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Sebastiãozinho dos mercados? Salta, pede bolos e beijinhos como um preferido das avós – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mai 31, 2024

Sendo independente e novo na política, consegue passar ao lado das habituais acusações de promessas falhadas ou da fatal igualdade apontada a quem faz da política carreira. É antes reconhecido pelo percurso televisivo. Não chegam os dedos das mãos para contar a quantidade de pessoas que o abordam como se fala com quem se conhece. “Todos os dias me entra em casa, pá”, atira-lhe um homem junto ao Mercado da Fruta nas Caldas da Rainha. “Gosto muito de o ouvir na televisão, fala muito bem”, ouve entre as bancas de legumes frescos.

No insuspeito mercado do Livramento em Setúbal (distrito que a esquerda lidera e que assustou o PS, nas últimas eleições, com a aproximação a passos largos do Chega), foi recebido sem problemas e também se multiplicaram as referências aos tempos recentes do comentário televisivo. “Gosto muito de o ver” ou “ouvir” na televisão, são dois dos mais repetidos. “Ó Bugalho!”, gritam-lhe três homens mais velhos a meio da manhã numa esplanada em Almada, como se o candidato que lhes interrompeu o café uns minutos fosse lá de casa.

Candidato “da TV” alinha com o líder no ataque ao PS, mas corrige-o na fasquia eleitoral

As senhora mais velhas que circulam pelos mercados que a caravana cruza nas manhãs de dias de semana vão mais longe. Agarram-lhe a cara entre as mãos. “Eu vi-te na tv. És muito novo. És muito bonito”, diz-lhe uma senhora à porta do mercado de Faro. “Se for tão bom político como foi comentador”, atira outra lá atrás. O mesmo nas Caldas, mal entra no mercado e uma mulher sentada num banco da Praça da Fruta atira logo que já o conhece da televisão. “Agora conhece em carne e osso“, responde o candidato ao mesmo tempo que a sua interlocutora que explica que agora que “tem vagar” vê mais televisão.

O candidato não se fica, devolve os amassos e, a meio do mercado da fruta, até se ajoelha para ficar da altura de mais dois beijinhos. “Sou pequenininha”, diz-lhe a senhora que vê o rapaz da tv ali, de joelho esquerdo no chão. “Nós portugueses somos pequenos e conseguimos fazer coisas grandes”, devolve Bugalho quase ao estilo Marcelo e a glorificação do grandes feitos nacionais. “Dos pequeninos e dos altos, os votos valem todo os mesmo”, ainda acrescenta, de olhos postos no negócio eleitoral, antes de se levantar e sacudir o joelho das calças bege de bolsos debruados de tecido com xadrez.

Como a AD tenta segurar o dia seguinte do seu Governo em três pontos

Sapatos de vela ou mocassins, camisa sempre, ou azul clara ou branca, e em alguns momentos um blusão azul escuro mais desportivo. Quando discursa, veste sempre um blazer azul escuro. Explicou na entrevista ao Guilherme Geirinhas que se habituou a vestir assim por causa da televisão e de ter de se apresentar bem quando entra na casa das pessoas, como diria um verdadeiro preferido das avós que nem sequer canetas distribui, chama-lhes “esferográficas” como se fosse da mesma geração.

Mas é da geração dos seus netos, o que também tem dado jeito para o efeito. Em Setúbal encontrou Carlos e Júlia numa banca de peixe e ouviu logo que era da idade de um dos netos. Ato seguinte: uma queixa sobre a eventual saída dos quatro netos, jovens licenciados, para o estrangeiro. O candidato deixa-se estar a fazer render as críticas que ainda caem em quem governou nos último oito anos.

“Esta é uma candidatura com tanto sucesso que até a uma segunda-feira no mercado tem votos”. Cada vez que alguém promete confiar-lhe o voto, pede palmas aos jotas que o acompanham na volta: “Mais um voto para a AD”. Levanta os braços e aplaude para os outros jovens que vão atrás, de bandeiras, sacos de panfletos e canetas da AD e uma coluna com rodas que insiste em encher ouvidos com a música que esta candidatura herda da volta de Montenegro, ainda há três meses.

Mesmo com o partido a abrir caminho, o treino da televisão faz com que o candidato procure com eficácia situações que ficam bem nos ecrãs. No Algarve, por exemplo, chegou mais tarde do que o previsto ao mercado de Olhão que já estava praticamente vazio de cliente, mas Sebastião Bugalho não hesitou e foi por ali com a comitiva passando imediatamente para trás de cada um dos balcões, perguntando como ia o negócio e debicando uvas ou frutos secos.



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