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As noites em que o Porto voltou a render-se às Viagens de Pedro Abrunhosa – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 11, 2024

Com centenas de pequenos retângulos, cada pedaço do cenário procura estar no ritmo que o artista marca. É, diria, uma fração de liberdade que representa cada um dos que ali se sentou e que, por sua vez, acompanha o músico, já ao piano. O momento acaba com um lance vermelho – a urgência. “Porque amanhã é sempre tarde de mais”, as palavras que avançam com a música que tem o mesmo título, e que remonta para um dos muitos momentos altos do concerto. Abrunhosa intriga-se: “como é possível dizer que se vai dar o salto com o rabinho sentado na cadeira?”. A plateia levanta-se e ouve-se Rei do Bairro Alto, um tema que desafia todos aqueles que resistiam sentados até então. Dança-se, assobia-se, grita-se “obrigada, Pedro”. As pessoas do Porto são calorosas e o artista orgulha-se. A Baixa, os arredores, diz que tudo é casa. “E onde queremos viver?” No mesmo lugar que o artista, que no início dos anos 1980 fundou a Escola de Jazz do Porto com os irmãos Barreiros. No mesmo lugar onde a música saía para a Praça. No mesmo lugar onde se cantava a democracia, a revolta, o desânimo. Abrunhosa volta a perguntar: “onde queremos viver?”.

Esta é a questão que lança Talvez Foder e que traz parte das declarações mais fortes. É enquanto se pronuncia sobre “as crianças assassinadas em Gaza, no Líbano e mortas pelo Hamas” que recorda “o silêncio é o caos”. E Pedro Abrunhosa não quer “fazer parte desse silêncio”. “E o caos é o caos.” Um rasgo de luz vermelha volta a exalar-se. É no solo elétrico da guitarra de Bruno Macedo que se dilui. Os concertos de Abrunhosa dançam entre a disciplina profissional coreografada e um improviso constante que elege a dedo quem avança e quem recua. O guitarrista termina e segue de novo o saxofonista. Por mais estável que se pareça, os momentos musicais são um trabalho artístico que trespassa qualquer tempo, espaço ou sujeito. São os dedos entrelaçados entre o rock, o jazz e o funk, mais do que nunca. Não estamos numa jam, mas é como se estivéssemos.

O artista decide falar sobre a importância da praça, da cidade, “dos sítios de coletividade”, razões válidas para apresentar Vem Ter Comigo Aos Aliados. “É uma história de amor. Ela do FC Porto e ele do SL Benfica. Ela do Porto. Ele de Lisboa. Os filhos são do Sporting”, conta. Quatro cadeiras ao lado, um casal beija-se. Talvez se tenham apaixonado na praça, nos Aliados. Ou talvez representassem o Norte e o Sul. Abrunhosa escolhe ao pormenor fazer perguntas para lhes responder com a canção que se segue: Não Te Ausentes De Mim. Os diálogos entre as duas canções completam um manifesto. A primeira, que interpreta poucas vezes, onde recorda o seu irmão Paulo e a que, tantas questões responde, com a segunda. Este é um momento de clímax do concerto. O desenho de luz exalta, as pessoas cantam de peito cheio. Emocionam-se.





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