, já o tinham dito, mas foram deixando a porta aberta a outro tipo de equações, nomeadamente a possibilidade de o partido viabilizar o programa de governo. Ou seja: não a um acordo e à tal hipótese de fotografia ao lado de Albuquerque, mas sim a diálogo no Parlamento. Essa perspetiva não foi arredada, mas esta noite os dois líderes, o nacional e o local, sublinharam que não se volta com a “palavra atrás” e que com Albuquerque “não haverá governo” e o Chega não apoia o PSD.

Nuno Melo, presidente do CDS-PP, acabou a dizer ser “absolutamente ridículo que algum líder de um partido tenha a pretensão de decidir das lideranças de outros partidos”. E perante os resultados, recordou a autonomia da Madeira, com José Manuel Rodrigues, cabeça de lista eleito deputado, a garantir que “se o novo Governo Regional, que eventualmente será formado pelo PSD, acolher as propostas do CDS” o partido está “disposto a viabilizar esse governo e esse orçamento, em nome da responsabilidade política”.

A Iniciativa Liberal, que se apresentou a votos com uma postura idêntica do “não é não” a Albuquerque, não se desviou da ideia após reeleger um deputado para a assembleia legislativa e explicou que a postura do partido será “avaliar medida a medida, proposta a proposta, orçamento a orçamento” — deixando a porta aberta para a tal viabilização do programa de governo, que é obrigatória na Madeira.

Albuquerque pode acabar também por recorrer ao PAN, sendo que Mónica Freitas também tem vindo a recusar acordos com o líder do PSD/Madeira, depois de lhe ter retirado a confiança, contudo assumiu possibilidade de diálogo com vista à viabilização do programa de governo.

Paulo Cafôfo, líder do PS/Madeira, surgiu na noite eleitoral para dizer que a ambição que tinha de construir uma geringonça ainda tem asas para voar. Para que tal aconteça, Cafôfo já o tinha dito e reiterou: os socialistas da Madeira estão dispostos a negociar com todos, exceto com o PSD e o Chega. Também ele de calculadora na mão, referiu que o “PS e JPP juntos têm mais deputados do que o PSD”, 20 contra 19, e disse que “é possível” governar assim.

Ora, as contas implicavam um acordo entre PS e JPP, mas só era possível se contasse com o apoio de CDS, IL e PAN — o que totaliza os 24 deputados necessários para a maioria absoluta. Mas a ambição parece desmedida quando CDS e IL surgem prontos a destruir o sonho de Cafôfo. Pelos liberais, o próprio presidente, Rui Rocha, surgiu para assegura que não vale a pena perder tempo com a IL. Por sua vez, Nuno Melo também acabou a enviar um recado a Paulo Cafôfo: “Devia estar a pensar na derrota que acabou de ter.”

A verdade é que Paulo Cafôfo, durante a campanha eleitoral, já não tinha reunido um consenso entre os partidos dos quais precisa para levar o PS ao governo através de uma maioria. E a saída do Bloco de Esquerda e da CDU do parlamento regional acabaram por complicar ainda mais as contas de um PS que pouco cresce (apenas tem mais 137 votos) num contexto em que Albuquerque caiu por motivos judiciais — e em que Cafôfo acreditava haver uma oportunidade única para um “virar de página”.



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