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Aziz Salha. Símbolo da luta palestiniana, que mostrou à janela as mãos manchadas de sangue israelita, foi morto num ataque aéreo em Gaza – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 3, 2024

A multidão aplaudiu, em apoteose, quando Aziz Salha apareceu à janela, mostrando as palmas das duas mãos manchadas de sangue. O homem tinha acabado de esfaquear dois soldados israelitas que, por engano, conduziram o seu carro para onde não deviam – e deram de caras com soldados da Autoridade Palestiniana que tinham montado um bloqueio de estrada na Cisjordânia. A imagem, que se tornou um símbolo da luta palestiniana e marcou a memória coletiva dos israelitas, foi captada a 12 de outubro de 2000 – e quase 24 anos depois, Aziz Salha terá sido morto num ataque aéreo na Faixa de Gaza.

A morte dos dois soldados ficou conhecida pelos “linchamentos de Ramallah”. Vadim Norzhich e Yosef Avrahami, ambos reservistas israelitas, conduziam um carro (civil) em direção a um ponto de encontro em Beit El, onde o exército israelita tinha posições. Mas os dois não conheciam muito bem as estradas e acabaram detidos por soldados palestinianos que os levaram para uma esquadra em el-Bireh, uma das principais cidades da região de Ramallah.

De acordo com o relato feito pelo Jerusalem Post, sobre os acontecimentos daquele dia, rapidamente se intensificaram os rumores, entre a população, de que havia um par de soldados israelitas detidos na esquadra de polícia, suspeitos de uma tentativa de infiltração.

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A região vivia dias tensos: naquele mesmo dia tinha sido o funeral de um jovem palestiniano morto pelo exército israelita – o último de mais de 100 palestinianos que, nas semanas anteriores, tinham morrido em confrontos com israelitas na Cisjordânia. Alguns meses antes, tinham fracassado as negociações israelo-palestinianas em Camp David (EUA), o que criou condições para o início da chamada “Segunda Intifada”, a violenta insurreição palestiniana que começou naquele ano de 2000 e durou até 2005.

Convencidos de que aqueles dois soldados israelitas eram agentes à paisana, largas centenas de palestinianos foram para as ruas, dirigindo-se para a esquadra de polícia de el-Bireh, cidade controlada pela Autoridade Palestiniana. As imagens, que mostravam uma multidão em fúria, à procura dos soldados, foram difundidas mundialmente nos primórdios da internet de banda larga.

Mais tarde, foi noticiado que o exército israelita se apercebeu do motim que se estava a formar. Mas foi tomada a decisão de não avançar com uma possível operação de salvamento dos dois soldados, já que aquela era uma zona muito patrulhada pelas militares da Autoridade Palestiniana – o quartel-general de Yasser Arafat era logo ali ao lado.

Treze guardas (palestinianos) acabaram feridos, completamente incapazes de impedir a invasão popular da esquadra de polícia. Dali a alguns momentos, Vadim Norzhich e Yosef Avrahami, os dois jovens soldados israelitas, tinham sido espancados e esfaqueados até à morte sobretudo por dois palestinianos – um deles era Aziz Salha, que logo foi à janela com as mãos ensanguentadas.

Os corpos dos soldados israelitas foram, depois, atirados pela janela para o meio da rua. A multidão desmembrou-os, deitou-lhes fogo e levou-os para a praça Al-Manara, a praça central daquela cidade. As imagens, captadas por correspondentes da imprensa internacional, eram de uma violência tal que a Autoridade Palestiniana tentou, sem sucesso, proibir a sua distribuição.

Não sendo o mais mortífero, este incidente foi, pela crueza das imagens, o que mais marcou os primeiros meses da “Segunda Intifada”. Nos meses e anos que se seguiram, mais de 1.000 israelitas e mais de 3.000 palestinianos morreram nos confrontos entre os dois povos.

Os dois homens que mataram os soldados israelitas acabaram por ser presos por Israel. Nasser Abu Hamid, que colaborou com Aziz Salha na morte dos dois soldados, morreu com um cancro em dezembro de 2022. Já o protagonista do incidente, Aziz Salha, foi enviado para a Faixa de Gaza num acordo feito em 2011 para a libertação de um soldado israelita chamado Gilad Shalit.

Na madrugada desta quinta-feira, surgiu na imprensa palestiniana (citada pelo The Times of Israel) a informação de que Aziz Salha teria sido morto num ataque aéreo israelita no centro da Faixa de Gaza. Não se sabe, para já, se esse foi um ataque aéreo especificamente preparado para matar este homem que se tornou um símbolo da luta palestiniana – as Forças de Defesa de Israel não fizeram, para já, qualquer comentário.





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