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Florentino, o discreto tenor dos cantos que devolvem a esperança (a crónica do Benfica-Gil Vicente) – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 28, 2024

O Benfica continua a viver quase numa realidade paralela que teve na demissão de Roger Schmidt depois do empate em Moreira de Cónegos frente ao Moreirense o traço divisório para a realidade atual. Por um lado, e olhando para o futebol, tudo estabilizou: a chegada de Aktürkoglu trouxe os argumentos em falta num plantel que estava desequilibrado, os resultados voltaram a surgir com três triunfos consecutivos, toda a qualidade da equipa que andava escondida por trás de ideias táticas erráticas surgiu de forma natural. Por outro, neste caso extra futebol, nada está estabilizado: Rui Costa continua a ser visado nas Assembleias Gerais (muitas vezes de forma “indireta” entre o fogo cruzado a outros dirigentes e funcionários), o Relatório e Contas foi chumbado, o clima pré-eleitoral a um ano do sufrágio parece ter chegado para ficar à Luz.

No meio de tudo isto encontra-se Bruno Lage, alguém que percebe bem tudo o que se passa nos diferentes campos sabendo que pode apenas trabalhar para ser o melhor possível no seu – e com a esperança que isso possa depois intoxicar de forma positiva todos os outros. Com três vitórias seguidas desde que regressou à Luz após passagens por Wolverhampton e Botafogo, o técnico tem procurado manter a equipa alheia a tudo o que se vai passando no clube agarrando num plantel que não construiu mas que parece potenciar melhor do que o próprio Roger Schmidt. Agora, no regresso à Luz para a receção ao Gil Vicente (que antecedia novo jogo em casa com o Atl. Madrid, na Champions), o objetivo único era continuar a crescer em cima de vitórias.

“É sempre um motivo de motivação extra jogarmos perante os nossos adeptos. Espero a equipa com a mesma dinâmica e o mesmo foco frente a um adversário à imagem do seu treinador, um grupo que funciona num todo, com jogadores de enorme qualidade sobretudo à frente. O que quero é ver a cultura e o lema do clube. Aquilo que temos de melhor é funcionarmos em equipa. Temos falado sobre isso, o talento ao serviço da equipa e o que cada um deles pode fazer para ajudar o coletivo. Quero uma equipa mais agressiva no último terço, na busca de espaços, mais situações de finalização, a criar mais em qualidade. Tenho trabalhado imenso com os avançados e com os alas. Como dizia o mestre Jaime Graça, defender é muito fácil, é correr e toda a gente atrás da linha da bola. Comigo todos têm a responsabilidade de defender para recuperar a bola”, apontou no lançamento do jogo, colocando sempre o enfoque principal no coletivo.

“Bom futebol? O mais importante é trabalharmos diariamente para atingirmos isso. Sei o que os adeptos gostam, cresci aqui, passei pelas equipas da formação e é assim também que me identifico. A ambição é crescer como equipa. Temos criado mais situações de golo esta época, pretendemos continuar nesse registo. Ainda não fizemos nada de especial, ganhámos apenas três jogos. Quero que a equipa funcione e tenho passado essa mensagem aos jogadores. Ninguém ganha jogos sozinho, é importante o que cada um pode dar à equipa”, voltou a sublinhar, relativizando o que já foi feito perante aquilo que tem de continuar a fazer.

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O último encontro no Bessa, mesmo tomando em linha de conta todas as limitações que o Boavista vai tendo nesta fase, foi um exemplo paradigmático de tudo aquilo que Bruno Lage tem apregoado: zonas de pressão alta sem bola, intensidade, velocidade na variação de corredores, mais unidades a aparecerem para o último toque, sobretudo uma largura de jogo que consegue criar outro tipo de problemas aos adversários. Dentro desse crescimento coletivo, sobressaiu o individual: Kökçü subiu a pique, Di María aparece mais, Florentino Luís tomou conta do meio-campo, o regressado Aursnes pode jogar nas posições que lhe são naturais. Era isso que o Benfica procurava manter, foi isso que voltou a acontecer, com o jovem médio a mostrar mais uma vez que joga melhor sozinho para ser um pêndulo da equipa e as bolas paradas a serem um abre-latas que dão asas depois para as individualidades aparecerem de forma natural a fazerem a diferença.

