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“Pedro Nuno está em aprendizagem. Teve um pequeno flop, mas tem potencial” – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 21, 2024

A conjugação de duas greves provocou constrangimentos anormais no INEM que podem estar associadas a 11 mortes. Foi ministro da Saúde em dois governos. Se estivesse no lugar de Ana Paula Martins, teria colocado o seu lugar à disposição?
Não teria colocado o lugar à disposição por uma razão: nunca teria deixado as coisas chegarem ao ponto a que chegaram. A questão do anúncio dos pré-avisos de greve é suficientemente séria para qualquer ministro usar o máximo da capacidade preventiva e o máximo de diligências antes de que os factos possam vir a ocorrer sem controlo, portanto não creio que não seria pensável sequer que isso acontecesse. E por que é que aconteceu? Penso que é uma grande inexperiência. Na experiência da parte das equipes ministeriais há uma on-the-job training e é uma atividade que tem os seus custos.

O passado, infelizmente, até pelas fatalidades que ocorreram, não pode ser corrigido. Se ficar provado que uma ou mais mortes estão de facto relacionadas com esta greve, uma greve que poderia ter sido evitada, a ministra tem outra alternativa a não ser apresentar a sua demissão?
A ministra é uma estimável pessoa e tem, noutros aspetos, um comportamento bastante positivo. Mas nesta matéria ela própria assumiu a responsabilidade do que vier ser provado. É evidente que há um longo período até à prova. O problema aqui não é tanto a questão da prova, é o problema da instabilidade. É evidente que a equipa está instabilizada pela desconfiança que se gerou e é impossível que isso não resulte em baixa performance governativa. Temos uma instabilidade governativa que já vem de há meses. O primeiro fenómeno de instabilidade foi a criação das condições que levaram à demissão de Fernando Araújo. Ele tinha concebido todo um sistema, bom ou mau – tenho as minhas reservas – mas era um sistema novo que precisava de tempo para se impor e tinha o seu autor. Uma pessoa muito ativa, prestigiada no meio e fora do meio. Penso que o governo fez muito mal.

E está a pagar o preço?
Está a pagar o preço. Se tivesse mantido a anterior direção executiva, o Governo estava até muito mais defendido. Tinha um biombo, ou um escudo.

No seu livro de memórias explica que saiu de um governo por decisão de José Sócrates, com o argumento que a guerrilha política que lhe estava a ser movida estava a prejudicar todo o executivo. Acredita que a Ana Paula Martins está a prazo?
Tudo depende. Se tivéssemos apenas uma observação racional sobre esta questão, provavelmente há cinco ou há oito dias a polémica tinha esmorecido. Ficávamos à espera de que os peritos pudessem pronunciar-se. É evidente que o assunto se tornou muito preocupante porque as pessoas atribuem ao INEM uma importância muito grande e sentem-se frágeis.

Ana Paula Martins terá condições para lidar com um setor muito contestatário?
Ana Paula Martins é uma pessoa preparada, com alguma experiência do setor, mas não tem experiência de governação do setor. Conhece os personagens, conhece o meio, conhece o valor das pessoas, leu muito, estudou muito, tem estudos de epidemiologia no estrangeiro, é uma pessoa bem preparada. Falta porventura experiência política. A dar crédito àquilo que ocorre nas redes sociais, parece que a ministra da Saúde não tem total liberdade de intervenção.

Em que sentido?
Está muito condicionada por pessoas que estão ao lado dela ou acima dela, entre ela e o primeiro-ministro, formal ou informalmente. Não tenho a menor fundamentação factual para comprovar esta afirmação, mas é o que consta nos meios sociais, que há pessoas com interesses muito próximos da Saúde, interesses materiais, interesses corporativos, e que se movimentam muito bem.

O setor privado?
Nem tanto o setor privado prestador. Talvez profissionais que têm alguma margem de manobra… Enfim, não posso avançar mais do que aquilo que tenho lido nas redes sociais.

Conta também no seu livro que chegou a ter a ajuda de alguns especialistas de comunicação quando era ministro. O Observador deu conta de que Ana Paula Martins está a receber alguns conselhos dos especialistas de comunicação. Pela sua experiência, isto vai resultar?
Não sei se vai resultar. O que sei é que é importante que haja esse tipo de formação e de preparação. Os ministros em Portugal ou têm carreira política prévia, e normalmente têm fragilidades técnicas, ou os que têm uma grande competência técnica podem ter défices de preparação política. Isto é um caso clássico de um país que não tem uma longa tradição democracia.





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