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Governo reconhece “bomba ao retardador” na Saúde, mas tenta encontrar forma de evitar saída da ministra – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 13, 2024

Secretária de Estado, presidente do INEM e sindicatos. O Governo está a tentar encontrar forma de impedir que as 11 mortes que terão resultado dos constrangimentos provocados pela greve dos serviços de emergência pré-hospitalar (a eventual relação de causalidade ainda não está comprovada) sejam politicamente imputadas a Ana Paula Martins e evitar assim que a ministra da Saúde seja o primeiro elemento a cair da equipa de Luís Montenegro. Com inquéritos judiciais e investigações do IGAS a decorrer em simultâneo, é improvável que estes incidentes não venham a agravar a crise política em que mergulhou o Ministério, mas a narrativa para proteger a ministra está já a ser desenhada.

“É muito difícil que a culpa venha a morrer solteira“, concede ao Observador um membro do Governo. Resta saber é quem será o culpado. Perante o número de casos reportados, a expectativa que existe é de que será muito difícil impedir que o assunto venha a atormentar o Executivo mais à frente e que não fique comprovado que houve algum tipo de causa-efeito. “É uma bomba ao retardador“, reconhece a mesma fonte.

A questão é que deixar cair ministra agora seria abrir a comporta do Governo e ficar completamente exposto à oposição. E o ciclo político que se coloca no horizonte não aconselha grandes aventuras. A seguir à aprovação do Orçamento do Estado, o país entra em modo “autárquicas“, eleições que Montenegro precisa de ganhar para impedir que Pedro Nuno Santos ganhe ímpeto — seria, depois das europeias, a segunda vitória do PS — e tenha a tentação de provocar uma crise política. Dar um sinal de fragilidade afastando uma ministra ao fim de sete meses é tudo aquilo de que Montenegro não precisa.

Mas a palavra, em política, tem um peso. Quando foi ouvida no Parlamento, Ana Paula Martins garantiu que assumia “total responsabilidade” pelo que tinha corrido “menos bem” no INEM. Ao mesmo tempo, disse saberia “interpretar os resultados” das investigações em curso e que se se chegar à conclusão que alguns episódios poderiam ter sido evitados, então retirará as devidas conclusões.

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Mesmo que nunca se tenha comprometido com uma eventual demissão, é difícil imaginar como é que, havendo inquéritos que concluam que uma greve que poderia ter sido evitada ou minimizada, a ministra da Saúde venha a recuar em relação à promessa de assumir “total responsabilidade”. A menos que outra pessoa do seu Ministério o faça e existe quem, no Governo, vá recordando que o INEM não estava sob a responsabilidade direta de Ana Paula Martins.

“A ministra só assumiu a tutela do INEM agora”, aponta ao Observador um elemento da equipa de Luís Montenegro. Ora, para bom entendedor, meia palavra basta. Ontem mesmo, terça-feira, foi a própria ministra da Saúde a dizer que ia finalmente assumir a tutela direta do INEM e que o instituto passaria a ocupar “70%” do seu tempo, tal a complexidade dos problemas que estão por resolver. Puxar para si a pasta do INEM tem uma leitura política óbvia: é o assumir de que a secretária de Estado da Gestão da Saúde, Cristina Vaz Tomé, não estava a dar conta do recado.

De resto, à medida que se foi construindo a fita dos acontecimentos que resultaram no quase colapso do INEM durante o dia de 4 de novembro, os dedos começaram a ser apontados precisamente a Cristina Vaz Tomé, que teve o particular azar cometer uma gafe quando finalmente decidiu a cara. Com a Saúde sob fogo, a secretária de Estado enfrentou os jornalistas e acusou a comunicação social de sofrer de “anemia” — queria, na verdade, dizer “amnésia”. Não ajudou, naturalmente.

Mais a mais, não é sequer a primeira vez que Cristina Vaz Tomé se vê envolvida numa polémica com o INEM. Luís Meira, presidente do instituto quando o Governo de Luís Montenegro tomou posse, foi afastado na sequência do caso dos helicópteros — também nessa altura o Ministério da Saúde foi acusado de ter ignorado os sucessivos apelos do INEM. Meira acabaria por cair com muitas críticas ao Ministério — chegou a falar em “negligência” e “falha gritante” — e o chefe de gabinete da secretária de Estado, Gustavo Namorado, também. Cristina Vaz Tomé e Ana Paula Martins seguiram em frente.

Ora, e voltando à mais recente crise no INEM, já depois de o Expresso ter revelado que, afinal, o Governo tinha sido devidamente avisado da greve que iria decorrer — contrariando a primeira tese avançada por Ana Paula Martins de que o Governo fora apanhado de surpresa –, começou a correr outra versão: afinal, o Ministério da Saúde fora avisado, mas a secretária de Estado de Ana Paula Martins, que foi quem efetivamente recebeu as comunicações dos sindicatos, decidiu atirar as negociações para 2026, ignorando os possíveis efeitos da greve anunciada.

Assim que a ministra da Saúde se sentou à mesa com os sindicatos — que, aliás, se têm desdobrado em elogios à postura negocial de Ana Paula Martins –, foi possível evitar o prolongamento do braço de ferro entre os técnicos do INEM e o Governo. Logo, a equação que se vai construindo, mesmo a partir do Governo, é relativamente simples de reconhecer. Tivesse a secretária de Estado sido mais previdente e talvez a greve tivesse sido evitada. Baralhando e dando de novo: alguém terá de cair e Cristina Vaz Tomé vai ganhando alguns argumentos para ser a primeira vítima política.





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