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“A arte é um lugar para elaborar o pesadelo” – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 15, 2024

“A pergunta era: como fazer a pesquisa? Porque muitas histórias não têm registo. Encontramos coisas em sites que ficamos com dúvidas sobre o que estamos a ler, sobre a fonte. Demos com a cara na porta muitas vezes porque muitas informações não existiam. Ou descobríamos um livro que estava não sei onde, que tinha essa informação”, recorda ao Observador sobre um processo de pesquisa longo e complexo, cheio de desafios impostos pela falta de relatos na primeira pessoa. “Tem uma questão com esse tipo de história que é o lado da vítima, que às vezes ele também não [existe]. Ou porque a vítima desapareceu, foi assassinada, ou, muitas vezes, quando se trata de casos de violência e de estupro, é difícil também contar.”

Com uma base de trabalho fortemente ancorada em factos verídicos, questionamos se o teatro contemporâneo não tem caminhado cada vez mais no sentido não ficção, não apenas no teor, mas também na forma — a última passagem da conterrânea Christiane Jatahy no CCB, é apenas um dos exemplos recentes. Precisará a arte, mais do que nunca, em vez de nos fazer sonhar com o que não existe, mostrar o que está bem diante dos nossos olhos? “É uma pergunta interessante. Acho que a questão da conferência está aí presente também como essa tentativa de expor o caminho de um pensamento”, assume a artista.

Uma coisa é certa, se a ferida da violação ainda arde, Carolina Bianchi não tem dúvidas que “uma peça não resolve”. “É possível que o teatro sustente essa conversa sobre violência sexual, sobre estupro?”, questiona-se em voz alta, antes de dar a resposta possível: “Acho que estou fazendo essa trilogia para investigar isso. Não sei. Não tenho essa resposta ainda”.

Nesta viagem de duas horas e trinta minutos pelo inferno da violência sexual e do feminicídio, não há catarse ou salvação. Tampouco o teatro é o lugar de resolução de problemas, de reparar o que não é reparável. Poderá ser, pelo menos, veículo de denúncia, questionamos? “A palavra denúncia, para mim, é uma contradição. Não acho que na arte há um lugar para servir a denúncia. Acho que a arte é um lugar para elaborar o pesadelo, tentar dar contornos. Veja que digo tentar, nem estou certa que isso é, de fato, o lugar das coisas”, afirma.





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