Os profissionais de saúde começaram uma campanha para vacinar 9,5 milhões de crianças contra a pólio em 41 distritos no Paquistão esta semana. Esta última rodada de uma campanha nacional de vacinação incluirá Islamabad e se concentrará particularmente em áreas onde amostras de esgoto positivas para pólio foram encontradas.
A campanha contra a poliomielite será lançada em 16 distritos do Baluchistão, 11 distritos de Khyber Pakhtunkhwa, oito distritos de Sindh e cinco distritos de Punjab, de acordo com a mídia local.
Apesar dos grandes esforços para erradicar a doença no Paquistão, seis casos do vírus altamente infeccioso já foram relatados este ano. Atrapalhando ainda mais a iniciativa, equipes de vacinação e profissionais médicos enfrentaram assédio e até ataques físicos em algumas partes do Paquistão.
O primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, no entanto, disse que o governo “permanece firme” em seu objetivo de erradicar a poliomielite após uma reunião com o filantropo bilionário americano Bill Gates em Islamabad na semana passada.
Quão sério é o problema da poliomielite no Paquistão?
O Paquistão é um dos dois únicos países do mundo onde a poliomielite ainda é endêmica, sendo o outro o vizinho Afeganistão, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A doença viral altamente contagiosa afeta amplamente crianças menores de cinco anos. Crianças infectadas pelo poliovírus podem sofrer paralisia e, em alguns casos, morte.
O país do sul da Ásia lançou um programa de vacinação como parte do seu Programa de Erradicação da Pólio em 1994. Autoridades dizem que o país costumava relatar mais de 20.000 casos anualmente.
Apesar da administração de mais de 300 milhões de doses da vacina oral anualmente e do gasto de bilhões de dólares, a doença ainda é comum no Paquistão.
Este ano, quatro campanhas de vacinação visando mais de 43 milhões de crianças já foram realizadas, pois as autoridades afirmam estar na “última milha” da luta contra a poliomielite no país de 235 milhões de pessoas.
Quantos casos foram relatados no Paquistão?
Desde 2015, o Paquistão relatou 357 casos de pólio, incluindo seis neste ano. Uma das vítimas, um menino de dois anos, morreu em maio.
Autoridades disseram que todos os casos deste ano pertencem ao grupo YB3A, que, segundo elas, teve origem no Afeganistão, onde quatro casos foram relatados este ano.
Além de casos humanos, o poliovírus selvagem tipo 1 (WPV1) tem sido frequentemente detectado em amostras ambientais coletadas em todo o país. Este ano, o WPV1 foi encontrado em 45 dos 166 distritos do Paquistão.
Como o Paquistão realiza suas campanhas de imunização contra a poliomielite?
Campanhas nacionais de imunização envolvendo mais de 350.000 profissionais de saúde são realizadas em fases com balcões de vacinação montados em centros de saúde e profissionais de saúde indo de porta em porta. As campanhas são organizadas pelo National Emergencies Operation Center (NEOC), administrado pelo governo, que foi encarregado de executar o Programa de Erradicação da Pólio do Paquistão.
Os agentes de campo vão de porta em porta ao longo de um número específico de dias, vacinando crianças menores de cinco anos.
As vacinas também são administradas nas fronteiras terrestres e aéreas, inclusive para adultos, e nas rodovias que conectam as principais cidades do país.
Quais são os problemas enfrentados pela campanha contra a poliomielite?
A resistência à campanha de imunização contra a poliomielite cresceu no Paquistão depois que a CIA, uma agência de espionagem dos Estados Unidos, organizou uma falsa campanha de vacinação contra hepatite para rastrear o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, que foi morto em 2011 no Paquistão por forças especiais dos EUA.
Desinformação relacionada a crenças religiosas também foi disseminada, alegando que a vacina contém vestígios de carne de porco e álcool, que são proibidos no islamismo.
Desinformação, campanhas orientadas por agenda, mitos, boicotes comunitários e desconfiança no governo também foram fatores por trás das recusas. Mas autoridades disseram que campanhas governamentais estão ajudando a mudar percepções ruins.
