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Saúde mental e relações – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 7, 2024


Porque nos sentimos tão sós quando estamos mais conectados do que nunca? Dentro do espaço psicoterapêutico percebo que este sentimento vem muitas vezes de questões internas e de dificuldades nos relacionamentos. Ouço frequentemente “a solidão atormenta-me”. Ou “o meu maior medo é estar só e permanecer só, mas faço de tudo para assim permanecer”.

Naquilo que vou observando em terapia de casal, a solidão parece ser uma das angústias mais presentes, que implica um conjunto de crenças enraizadas que mexem com as nossas emoções e a nossa saúde mental. As pessoas em consulta referem sentir-se sozinhas e com dificuldade de conexões reais e autênticas.

Os conflitos conjugais centram-se maioritariamente no sentimento de insegurança, causado por uma comunicação pouco assertiva e transparente. Apresentam dificuldade em expressar as emoções, necessidades e expectativas de forma clara e aberta, o que leva recorrentemente a mal-entendidos, ressentimentos e conflitos. Por outro lado, sinto que muitos casais não se conhecem verdadeiramente um ao outro.

A falta de diálogo leva a suposições e a criar cenários que muitas vezes não existem. A ideia de que temos que estar sempre disponíveis é uma realidade partilhada recorrentemente em contexto clínico, facilitada pelo uso frequente da troca de mensagens pelo meio digital.

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“Sinto que o meu parceiro/a não me compreende.”
“Não me apoia.”
“Não está disponível para mim.”
“Sinto-me só.”
Ouço atentamente algumas destas palavras e quando questiono se ambos já retiraram um tempo para dizer ao outro o que sentem, a resposta costuma ser o silêncio.

Além disso, observo cada vez mais casais a sentirem-se insatisfeitos. Tornou-se fácil a comparação com aquilo que é exposto publicamente, muitas vezes apresentado de forma idealizada e irrealista.

O “querer tudo para já” parece ser outro dos problemas. Se a construção de laços profundos exige tempo e esforço, os relacionamentos parecem estar mais frágeis. Muitas pessoas desistem ao enfrentar dificuldades em vez de trabalhar para melhorar a relação e a confiança entre ambos.

A saúde mental do casal depende, muitas vezes, da forma como conseguem equilibrar a vida online e offline e da comunicação entre ambos, mantendo o foco na verdadeira conexão. Não esquecendo as redes sociais reais, que são sem dúvida as mais importantes. Afinal, o nosso bem-estar também depende de relações saudáveis e seguras. Sem elas, a saúde mental poderá ficar comprometida.

Andreia Vieira é mestre em Psicologia Clínica e Psicoterapia Psicodinâmica. Tem prática hospitalar e em clínica privada.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental.
Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de
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