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A importância da oposição interna – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 16, 2024

Pedro Nuno Santos parece ter dado uma reviravolta na sua postura política, deixando de lado a irreverência que o caracterizava como militante. Nos recentes congressos federativos que monopolizou, a sua mensagem foi clara: a unidade é imperativa, e as vozes discordantes devem silenciar-se.

A transformação de Pedro Nuno Santos, de um militante inconformado para um líder que sufoca a dissidência, coloca-o na categoria dos políticos que traem os seus princípios ao alcançar o poder. Antes, era um defensor acérrimo da democracia interna e da pluralidade de opiniões; agora, parece ter-se tornado naquilo que sempre criticou. Onde está a coragem das suas ideias, que tanto marcaram a sua ascensão política? Será que foram sacrificadas pela sede de poder e pela necessidade de manter o controlo?

Para além do apelo à união dentro do partido, Pedro Nuno Santos demonstra ainda não compreender que o espaço mediático político mudou radicalmente com o aparecimento das redes sociais de modelo de participação aberto e horizontal. Todos nós podemos ser comentadores do que se passa com o partido, todos nós temos direito a utilizar os canais disponíveis para nos expressarmos…temos, não temos?

O Partido Socialista está habituado a líderes que não apreciam uma boa oposição interna, mas nunca pensei que veríamos este comportamento de alguém que sempre a praticou enquanto militante inconformado.

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Pergunto-me qual é o apelo em criar um partido que fala “a uma só voz”!? Enquanto eleitor, não me parece minimamente interessante dedicar o meu voto a um partido que não demonstre ter  suficiente democracia interna para aguentar com críticas vindas das suas entranhas, sejam essas críticas feitas no segredo de algumas salas de reunião ou nos principais meios mediáticos. Quem é democrata, preocupa-se com a liberdade em concordar e discordar e acredito que, quem é democrata, está, como eu estou, muito desiludido por viver esta atualidade da política portuguesa durante a celebração dos 50 anos do 25 de abril.

Enquanto militante do Partido Socialista, estou muito insatisfeito com o novo rumo do partido. Esta ronda de negociações para o Orçamento de Estado foi desastrosa desde que, em março, Pedro Nuno já começava a anunciar o voto do PS. As últimas votações no Parlamento têm sido questionáveis e sem qualquer tipo de justificação por parte do Grupo Parlamentar: abstenção na proposta do reforço à saúde, à qualidade de vida e aos direitos das mulheres na menopausa (proposto pelo Bloco de Esquerda) ou a abstenção de uma recomendação para o alargamento de cuidados de saúde em primeira linha a mulheres com cancro nos ovários (proposta pelo CDS-PP). Será a abstenção a nova linha de votação do PS?

Celebramos 50 anos de democracia e liberdade, conquistas que o Partido Socialista sempre defendeu. No entanto, ver o nosso partido resvalar para a uniformidade de pensamento, em detrimento da pluralidade que nos enriqueceu ao longo das décadas, é profundamente alarmante. Se o PS se quer manter como um bastião da democracia, tem de ser capaz de acolher o dissenso interno e de ouvir as várias vozes que o compõem.





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