Autoridades de saúde no Paquistão listaram sete distritos onde a pólio é “endêmica”. Todos os sete estão no noroeste, na província de Khyber-Pakhtunkhwa. Autoridades disseram que a situação de segurança tem sido o maior obstáculo para atingir a população-alvo na província que faz fronteira com o Afeganistão.
Além da situação de segurança, autoridades de saúde dizem que uma população-alvo que se desloca de um lugar para outro, que pode estar portando a variante YB3A, tem se mostrado um desafio.
Por que os profissionais de saúde e as autoridades de segurança foram alvos?
Profissionais de saúde e agentes de segurança que os acompanham foram assediados, ridicularizados, provocados, ameaçados e até mesmo fisicamente agredidos.
Pelo menos 102 trabalhadores de campo, autoridades e agentes de segurança foram mortos, incluindo pelo menos seis em campanhas realizadas este ano.
Nos últimos anos, o Talibã paquistanês matou dezenas de profissionais de saúde e membros das forças de segurança envolvidos em campanhas contra a pólio. Mas as autoridades acreditam que a razão para a violência não é apenas o programa contra a pólio.
“Nos últimos anos, não foi o programa de poliomielite que foi alvo, mas infelizmente, os alvos foram os seguranças que protegem as equipes porque, dada a situação de segurança em algumas partes do país, eles se tornam alvos fáceis quando estão na comunidade”, disse o Dr. Hamid Jafari, diretor de erradicação da poliomielite da OMS, à Al Jazeera.
Que outras questões afetam os profissionais de saúde?
Salários baixos, atrasos salariais, falta de assistência e compaixão e condições de trabalho difíceis são alguns dos outros problemas enfrentados pelos trabalhadores de campo.
Alguns profissionais de saúde disseram à Al Jazeera que recebem apenas 1.360 rúpias por dia (cerca de US$ 5) por pelo menos oito horas de trabalho. Os dias de recuperação quando eles vão a campo após o fim da campanha para vacinar crianças que não foram vacinadas não são pagos, eles disseram.
Além disso, alguns sobreviventes da pólio que agora trabalham na campanha não recebem ajuda com transporte ou benefícios de saúde, apesar de suas condições, o que os obriga a caminhar em condições climáticas adversas e terrenos difíceis para realizar seu trabalho.
Alguns funcionários lamentaram a falta de paridade salarial, dizendo que as pessoas que trabalham com organizações internacionais envolvidas na campanha recebem muito mais.
Qual é a perspectiva para a campanha de erradicação da pólio?
O Dr. Shahzad Baig, que foi chefe do NEOC até maio, disse à Al Jazeera que o objetivo era tornar o Paquistão livre da pólio até 2026.
“Essa é nossa meta no momento”, disse ele antes de ser substituído.
No entanto, após uma reunião do Grupo Consultivo Técnico organizada pela OMS, realizada no Catar em maio, há preocupações crescentes sobre a “deterioração da situação da doença” no país, de acordo com uma reportagem do jornal Dawn do Paquistão.
Um funcionário paquistanês citado no relatório disse que na reunião, “enfrentamos uma situação embaraçosa, pois todos os ganhos obtidos pelo Paquistão em 2021 foram perdidos e o vírus ressurgiu em três blocos”.
As autoridades de saúde, no entanto, permanecem esperançosas, dado que o número de casos positivos diminuiu significativamente nos últimos cinco anos – de 147 em 2019 para seis até agora neste ano.
“Os programas no Paquistão e no Afeganistão são muito maduros e aprenderam muito”, disse Jafari.
“Apesar das mudanças no governo e nas situações de segurança, esses programas evoluíram, se adaptaram e se ajustaram. E é por isso que eles têm um nível de imunidade populacional que você não está vendo surtos de casos de pólio paralítica.
“Não é um problema generalizado no Paquistão. Não é nem mesmo um problema geográfico generalizado. Agora é uma questão de chegar a essas populações finais, difíceis de alcançar. Quando você começa a alcançar essas populações, o progresso acontece muito rápido.”
