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Vale de Judeus. Dois GNR tensos a guardar a escada da fuga e uma aldeia calma a beber cerveja – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 8, 2024

São quase 21h, mas a noite aqui já vai longa e as cervejas saem em barda. “Uma escada, foram buscar uma escada para fugir!”, troça um dos homens entre golos. E logo ouve a resposta: “Faltam guardas, não há controlo. E estes já não aparecem, a esta hora já está cada um em seu país.”

Os prisioneiros que fugiram do estabelecimento têm várias nacionalidades: dois são portugueses, um é argentino, um georgiano e um é inglês. Questionados se acham que os homens já terão passado a fronteira, ninguém tem dúvida que sim, motivo pelo qual dizem não ter medo.

São poucos os que querem ser identificados. Diogo, dono do principal café da aldeia, dá a cara, mas recusa revelar o apelido. Mora em Tagarro há 38 anos e abriu o seu estabelecimento há cerca de três. É onde se vive o verdadeiro sentido de comunidade, diz. A existência de uma prisão (e prisioneiros) a poucos quilómetros de casa não lhe faz diferença. “Aqui é o local mais seguro porque sabemos que os que estão aqui, estão lá dentro”, diz entre risos, lembrando que além do estabelecimento de Vale de Judeus, há ainda o estabelecimento prisional de Alcoentre, onde “não são tão perigosos”, explica.

“Ao longo da vida já vi muitos a fugir. E alguns a ser apanhados! Mas estes são perigosos, estes já não os apanham, estão além-fronteira”, garante. E logo acrescenta que, quem quer fugir, não procura abrigo na aldeia do lado, teoria que outros homens apoiam.

Até porque a aldeia de Tagarro tem uma longa ligação à prisão de Vale de Judeus. Um dos homens — chamemos-lhe, ficticiamente, André — mais novo que os restantes, conta que o seu avô foi guarda prisional nessa prisão, assim como o seu pai, mas ele quebrou o padrão. E garante que a aldeia está cheia de guardas prisionais, diz.

No momento em que se ouve esta frase, entra no espaço um desses guardas, ainda fardado, e vai direto ao balcão. Sentando-se no último lugar, não cumprimenta os presentes nem se junta à conversa. É que o Calhambeque é ponto central para guardas prisionais de Vale de Judeus: é onde bebem café, cerveja e, muitas vezes, até o pequeno almoço.





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