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Kelsey e Chuck estão em lados opostos na questão do aborto. Mas, para ambos, não há tema mais importante – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 31, 2024

Kelsey Leigh teve o seu primeiro filho em 2012. Três anos depois, esta residente de Pittsburgh e o marido quiseram dar “um irmão” ao filho e resolveram tentar engravidar outra vez. Foi o que aconteceu e, durante algumas semanas, tudo parecia estar a correr bem.

“Até que, às 20 semanas, fui fazer uma ecografia mais aprofundada, como é habitual. Entrei a achar que ia saber teria um menino ou uma menina. Mas, quando estava a fazer o exame, perceberam que algo se passava: ele não se estava a mexer”. O diagnóstico médico que veio depois foi aterrorizante para Kelsey: “Havia indícios de que ele não estava a desenvolver os membros superiores e inferiores. Os médicos foram muito claros: isto não iria mudar, ele iria nascer assim. ‘A decisão é sua, mas estamos muito certos de que, por exemplo, ele vai partir vários ossos durante o parto’, disseram-me. O coração batia, nessa parte estava tudo normal. Mas ouvir que o meu bebé iria partir os ossos no parto, que iria ter problemas musculares, problemas neurológicos… Para mim, isso não é qualidade de vida.”

Uma semana depois, Kelsey decidiu abortar.

À altura, no estado da Pensilvânia, o limite legal para uma interrupção da gravidez era de 23 semanas, por isso Kelsey pode fazer o procedimento sem problemas num hospital. Mas, pouco depois, o congresso deste estado (que já teve maiorias quer republicanas quer democratas, mas à altura as duas câmaras eram controladas pelo Partido Republicano) decidiu votar uma proposta de lei para alterar as regras. “Quando soube fiquei a tremer, a suar. Só pensava: isto era eu há um mês”, recorda esta eleitora democrata, com quem nos encontramos num café da moda, mesmo no centro de Pittsburgh — a segunda cidade maior do estado e um bastião do Partido Democrata na Pensilvânia.

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Kelsey envolveu-se no ativismo. Escreveu um email para a Planned Parenthood, a organização que tem várias clínicas onde se realizam abortos e que faz campanha pelo movimento de legalização do procedimento em todo o país, e disse ‘Usem-me, usem a minha historia’. Estava consciente de que o seu caso era bom para apelar a um eleitorado mais moderado: era uma mulher casada, que teve uma gravidez planeada e a interrompeu dentro do termo permitido pelo seu estado devido a uma malformação.

Fez campanha para que a lei não fosse aprovada, como um evento com outras mulheres para partilhar o seu testemunho. Nessa mesma tarde, quando saiu do palco, foi informada de que a proposta de lei tinha sido chumbada. Mas, dois anos depois, os representantes locais voltaram a apresentar uma proposta de lei semelhante e Kelsey voltou a fazer campanha acesa com outros voluntários, sobretudo mulheres e médicos. No final, apesar de ter havido mais votos a favor do que contra a lei, esta não teve os suficientes para impedir o veto do governador democrata. Kelsey Leigh sentiu um enorme alívio. O momento foi tão importante na sua vida que tatuou no braço o resultado da votação: 121-70.





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