À semelhança do que acontecera no Bessa, o Benfica não demorou a tentar assumir as rédeas do jogo e criou mesmo uma primeira oportunidade na sequência de um canto, com Di María a bater de forma direta à direita e Pavlidis a desviar de cabeça por cima (4′). No entanto, e na primeira vez que o Gil Vicente conseguiu chegar ao último terço de campo, os dados do encontro mudaram: Fujimoto ganhou espaço numa combinação de envolvimento pela direita, cruzou em arco ao primeiro poste e Félix Correia fez a diagonal para rematar de primeira para o 1-0 (8′). Sem que nenhuma das equipas conseguisse assentar uma proposta para o encontro, os minhotos, com apenas uma derrota em seis partidas até aqui, estavam em vantagem no arranque.

É aqui que se define uma das principais diferenças entre o Benfica de Schmidt e o Benfica de Lage. Perante o cenário de desvantagem logo a abrir, seria de esperar que o descontentamento dos adeptos se fizesse sentir e que os próprios jogadores deixassem sinais de paciência e ansiedade perante o golo sofrido; agora, foi quase como se tudo estivesse na mesma, com os encarnados a manterem a mesma abordagem à partida e a terem na bola parada o trampolim para a reviravolta em menos de dez minutos: Otamendi fez o empate depois de um canto de Di María ao segundo poste para desvio de cabeça (17′), Aktürkoglu fez o 2-1 também de cabeça na sequência de um cruzamento em balão de Aursnes na direita que encontro o turco isolado (25′).

Apesar da desvantagem, o Gil Vicente não esmoreceu e continuou a manter-se fiel aos seus princípios de jogo, terminou até a primeira parte com mais posse do que o Benfica (52%-48%) e ainda teve um remate com algum perigo de Cauê, a receber de Sandro Cruz saindo da marcação dos centrais para rematar em jeito ao lado da baliza de Trubin (41′). Antes, Aktürkoglu tinha aproveitado um erro na saída dos minhotos para tentar o bis em boa posição mas a tentativa saiu por cima da trave da baliza de Andrew (31′). Os minutos passavam sem mais incidências até à ida para os balneários, com a particularidade de nenhum dos guarda-redes ter feito qualquer defesa apesar dos três golos sofridos nos 45 minutos iniciais.

A segunda parte começou sem alterações mas com o Benfica por cima, a fazer prevalecer a intensidade com e sem bola para travar as tentativas de saída do Gil Vicente e ficar mais tempo com bola para criar perigo junto da baliza de Andrew, com Di María a rematar em zona central em arco ao lado, Kökçü a ver uma tentativa desviada para canto e Aktürkoglu a ser mais rápido numa diagonal da esquerda para a direita onde desviou para corte de Buatu quando a bola se ia encaminhar para a baliza. Estava a chegar a hora das alterações, com os encarnados a perderem o fulgor com que tinham reiniciado a partida e os minhotos a não encontrarem argumentos para conseguirem traduzir as chegadas ao último terço em lances de perigo.

Logo após uma situação que por pouco não deu o terceiro golo ao Benfica, com Tomás Araújo a ganhar a linha, a deixar Sandro Cruz pelo caminho e a cruzar com a bola a desviar em Rúben Fernandes e a passar por cima de Andrew muito perto da baliza, Bruno Lage começou a mexer na equipa abdicando de Aktürkoglu, Kökçü e Pavlidis para lançar Rollheiser, Amdouni e Arthur Cabral, trocando pouco depois Di María por Beste. Ainda se chegaram a ouvir assobios tímidos numa altura em que o Gil Vicente conseguiu ter mais bola e acercar-se da baliza contrária mas Amdouni, com um remate de pé esquerdo de fora da área sem hipóteses para Andrew, marcou o 3-1 e serenou de vez os ânimos na Luz (78′). Trubin ainda brilhou na baliza a tirar o golo a Aguirre (85′) mas havia mais para contar, com Florentino Luís a marcar na sequência de novo canto com desvio de Otamendi (90′) e Rollheiser a aproveitar um erro de Andrew para fazer o 5-1 (90+4′).





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