O chocolate e o anúncio andam assim de mãos dadas há quase 30 anos. Sempre que a marca tenta fazer algum tipo de mudança, o povo sai à rua e exige que aquilo que conhecem e ao qual já estão habituados se mantenha. “O Ferrero Rocher já não é património da Ferrero em Portugal. É património do povo português“, garante.
“Mira, te voy a contar una anécdota”, anuncia. Quando em 1997 começou a trabalhar com a marca em Portugal, o Diretor de Comunicação do grupo notou que havia uma gralha no anúncio que, na época, há já dois anos andava pelas televisões durante o Natal. As personagens seguem no carro quando, de chapéu amarelo, a Senhora confessa a Ambrósio que lhe apetecia tomar algo. No entanto, “tomar é beber”, afirma Franco antes de continuar a sua história. Quando pediu para que o copy fosse corrigido seguiu-se uma avalanche de má receção do atualizado anúncio: “Recebemos mais de 600 cartas e não sei quantas chamadas telefónicas a pedir de volta o ‘tomar’”. Decidiram por isso continuar a utilizar “a palavra não correta por petição popular”, tanto que, 29 anos depois, está já enraizado o hábito de perguntar: “Tomamos um Ferrero Rocher?”
Se nos anos 90 os portugueses já não queriam que o anúncio sofresse alterações, o que vai acontecer quando sair totalmente das televisões nacionais? “Há uma revolta popular”, garante Franco, afirmando que chegaram a receber ameaças dos consumidores quando tentaram mudá-lo. “Os portugueses não querem renunciar. O Ambrósio e a Senhora já fazem parte da iconografia da comunicação de Portugal”. Talvez o spot mais antigo na história, afirma, ninguém “poderia acreditar que um anúncio de 1995 ainda é emitido em 2024, mas é a realidade”.
Sendo o único país onde o anúncio ainda passa — um caso de estudo em universidades — Franco explica que nos restantes 150 a marca se adapta ao público, emitindo diferentes anúncios. “Falar para um consumidor de Hong Kong tem de ser feito de uma forma diferente do que com um consumidor da Suécia”, exemplifica, explicando também que apesar de os produtos serem iguais nas lojas há também sentimentos e emoções associados à marca: “um português não funciona como uma pessoa da Noruega. A nível emocional funcionam de uma forma muito diferente.”
O Diretor de Comunicação do Grupo relembra que, face à ideia de requinte e de luxo que queriam passar, a Ferrero sabia bem quem procurava para interpretar os papéis de Ambrósio e da Senhora. No primeiro caso, a empresa italiana estava à procura de uma pessoa etnicamente europeia, sem que se identificasse a nacionalidade concreta, e que tivesse características de “mordomo inglês anglo-saxónico com um comportamento muito elegante”. O ator britânico Paul Williamson, hoje com 95 anos, deu assim vida a Ambrósio, cuja dobragem em português foi feita por Canto e Castro e, a partir da sua morte em 2005, por Rui Branco.
Quanto à Senhora, a marca procurava uma atriz que encaixasse nos clássicos estereótipos da época do que seria uma mulher aristocrática, “com uma cara bonita mas também não etnicamente caracterizada” e encontraram a norte-americana Lee Skelton.
Os dois são assim os históricos Ambrósio e Senhora que há quase 30 Natais enchem as televisões portuguesas. Para inovar e aproximar ainda mais o consumidor da marca, a Ferrero vai já na terceira edição do Natal D’Ouro, o concurso no qual os maiores fãs deste chocolate são desafiados a recriarem de forma divertida o anúncio, interpretando aquelas duas personagens. Os autores dos melhores vídeos são depois convidados para a Gala D’Ouro, que este ano decorreu no dia 19 de dezembro no Palácio do Chiado, onde são anunciados os grandes vencedores.