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Sem água, luz ou rede, em Paiporta vive-se “o apocalipse”. “Nunca pensei entrar num supermercado e roubar” – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 31, 2024

“Não há luz, não há água, não há comida, não há telefone, não há carros. O que fazemos?” Ramon Gonzalez pergunta, mas não espera uma resposta. Os dedos cobertos de barro seco deslizam pelo ecrã do telemóvel para mostrar o armazém de ferramentas e construção (dois pisos e um projeto de uma vida) que foi consumido pelas cheias.

Tem a roupa tingida, o olhar cansado. “Perdi tudo”, diz ao Observador enquanto escoa as águas barrentas de casa dos sogros. “Entre as duas famílias perdemos oito carros.” A mulher acena, ao mesmo tempo que afasta a água escurecida para a rua.

Há um contraste entre o silêncio da noite e o ruído do dia na Comunidade Valenciana que continua a ver as cifras de mortos a aumentar a cada minuto à conta da DANA (sigla de Depresión Aislada en Niveles Altos), a tempestade que atingiu a região. As cheias em Espanha mataram já mais de 160 pessoas, e quase metade foi no município de Paiporta, na região de Valência.

Os sons misturam-se. Uma retroescavadora desbrava a lama e revela algo próximo do que foi em tempos o chão. Uma criança chapinha com as mãos na textura sedosa do material. Nas varandas e janelas, os vizinhos comentam os destroços que observam com vista privilegiada.

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“O que estão a ver está igual desde que a água chegou aqui há dois dias”, afirma Nuria Lajusticia, 38 anos. “Há aqui polícia às voltas, mas aparentemente só estão a fazer rondas. Não temos água, nem luz, nem cobertura…”, enumera. Em conjunto com o marido, assumem temer os próximos dias. “Tudo o que tínhamos apodreceu. O que tínhamos congelado descongelou-se porque não temos luz.” Não fazem ideia do que se diz ou escreve sobre o lugar onde vivem. “Não temos televisão, não temos internet, não temos nada.”  Grávida de 18 semanas, Lajusticia mostra-se preocupada, mas está impossibilitada de entrar em contacto com o médico que a acompanha.

Na mesma rua, uma mulher mais velha, de farta cabeleira branca, avança sobre a lama com uma vara de trekking. À pergunta “para onde vai?”, responde: “Para o fim do mundo.” Esboça um sorriso e desvenda o mistério: “Dizem-me que há água no polidesportivo.”





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