A Rússia tem vindo a usar, sobretudo, os BM-30 Smerch, mísseis capazes de viajar cerca de 70 quilómetros e, também, os 2A36 Giatsint-B Howitzer, com máximo de 40 quilómetros, segundo a britânica BBC.
Volodymyr Zelensky não confirmou oficialmente a decisão norte-americana, notando no seu “diário de guerra” nas redes sociais que tem havido “muita conversa nos meios de comunicação social” sobre a possibilidade de a Ucrânia “receber permissão” para levar a cabo essas ações ofensivas contra a Rússia.
“Os ataques não são levados a cabo com palavras. Essas coisas não são anunciadas. Os mísseis vão falar por si. Certamente vão”, assegurou, no entanto, Volodymyr Zelensky.
Com estes mísseis – e confirmando-se a autorização – a Ucrânia irá passar a poder atingir alvos bem dentro do território russo. A expectativa é que os ucranianos poderão atingir, em primeiro lugar, a região de Kursk, que fica a cerca de 180 quilómetros, em linha reta, da cidade de Sumy (Ucrânia).
Esta região, onde os ucranianos controlam mais de 1.000 quilómetros quadrados de território, pode ser palco de uma contra-ofensiva russa com a ajuda dos soldados norte-coreanos. Estes mísseis podem ser decisivos a deter essa possível investida, já que permitem atingir as bases militares e infraestruturas de armazenamento de armas da Rússia.
Ainda assim, como explica a BBC, de um ponto de vista mais geral, a importância destes mísseis na guerra também não se deve sobrevalorizar – já que a Rússia já tem movido importantes infraestruturas e equipamentos (como caças) para regiões mais distantes da Ucrânia, precisamente a antecipar que esta decisão pudesse ser tomada.
Mas estas novas armas – ou, em rigor, a possibilidade de estas armas poderem ser usadas de outra forma – poderão dar à Ucrânia alguma vantagem numa altura em que as tropas russas têm vindo a ganhar terreno no leste do país. “Não creio que seja decisivo”, disse um diplomata ocidental em Kiev à BBC, pedindo o anonimato devido à delicadeza do assunto. “No entanto, é uma decisão simbólica” que vem “demonstrar [a robustez] do apoio militar à Ucrânia” e, além disso, leva diretamente a um aumento do custo da guerra para a Rússia, o que também não é um fator de somenos.
Ainda não é claro quantos mísseis é que estão (ou vão estar) ao dispor da Ucrânia. Mas a expectativa é que, uma vez aprovando-se o uso destes mísseis, também a Europa (Reino Unido e França) possam permitir que a Ucrânia use os Storm Shadow, que têm limites semelhantes aos ATACMS norte-americanos. O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noel Barrot, reiterou nesta segunda-feira que a possibilidade de a Ucrânia utilizar mísseis franceses contra território russo ainda não foi descartada.
Era disso, claramente, que a administração Biden tinha medo, ao longo dos últimos meses, quando hesitou na tomada desta decisão que, de acordo com a imprensa, foi mesmo tomada. Em meados de setembro, o Presidente russo, Vladimir Putin, avisou que essa autorização ocidental, a confirmar-se, “significaria nada menos do que o envolvimento direto dos países da NATO na guerra na Ucrânia”.
“Seria algo que alteraria significativamente a própria essência do conflito. Significaria que os países da NATO, os EUA e os países europeus, estariam a lutar diretamente contra a Rússia“.
Mas estas são declarações que não são muito diferentes daquelas que o Kremlin fez antes de se ultrapassarem outras “linhas vermelhas” nesta guerra. Também quando se entregaram tanques de guerra mais modernos e caças à Ucrânia Putin fez declarações semelhantes, sem que por causa disso se tenha iniciado uma guerra direta entre a Rússia e a NATO. Esta é uma decisão, porém, que tem contornos simbólicos diferentes: já que se trata de permitir que a Ucrânia use armas ocidentais para atacar território russo.
A incerteza é ainda maior dado que a decisão é tomada menos de dois meses antes de o Presidente que a toma (Joe Biden) abandonar o cargo, dando lugar ao regressado Donald Trump. A própria Ucrânia tem noção de que a decisão pode ter efeitos limitados no tempo: “Estamos preocupados, esperamos que Trump não reverta esta decisão“, afirmou Oleksiy Goncharenko, um deputado ucraniano.
Trump tem dito que quer acabar rapidamente com a guerra na Ucrânia e o seu vice-presidente-eleito, JD Vance, já assumiu publicamente a oposição a que se preste mais ajuda militar à Ucrânia. Mas outros membros da futura administração Trump, e pessoas próximas do Presidente eleito, têm uma posição diferente: deve-se aumentar o fornecimento de armas à Ucrânia para forçar a Rússia a negociar de forma mais séria.
A reação mais imediata, porém, veio de Donald Trump Jr., filho de Trump, que escreveu nas redes sociais que “o complexo industrial militar parece querer garantir o início da Terceira Guerra Mundial antes que o meu pai tenha a oportunidade de criar a paz e salvar vidas”.