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“Pedro Nuno Santos fez o velório da geringonça” – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 17, 2024

Disse que ninguém quer que Luís Montenegro chegue moribundo a 2026. A verdade é que Pedro Nuno Santos provavelmente deseja isso, não é. O líder do PS ficou hoje mais próximo de vir a ganhar eleições no futuro?
É muito cedo para dizer isso. Pedro Nuno Santos, quer por seu posicionamento ideológico, pelo menos por aquele que transparecia para o exterior, porque ele hoje, há uma nuance interessante que todos repararam, e os senhores que são profissionais repararam, se calhar, melhor que eu, quando ele diz que o país se desenvolve à volta de dois polos ao centro: o Partido Socialista e o PSD. Penso que ele, de uma certa forma, hoje, fez um primeiro, se não o enterro, um velório da geringonça. Pelo menos na minha interpretação.

É o aggiornamento de Pedro Nuno?
Acho que sim. E na forma esteve bastante bem, coisa que não tem sido habitual em Pedro Nuno Santos. Lembro-me perfeitamente de quando o engenheiro Guterres, nos primeiros tempos da sua liderança, dentro do Partido Socialista havia aquela velha frase que ele era só frenezim, frenezim. Era assim um pouco ridicularizado por ser muito agitado. Também há um pouco disso no tipo de críticas que têm sido feitas a Pedro Nuno Santos.

Bom, António Guterres foi  primeiro-ministro — e até mais longe.
Exatamente. Portanto, nada diz que o doutor Pedro Nuno Santos não chegará lá, porque as pessoas mudam, as circunstâncias mudam. Agora, é evidente que eu penso que o principal responsável por isso será o doutor Luís Montenegro. Ele é que tem neste momento o país na mão, ele é que saberá com que instrumentos poderá jogar no futuro, mas repare que durante estes seis meses houve, por exemplo, medidas legislativas que, comprometedoras até de alguma folga do ponto de vista económico na governação, foram aprovadas no Parlamento pelo voto favorável do Chega e do Partido Socialista em conjunto. Nada nos diz que isso não irá acontecer a médio prazo. Olha, espero que não vá acontecer no debate da especialidade do orçamento, por exemplo. Portanto, é um caminho espinhoso com esta contextura eleitoral. Repare que as sondagens dos últimos tempos mostram que, paradoxalmente, apesar de tantas benesses justas que têm sido dadas aos portugueses e a muitos grupos profissionais, aparentemente o PSD não descolava nas sondagens. Sobre isso tenho uma opinião, é que a barreira entre o PSD e o PS está traçada de uma forma muito rígida. O PS foi recuperar à esquerda o que tinha que recuperar, reduzindo o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista a muito pouco ou quase nada, e o PSD só pode crescer para a direita. Portanto, o PSD tem que ter uma política inteligente para ir buscar o eleitorado que perdeu para a esquerda

Tenho em conta motivos apresentados por Pedro Nuno Santos, como ter havido eleições há pouco tempo e de nada poder mudar no futuro, não podia ter viabilizado o orçamento sem entrar neste processo negocial?
Penso que era o que ele deveria ter feito porque não se tinha comprometido, até porque a substância do debate teve à volta dois temas, o famoso IRS Jovem e o IRC. Como se o centro da governabilidade em Portugal estivesse à volta de duas medidas. Vá lá, o IRC ainda penso que é uma medida estrutural interessante, agora o IRS Jovem, eu até vou lhe dizer que estou muito mais próximo do Partido Socialista do PSD em relação a essa medida do IRS.

Mas agora Luís Montenegro também está, até disse que a proposta acabou por ficar melhor.
Pronto, ainda bem. Assim estamos mais de acordo uns com os outros. Mas para todos os efeitos, o que eu quis traduzir com isto é que o que o país esperaria era que, por exemplo, não esperaria que houvesse um debate sobre o Serviço Nacional de Saúde. Não esperaria que houvesse uma convergência em relação ao regime de pensões. Não esperaria que houvesse uma convergência em relação a determinado tipo de políticas que têm a ver com o social e com a economia. Mas, por exemplo, esperaria que os dois partidos dessem uma grande imagem de Estado e que neste debate, por exemplo, anunciassem medidas daquelas que não custam dinheiro e são menos discutidas à volta da questão orçamental, como a grande reforma da justiça, 1ue é muito importante para a competitividade do país até em termos económicos. Uma grande reforma que acabe com esta querela tonta da imigração, uma grande reforma no que diz respeito ao papel das Forças Armadas portuguesas no contexto da nação, isso sim passaria uma imagem de dois partidos responsáveis de Estado. Agora está há três meses a discutir o IRS jovem e 1% do IRC, com franqueza, foi muito pobrezinho.

