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É de caras! (Em Portugal, não nos EUA) – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 10, 2024

Porque te ris tanto se pouco fizeste em 4 ou 5 anos no poder? Esta é uma questão que os portugueses deviam ter ponderado antes de reelegerem Costa ou Marcelo. Não o fizeram porque são influenciados negativamente por quem em Portugal promove afetos em vez de resultados, dentro como fora do país. Assim, em vez de pragmáticos e orientados por resultados muitos eleitores portugueses tornam-se emocionais e desorientados por estórias.

Continuamos sem perceber a América? Perguntava-se, bem, no Observador a seguir aos resultados da eleição presidencial. Daqui dos EUA, onde vivemos, tentamos a tarefa quase impossível de explicar aí em Portugal porque é que a campanha eleitoral americana levou à vitória de Trump e o que se pode aprender com isso. Mais vale os portugueses procurarem algum ensinamento útil para Portugal do que só ficarem deprimidos com as possíveis consequências para a Europa e Ucrânia. Para tal aprendizagem precisam de se desligar da câmara de eco da comunicação social portuguesa. Aí só vos foi dada a ouvir uma única estória de assustar e fascinar. Isso leva-vos a pensar, compreensivelmente, que mais de metade da população americana ou é fascista por votar no assustador ou é ignorante por não votar na fascinante. Serão as coisas realmente assim tão simples como aí vos pintam ou o que se passou nos EUA teve mais a ver com a pergunta inicial deste artigo: Porque te ris tanto se pouco fizeste em 4 anos de poder?

Os americanos distinguem perfeitamente entre a atratividade da personalidade e a da governação. Quem não quer um governante afável e competente? Simultaneamente com bom carácter e bons resultados? Só que não tendo candidato com essas duas características claramente juntas, fizeram a sua decisão, em parte significativa e objetiva, com base na comparação dos resultados e do que realmente se passou nos diferentes períodos de 4 anos em que cada um dos candidatos governou. Perguntaram-se, por exemplo, de 2016 a 2020 tivemos mesmo mais poder de compra como diz o candidato da direita (partido republicano), ou fomos mesmo oprimidos por um ditador como diz a candidata da esquerda (partido democrata)? Quantos milhões de imigrantes ilegais sem escrutínio criminal entraram nesse período em comparação com 2021 a 2024? Quantas guerras regionais contra aliados dos EUA deflagraram nos dois períodos? A personalidade e postura obviamente também contaram. Por isso a vitória não foi fácil para o candidato menos polido e com mais bagagem de casos polémicos, apesar da maioria dos americanos, de esquerda ou direita, considerar que ele teve melhores resultados na economia (inflação) e na segurança interna (fronteira) e externa (conflitos internacionais). Segundo sondagem da CNN à saída das urnas 75% dos eleitores tinham visão negativa sobre o estado atual da nação. Só 25% estavam melhor economicamente agora com Harris e Biden do que no tempo de Trump. Tamanha insatisfação com os resultados de Kamala não foi contrariada pela sua simpatia e alarmismo sobre o opositor. A maioria não teve medo do regresso a um passado onde faturaram mais.

Os americanos são muito pragmáticos. A maioria de nós aqui ou os nossos antepassados viemos de todo o mundo, incluindo de Portugal, para fazer dos EUA um local mais próspero do que os países de origem. A população americana é a base da economia mundial número 1. O seu sector privado lidera o mundo moderno, desde terapias genéticas à inteligência artificial, passando pelas viagens espaciais. Portanto fazia bem, à massa praticamente uniforme dos políticos (ressalvamos Hugo Soares no centro-direita) e comentadores lusos (ressalvamos vários no Observador), que detém o monopólio quase exclusivo de comandar a opinião publica portuguesa, terem alguma humildade antes de continuarem a insultar mais de metade da população americana, incluindo milhões de imigrantes legais naturalizados americanos, praticamente metade dos hispânicos e gente de todas as etnias, mais exigente de resultados do que de sorrisos e avisos sobre papões.

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Ao contrário da maioria dos eleitores americanos, os fazedores de opinião lusa são atraídos por emoções em vez de ações. Indiferentes ao conteúdo dos resultados e focados no formato. Assustam-se facilmente com todas as estórias de terror que lhes contam e deixam-se ir ainda mais facilmente por estórias de embalar. Não distinguem entre realidade e estratégias eleitorais de exageros quer da esquerda quer da direita. Credulamente traduzem e difundem por todo o Portugal só a versão da esquerda. São incapazes de perceber que, em qualquer campanha, especialmente numa tão renhida, cada lado diaboliza ao máximo o opositor (fascista ou comunista, conforme o lado acusador) enquanto, claro, se auto elogia como o salvador (da democracia ou da pátria, também conforme o lado).

É elementar, mas a falta de isenção dos comentadores lusos parece não querer perceber que a diversa e enorme sociedade americana não se reduz à perspetiva da comunicação social tradicional americana de esquerda. Muito para além dessa pequena elite (à qual se juntam as estrelas de Hollywood e música), na américa só lojistas há cerca de 4 milhões, camionistas 3.5 milhões, enfermeiros 3 milhões, médicos 1 milhão, e por aí fora. Todos os americanos a pensarem pela sua própria cabeça e a maioria (74 milhões) a votarem na direita. Ora já que tais comentadores lusos não vivem na américa para sentir o pulso capitalista local maioritariamente oposto ao socialismo dos impostos altos e estado grande, ao menos que analisassem também o Wall Street Journal do centro-direita ou o podcaster centrista Joe Rogan, mais visto nos EUA que canais de TV tradicionais. Estas opiniões moderadas e irreverentes, respetivamente, raramente chegam a Portugal. Assim, a escolha dos americanos era “de caras!” gritavam entusiasmados os nossos tavares e tavares! pachecos e mortáguas! etc. Povo bem unido à esquerda. Carregam todos, mesmo os que alegam ser de direita, décadas de hábitos pró pobreza lusitana e anti riqueza americana. Avante camaradas! Cunhal ficaria orgulhoso deles todos.

