Aqui ficam seis perguntas e respostas para entender a crise no INEM.
Desde a passada quarta-feira, dia 31, que os técnicos de emergência pré-hospitalar estão em greve às horas extraordinárias. Na base do protesto estão duas exigências centrais: a revisão da carreira e a melhoria das condições salariais. Neste momento, o salário base é de 920 euros. “É uma greve sem termo, que só terminará quando nos forem apresentadas soluções, que têm que passar pela valorização da carreira técnica de emergência pré-hospitalar e também pela valorização do seu índice remuneratório”, avisou, na semana passada, o presidente do Sindicato Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, Rui Lázaro.
O sindicato que representa os técnicos de emergência aponta o dedo ao Ministério da Saúde, que acusa de não ter priorizado estes profissionais e de adiar a discussão sobre a carreira para 2025. Sem um compromisso da tutela, os técnicos estão a recusar-se a fazer mais trabalho extraordinário.
Esta segunda-feira, tudo se agravou porque, a esta paralisação, somou-se uma outra, convocada pela Federação Nacional de Sindicatos Independentes da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos, a Fesinap, e que teve uma grande adesão entre os trabalhadores.
As greves que afetam o INEM estão a afetar não só os CODU, ou seja, o atendimento de chamadas, mas também a capacidade operacional das próprias ambulâncias de emergência. Desde quarta-feira da semana passada, quando se iniciou a greve às horas extras, a situação — que já se caracterizava por um défice crónico de técnicos — agravou-se ainda mais. As quatro centrais de atendimento do país — isto é, os quatro CODU em Lisboa, Porto, Coimbra e Faro — funcionam com um quadro de técnicos abaixo dos mínimos, o que se reflete no aumento do número de chamadas em espera.
“O número total de pessoas a atender as chamadas do 112 aproximou-se de um terço do que deveria ser um turno normal”, adiantou à Lusa o vice-presidente do sindicato, Rui Cruz, dando o exemplo do CODU de Lisboa, o maior do país, que “tinha apenas quatro pessoas a atender as chamadas, quando devia ter 18”.
Se, em junho, o sindicato que representa estes profissionais, denunciava que chegaram a registar-se cerca de 50 chamadas em lista de espera, desde quarta-feira que esse número tem sido ultrapassado, o que se traduz num aumento do tempo de espera, diz Rui Lázaro. O pico foi atingido esta segunda-feira com mais de 120 chamadas para o 112 em espera e o tempo de espera a ascender a 30 minutos. Para além disso, um total 46 meios de emergência do INEM estiveram parados devido às greves.
INEM chegou a ter 50 chamadas em espera por falta de meios. Está em causa a “vida dos portugueses”, alertam técnicos de emergência
A falta de resposta do INEM acabou por sobrecarregar os bombeiros. “Muitos dos cidadãos que precisavam de ajuda, na impossibilidade de serem atendidos por um centro de atendimento, ligaram diretamente para os corpos de bombeiros” e “alguns deles dirigiram-se mesmo aos quartéis”, disse o presidente da Liga dos Bombeiros, António Nunes. Em resposta, os bombeiros, “dentro do seu princípio de que são a primeira e a última linha de todo o sistema, serviram as suas populações e as suas comunidades como fazem sempre e transportaram as pessoas ao hospital, sem que elas estivessem inseridas no sistema”, garantiu António Nunes, criticando o facto de o INEM “não ter um plano B para uma situação como esta”.
Pelo menos duas, denunciadas pelo Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar. Rui Lázaro disse que, no sábado, na freguesia de Molelos, Tondela, de uma mulher de 94 anos entrou em paragem cardíaca. Um familiar conseguiu ligar para a linha 112 às 9h34, mas a chamada só foi transferida para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) às 10h19, cerca de 45 minutos depois. A mulher ainda foi transportada para o centro hospitalar de Lamego, onde foi declarado o óbito.