A exposição “O MFA e o 25 de Abril”, inaugurada esta sexta-feira, em Lisboa, centra-se na origem e no porquê do movimento dos capitães, “a guerra colonial”, no subsequente processo de conspiração até ao desencadear das operações dessa madrugada de 1974.
A declaração foi feita à imprensa por Pedro Lauret, comandante na Guiné-Bissau entre 1971 e 1973, embarcado na lancha de fiscalização Orion, que fez parte da primeira ligação da Marinha ao Movimento dos Capitães e da Comissão que elaborou o programa do Movimento das Forças Armadas (MFA).
Como militar de Abril e combatente na guerra colonial, Pedro Lauret, curador da mostra, sublinhou ainda que um dos objetivos é “colocar o MFA” na que considera ser a sua posição: “O centro do dia 25 de Abril”.
“Os militares são esquecidos”, sublinhou, questionando diretamente os jornalistas sobre “quantos nomes de militares [de Abril] conhecem”.
“Onde é que existe em Lisboa uma avenida 25 de Abril, onde existe em Lisboa uma avenida do Movimento das Forças Armadas. Em todos as cidades, aldeias deste país há uma avenida 25 de Abril e uma avenida Movimento das Forças Armadas, em Lisboa não há”, enfatizou, acrescentando ter apenas conhecimento de que em Lisboa há uma “rua 25 de Abril para os lados de Braço de Prata, entre dois armazéns”.
Lisboa sempre foi “magnânima” a reconhecer as pessoas que a libertaram, afirmou, lembrando que está “cheia de ruas com nomes de heróis do liberalismo e da República”. “E do 25 de Abril é zero”, sublinhou.
Pedro Lauret realizou esta sexta-feira uma visita guiada para a imprensa à exposição, com a historiadora Maria Inácia Rezola, a responsável pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, que patrocina a iniciativa.
Para Maria Inácia Rezola, a mostra “é um momento particularmente importante”, “porque até aqui temos estado a analisar os movimentos e os processos que vão conduzir ao 25 de Abril, e com esta exposição (…) chegamos à história do MFA que nos vai conduzir diretamente ao 25 de Abril de 1974”.
A responsável da comissão apontou ainda oura particularidade da exposição, que consiste “num cruzar de olhares”, num “dar as mãos entre a História e a memória”, numa alusão ao facto de o curador ter sido um interveniente direto no processo que, sem descurar “o rigor historiográfico introduz novos dados que só quem esteve dentro da conspiração do 25 de Abril poderia conhecer”.
Sublinhou ainda a “grande qualidade técnica”, destacando a “muito grande qualidade didática”, atendendo “a que mais de metade dos portugueses nasceram depois do 25 de Abril”.
Trata-se, por isso, “do momento de fazer esta passagem entre a memória e o presente e trazer aos mais novos a memória, a História e recordar aos mais novos que o 25 de Abril tem ainda hoje para a nossa democracia”, frisou.
“Uma das particularidades do que aconteceu neste período, ao contrário do que acontece em Espanha, por exemplo, é que nós começámos a construir a História ‘por cima’, em termos institucionais e políticos”, indicou.
O que “está a acontecer nos últimos anos é que começamos a ter a História vista de baixo”, referiu, remetendo para o facto de a exposição conter “relatos do que era o quotidiano na guerra colonial.
“Como viviam os soldados, quais eram as suas inquietações. E esses aspetos são novidade”, observou, concluindo tratar-se de factos que “até agora não foram destacados pela História”