Esta falta de pragmatismo, excesso emocional, e sobretudo enviesamento à esquerda da maioria dos nossos “pensadores” é trágica para Portugal; não para os EUA onde nunca chegaram as opiniões dos nossos joões com medo de serem realmente de centro ou direita. Influenciados por eles, demasiados portugueses continuam parados em 1975 em vez de aprenderem algo com a maioria dos americanos. Estes não se assustam com trocas de galhardetes entre campanhas (que incluem até “diabo” como já vimos em Portugal) exigem é ações dos políticos no sentido do melhor para a sua família, carteira, empresa e cidade. Em vez de banalidades agradáveis, repetidas com sorrisos, ou esmolas do estado a troco de altos impostos, a maioria dos americanos querem é quem lhes diminua os impostos, baixe os preços (sobretudo da alimentação e energia) e lhes proporcione um estado menor mas mais bem gerido, priorizando a função que mais preocupe a população (segurança na fronteira), mesmo que seja com discurso bruto e impolido.

Se fosse pelos influenciadores do discurso lusitano, focados em discursos bonitos, os EUA podiam ir à vontade pelo caminho português de desnutrir o sector privado para alimentar um estado cada vez maior e inábil. Desde que qualquer candidato que venha do lado que quer sempre aumentar impostos sem dar bons resultados em troca, assuste as pessoas com o “diabo” da direita e dê gargalhadas ainda mais valentes que Costa ou Sócrates, pode ficar tudo na mesma. Ou seja, semelhante ao coletivismo que Gonçalves já apregoava em 1975 e ficando Portugal sempre mais pobre que os EUA. Esta receita da esquerda em Portugal raramente falha, nos EUA falha dada a exigência de resultados.

Ao contrário do pensamento ideológico-económico luso que não evoluiu muito desde o verão de 1975, a sociedade americana capitalista, empreendedora e meritocrática tem evoluído freneticamente. O resultado da evolução tecnológica mundial liderada por empresas privadas dos EUA tem sido fabuloso. Na biotecnologia farmacêutica desde 1976 tais empresas começaram a pôr células de bactérias a produzir proteínas humanas para tratar doentes que não as tinham, desvendaram o genoma humano, produziram terapias genéticas (por exemplo adicionando um gene a doentes que sem ele eram cegos mas assim passaram a ver). Os “milagres” para os doentes não param. Este ano foram lançados medicamentos que editam genes. Em paralelo, houve também uma explosão de inovação e evolução na tecnologia digital desde os anos 1970s propulsionada por empresas privadas americanas, beneficiando toda a humanidade: massificação do uso de computadores, internet, redes sociais, telefones inteligentes, carros elétricos que se auto conduzem e demais expansão da inteligência artificial (IA). No seu recente livro sobre singularidade o visionário em IA da Google, Ray Kurzweill, diz-nos que a convergência da biotecnologia com a tecnologia está próxima e fará avançar a humanidade exponencialmente. Entretanto, a SpaceX aposta nas viagens no espaço e até consegue reciclar o motor propulsor algo que nem sequer a NASA do governo americano, com muito mais dinheiro, conseguiu! O sector privado e a sociedade civil dos EUA são imparáveis!

Já em Portugal, os donos do discurso publico na sociedade portuguesa, tem pensamento ideológico-económico parado no tempo. Defendem tudo o que esteja mais à esquerda, mesmo o que não apresente resultados. Por exemplo todas as revistas portuguesas, incluindo, as supostamente de direita, só maldizem empresários como o responsável pela acima referida SpaceX (Musk) e o candidato que ele aconselhou como melhor para a economia. Sem visão nenhuma e nem descansando ao sábado, estão sempre a pôr a demasiados portugueses ideologicamente limitados só ao lado esquerdo. Muitos papagueiam que os empresários bem-sucedidos são automaticamente maldosos, mas os políticos incompetentes são bondosos. Essa mentalidade além de não atrair empresários focados em resultados para a política nacional, impede o número de empresas que paguem bem de aumentar. É contra o próprio interesse dos cidadãos. Enquanto a maioria dos portugueses se entretêm a dizer mal de Musk, continuando remediados. Muitos americanos ou são muito bem pagos a trabalhar nas empresas de Musk ou em outras tão boas. Prosperam também mais que os portugueses investindo, incluindo nos seus planos de reforma, nas ações dessas companhias dos EUA. Quem nos dera que Portugal fosse gerido por empresários habituados a terem de apresentar bons resultados para a população.

Em termos de mais paralelos didáticos entre a classe política da esquerda americana e quase toda a classe política portuguesa, Kamala Harris tem vivido de de cargos obtidos através da política, sempre a subir no estado sem grande avaliação dos seus resultados, de forma semelhante à da maioria dos políticos de carreira lusos. Igualmente, o seu candidato a vice-presidente Waltz era um ex professor do ensino secundário que há muito enveredou pela política com um perfil parecido ao de Eduardo Cabrita.

Promessas ditas de forma bonita depois de resultados feios no poder não convencem os exigentes eleitores americanos, ao ponto de preferirem aturar quem fale desbocadamente, mas apresente resultados. Pelo contrário e infelizmente em Portugal, o socialismo sorridente incompetente sem resultados quer ganhe quer perca as eleições, fica sempre entranhado na governação e na admiração dos comentadores e dos políticos; incluindo muitos de alegado centro-direita assustados com se assumirem e promoverem políticas de centro ou direita que levassem a melhores resultados.





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