Deixe-me perguntar-lhe diretamente sobre um assunto que tem marcado os últimos dias. É claro para si que entre Luís Montenegro e André Ventura é o líder do Chega que está a mentir na questão das reuniões?
Isso é uma pergunta para um milhão de dólares. Bom, é evidente que a argumentação pública que tem sido utilizada pelos interlocutores do partido a que eu pertenço, tem mais crédito público, porque André Ventura tem andado num zig-zag permanente que não não tem sido muito credibilizador.

Mas considera que Luís Montenegro devia ter vindo esclarecer se houve essas reuniões e o conteúdo dessas reuniões?
Penso que não. Penso que se o primeiro-ministro estivesse envolvido nisto, eu não queria utilizar este tempo, que é um termo feio, mas vinha ainda emporcalhar mais esse debate.

Vai existir o congresso do PSD este fim de semana. Vai ao Congresso?
Não, não estou cá. Não estou cá. Tenho um amigo que, quando não quer ir a qualquer sítio, diz que tem um funeral neste dia. Agora, não é o caso. Eu não estou cá, portanto não posso ir. Não é muito curial, aliás, os ex-líderes do partido irem aos congressos, aos Conselhos Nacionais. Embora sejam, digamos, membros-natos desses órgãos até morrer, o que às vezes custa muito ao líder em funções. Mas não faz nenhum sentido. Não estou cá e não faz sentido que eu lá vá, até porque o próprio congresso é um congresso que, aliás, o doutor Pedro Nuno Santos com esta posição esvazia um pouco de interesse, E, por outro lado, é um Congresso meramente eletivo. É daqueles que, às vezes, nos fazem interrogar se o PSD não devia voltar em termos de reforma interna aos velhos Congressos Eleitorais. Animados. Eu e o doutor Marcos Mendes somos os pais desta criança da eleição por voto de sufrágio universal.

Foi o primeiro em ganhar diretas no PSD.
Mas hoje já me interrogo. Porque o sufrágio direto e universal, aparentemente, e eu acreditava nisso, tornava mais democrática a escolha. Hoje não estou convencido disso. É impossível alguém que não tenha uma lógica fortíssima do domínio de aparelho arriscar ir a votos num sufrágio direto e universal.

Promove o cacique. Mas estava a dizer que os líderes, os ex-líderes, por norma até nem deviam participar. Luís Marques Mendes vai ao Congresso. Isso é uma crítica a ele?
Não, por amor de Deus, o Dr. Marques Mendes é um amigo e longe de mim estar a criticá-lo. Aliás, é uma opção.

E acha que é inevitável ele ser o candidato presencial apoiado pelo PSD depois de Luís Montenegro ter dito, na entrevista a SIC, que é o dos que melhor encaixam no perfil?
Eu penso que, face ao que tem sido o desenvolvimento das putativas candidaturas nos últimos anos, eu penso que a candidatura de Marques Mendes ganhou muita força. Muita força na área política a que o PSD pertence, mas também no país em geral. Vejo a esquerda com muita dificuldade de ter um candidato forte, não o vislumbro. Vejo que aquela eventual candidatura do senhor Almirante. Após o sucesso que teve na vacinação, as pessoas já perceberam que não chega ter sucesso numa vacinação para ser Presidente da República, nem vivemos num país da América Latina, e portanto julgo que sim.

Perceberam mesmo? Porque houve uma sondagem que o deu o almirante Gouveia e Melo bastante bem posicionado.
Sim, é verdade que sim. Mas o problema é que depois, quando se passa a ser candidato, é preciso falar. E aí é que as coisas começam a complicar. Ainda ontem ouvi com muito respeito o senhor almirante a falar de umas questões da Marinha E tinha dado um raspanete a uns marinheiros e tal. Por aquele caminho, essas sondagens em 15 dias vêm cá para baixo e ficam só mesmo seis marinheiros a votar nele.





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