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“Integrar um governo da AD? Partidos existem para exercer poder. Se não, éramos um think tank” – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 26, 2024

O cenário das eleições antecipadas não está afastado. A IL, aliás, tem cartazes em que sugere que o PSD é um partido “toranja” e, portanto, muito parecido com o PS. Luís Montenegro tem sido igual ou pior do que António Costa?
Acho que não tem sido o pior. Mas a questão é outra. Bem sei que o Governo não tem maioria, mas não se viu ainda nenhuma intenção de fazer nenhuma reforma estrutural. Em nada. Quer dizer, o IRS, houve esta invenção do IRS Jovem, é certo, mas a nível de IRS para todos os portugueses praticamente não muda. O país vai continuar a ter um recorde de número de escalões. A nível de carga fiscal vai ficar mais ou menos igual. A nível de despesa pública vai ficar mais ou menos igual. Temos 400 e tal entidades nos órgãos consultivos do Estado e não se vê nenhuma intenção de reformar isso. A nível do setor empresarial do Estado não há nenhum plano, nenhuma lista de privatizações a fazer. A nível de Segurança Social não há nenhuma intenção de reformar um modelo num país extremamente envelhecido, onde os jovens vão ter, se calhar, metade do seu último salário na primeira pensão.

Mesmo assim, consegue dizer que Luís Montenegro está a ser melhor primeiro-ministro que António Costa. Ou não consegue?
Consigo, porque há algumas medidas que, embora não sejam reformas como gostaríamos, são medidas que achamos que vão no bom caminho. Por exemplo, na Saúde: não há nenhuma intenção de mudar o sistema como gostaríamos, mas pelo menos há pequenas melhorias no sistema, como, por exemplo, as USF tipo C, de que andamos a falar há anos. Na Habitação, houve alguns anúncios de que se iria usar devolutos do Estado, por exemplo, que é uma medida que também andamos a defender há muito tempo. Não são as reformas que gostaríamos, mas há uma ou outra medida que vão num sentido que nos parece positivo.

Se este impasse político se mantiver não seria benéfica uma clarificação eleitoral?
Se não houver Orçamento, tem de haver eleições. Não pomos outros cenários em cima da mesa.

E o partido não seria vítima do voto útil, como aconteceu, por exemplo, nas últimas eleições?
Podia ser, mas há duas coisas que acho que são muito importantes: não me parece que haja condições para governar um país em duodécimos no contexto de um governo minoritário. Por isso, é melhor haver eleições. Em segundo lugar, em relação ao voto útil, temos o sistema eleitoral que temos — mais uma vez, PSD e o PS não o querem reformar porque são beneficiados por ele –, e agora não há nada a fazer. Respeitamos as regras, não as querem mudar e têm a maioria, temos de as aceitar. Se em eleições perdermos com isso, é a vida democrática normal. Fazemos o nosso melhor, apresentamos as nossas ideias, não vamos por calculismos. Se fôssemos pelo calculismo, mais valia não existirmos ou irmos sempre coligados como outros vão. Prefiro ir sozinho e vender as minhas ideias ao máximo. Se perdermos votos devido ao sistema que temos, temos de aceitar e trabalhar mais para ter mais resultados e mudar essa regra.

Existe quem defenda que uma solução para o impasse seria a Aliança Democrática e a IL conseguirem um resultado em futuras eleições que permita uma maioria parlamentar. Essa seria uma solução a considerar pela Iniciativa Liberal? E em que termos? Integrar o governo?
Claro que acho que o objetivo principal é esse. Se a AD e a Iniciativa Liberal tiverem uma maioria parlamentar, acho que há condições para governar muito melhor e para o país poder fazer as reformas de que tanto precisa. Acho que esse seria o cenário desejável e isso implica também que cada um trabalhe mais para convencer mais portugueses a deixarem de votar quer no PS, quer no Chega, essencialmente, e também para tentar que algumas pessoas que, se calhar ainda estão na abstenção possam votar numa alternativa de governo.

Isso passaria sempre pela integração da Iniciativa Liberal num futuro governo da AD?
Sim. Depois dependeria sempre daquilo que o próprio PSD aceitasse.

Se a IL avançar para esse cenário de uma  coligação governamental, não corre o risco de se tornar uma espécie de CDS?
Os partidos existem também para exercer poder, não é só para fazer oposição ou só para lançar ideias. Se não, éramos um think tank. Não acho que ir para o Governo e assumir responsabilidades governativas é uma forma de irmos desaparecendo. Acho que é totalmente normal os partidos que vão para o Governo, ao fim de algum tempo, de um ciclo ou dois, serem castigados ou ir diminuindo a sua expressão. Mas, mesmo que isso acontecesse, se o partido não existe para depois tentar implementar as suas ideias, então não existe para nada. Não vale a pena estar com esse tipo de calculismo no futuro, se daqui a x anos, vamos perder votos ou não. Queremos implementar as nossas medidas.

É candidato a vice-presidente da Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa, é insistentemente apontado também com insistência à futura liderança do partido. É um caminho que admite para o futuro?
Bem, em relação à primeira questão, há uma tentativa que acho que está a ter sucesso de nos darmos a conhecer e de me dar a conhecer. Vi aqui uma oportunidade para nos promovermos, também para me dar a conhecer, para promover alguma discussão dentro do ALDE para que haja algumas mudanças, porque achamos que as prioridades não têm sido as corretas. É uma candidatura mais para pormos o primeiro
pé na porta.

Bom, mas dentro da IL não precisa de pôr o pé na porta.
Não vou fugir dessa questão. Não tenho qualquer intenção, pelo menos por agora, a curto prazo, de me candidatar a presidente. Já disse várias vezes que no futuro me parece que seria um desejo, mas agora não tenho qualquer intenção de o fazer.

Caso existam eleições antecipadas decorrentes de um chumbo do orçamento do Estado e a IL do seu ponto de vista deve adiar o Congresso e a disputa eleitoral e avançar para as eleições antecipadas com o Rui Rocha à frente do partido?
É uma boa questão. Não pensei sobre isso. Mas não me parece que se deva adiar o Congresso. Pode ajustar a data um bocadinho mais para a frente ou mais para trás, consoante o período em que as eleições forem marcadas, mas não me parece que se deva adiar o Congresso.

Mas aqui estamos a falar nesse cenário de antecipação de eleições. Isso também deve precipitar alguma mudança no partido ou Rui Rocha seria o candidato?
Assim sendo, se for a intenção de Rui Rocha de recandidatar-se, se houver eleições antecipadas, mais um motivo ele terá para recandidatar-se.

Tiago Mayan Gonçalves acusou a atual liderança de ter pouca ambição e de praticar a “idolatria pessoal”. Há um problema de falta de ambição e de culto da personalidade no partido?
Não, pelo contrário. Nem vejo qual é esse culto da personalidade. Acho que a IL deve ser dos partidos onde as pessoas veem diferentes deputados a falar. Temos um partido ao nosso lado na Assembleia da República onde um dos deputados decide tudo pelos outros 49. Aqui é exatamente o oposto. Mas percebo: às vezes é preciso ter notícias e por isso dizem-se coisas, diria que não muito honestas. Não parecem muito refletidas, mas percebo que é preciso.

Acha que Mayan estava apenas à procura de atenção, é isso?
Sim, parece-me que sim, não vejo nenhum fundamento.





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