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Churchill foi o “maior vilão da II Guerra Mundial”?! – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 30, 2024

1 “Churchill foi o maior vilão (“chief villain”) da II Guerra Mundial” — esta foi a tese central apresentada por um tal Darryl Cooper numa entrevista com Tucker Carlson (o famoso apoiante de Donald Trump e J.D. Vance) no início do corrente mês de Setembro, no agora chamado X.

O assunto parece ter passado inteiramente despercebido entre nós. Mas foi noticiado pela imprensa internacional e gerou enérgica reação de vários historiadores de renome — como, entre outros, os Professores Andrew Roberts e Victor Davis Hanson, que citarei mais à frente.

2 O entrevistador Tucker Carlson — que foi orador na Convenção Republicana de Julho passado e aí teve assento na primeira fila com Donald Trump — apresentou o entrevistado, Darryl Cooper, como “o melhor e mais honesto historiador trabalhando hoje em dia nos EUA”.

E alegremente acolheu a chocante tese do seu entrevistado, segundo a qual “Churchill foi o responsável por transformar a invasão da Polónia na II Guerra Mundial”, por não ter aceitado a proposta de Hitler de “devolver as partes da Polónia que não eram maioritariamente alemãs e de encontrar com as outras potências uma solução aceitável para o problema judeu.”

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3 Estes chocantes disparates foram, como já referi, alegremente aceites por Tucker Carlson — e não foram sequer mencionados por J.D. Vance, o candidato republicano a vice-presidente, que compareceu ao lado de Tucker Carlson no passado dia 21 de Setembro, no chamado “Tucker Carlson Live”, como recorda The Economist de 28 de Setembro (p. 43).

Mas geraram uma muito enérgica indignação na imprensa americana e britânica, bem como entre historiadores de renome internacional — que, em uníssono, disseram nem sequer conhecer o currículo académico do alegado historiador Darryl Cooper.

4 Não é possível resumir aqui todas as vigorosas reações dos historiadores que condenaram enfaticamente os disparates de Darryl Cooper. Mas é incontornável recordar a básica observação do Professor Andrew Roberts [biógrafo de Churchill, traduzido entre nós pela LeYa em 2019, Fellow da Hoover Institution da Universidade de Stanford e agora (desde 2022) também membro da Casa dos Lordes, na bancada conservadora]:

“O primeiro argumento de Cooper é que Churchill ‘foi primariamente responsável pela transformação da invasão da Polónia numa Guerra Mundial.’ Acontece que, no momento em que Adolf Hitler invadiu a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo, na madrugada de 10 de Maio de 1940, Winston Churchill não era ainda sequer Primeiro-Ministro, tendo sido nomeado nesse mesmo dia.”

Andrew Roberts recorda em seguida que Churchill tinha sido até essa data “First Lord of the Admiralty” e enfático crítico da política de apaziguamento da Alemanha nazi — que, em Agosto/Setembro de 1939, em aliança com a Rússia comunista, invadira a Polónia, quando Churchill nem sequer fazia ainda parte do Governo britânico.

5 Em suma, como resumiu Victor Davis Hanson, professor na Universidade da California e também Fellow da Hoover Institution da Universidade de Stanford:

“A Alemanha e os seus aliados fascistas começaram a guerra. Sentiram-se com poder para o fazer, não devido a uma suposta agressão Aliada, mas devido à política de apaziguamento e isolacionismo do Ocidente” (The Free Press, 5 de Setembro).

Por outras palavras, como sublinhou The Washington Post em Editorial (5 de Setembro), a propósito da mesma entrevista:

“O Ocidente democrático retirou lições desses horríveis eventos de meados do século XX — a necessidade de resistir, não de apaziguar, a tirania e de sustentar um vital centro político — que foram fundacionais para a ordem política do pós-guerra.”

6 Resta saber se esse “vital centro político” ainda existe e se o Ocidente está hoje preparado para enfrentar “este novo, pragmático eixo do mal”, como lhe chamou a cronista conservadora-liberal Janet Daley no conservador The Sunday Telegraph de 22 de Setembro (p. 22), referindo-se à Rússia, China, Irão e Coreia do Norte. A mesma pergunta foi deixada pela The Economist de 28 de Setembro (pp. 54-55).





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