• Sex. Nov 22nd, 2024

Feijoada Politica

Notícias

O problema do 25 de Novembro – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 22, 2024

Qual é o problema, quase cinquenta anos depois, de celebrar o 25 de Novembro de 1975? Ofusca o 25 de Abril, dizem uns. Como? O movimento militar de 25 de Novembro confirmou o ponto em que o movimento de 25 de Abril de 1974 unira toda a gente: a fundação em Portugal de uma democracia pluralista, assente na vontade dos cidadãos expressa em eleições livres. Foi esse o mandato que o Movimento das Forças Armadas se atribuiu em 1974, e ao qual o país aderiu. Depois, uma parte do MFA esqueceu isso, e abusou do poder militar para estatizar a economia, constranger a Assembleia Constituinte, e perseguir os que não se entusiasmaram com o seu socialismo de caserna. Em 1975, o 25 de Novembro pôs termo a essa prepotência. Não por acaso, foi protagonizado por muitos dos mesmos operacionais do 25 de Abril, a começar pelo então major Jaime Neves. Celebrar o 25 de Novembro é celebrar o 25 de Abril.

Mas o 25 de Novembro divide, dizem outros. É a esquerda que o diz, e é curioso que o diga, quando é a esquerda que, todos os anos, insiste em reclamar, falsamente, que o 25 de Abril é só dela. O divisionismo que possa causar a sua apropriação sectária e adulterada do 25 de Abril nunca a inquietou. Só as divisões do 25 de Novembro. Quanto a estas, é compreensível que o PCP e restante extrema-esquerda recusem abrir o champagne. A partir de Dezembro de 1975, o general Eanes devolveu a tropa aos quartéis, e retirou ao PCP e à extrema-esquerda o instrumento militar com que, à falta de votos, tentaram impor-se em Portugal. Aqueles que, às cavalitas de parte do MFA, fantasiaram Cubas europeias, nada têm a celebrar. Mas os outros? Porque é que, nas regiões políticas correspondentes ao PS, há esquivas e hesitações?

Porque em 1975, para reagir ao revolucionarismo militar guiado pelo PCP e pela extrema-esquerda, o MFA moderado (o chamado “grupo dos Nove”) e o PS tiveram de procurar aliados para além das linhas vermelhas da esquerda. O MFA moderado falou com a chamada “direita militar” e até com o MDLP. O PS conjugou-se com o PPD e o CDS, então os partidos “fascistas”. Entenderam-se com os EUA e com a Igreja Católica, incluindo o clero mais conservador, a quem se deveu o levantamento popular anti-comunista do Norte no Verão de 1975. Houve que dar a mão à “direita”, nas suas várias formas, para resistir a um radicalismo esquerdista que foi o grande vento contrário à democracia desde 1974.

Sem a direita militar, política e social, não teria sido fácil salvar a democracia em Portugal. Impulsionado por isso, Francisco Sá Carneiro exigiu a reversão total da revolução esquerdista. Mas anulado o poder militar alinhado com o PCP e a extrema-esquerda, o MFA moderado e o PS trataram de estabelecer um modus vivendi com o PCP, deixando-lhe a “reforma agrária” e as “nacionalizações”. Em Dezembro de 1975, cerca de metade do grupo parlamentar do PPD discordou do maximalismo de Sá Carneiro. O Conselho da Revolução sobreviveu. No entanto, a dinâmica do 25 de Novembro, de rejeição do esquerdismo revolucionário, não se esgotou. Alimentou o movimento de opinião que em 1979 deu uma maioria absoluta a Sá Carneiro, e criou o ambiente para a normalização do país como uma democracia de tipo ocidental na década de 1980.

Entretanto, o MFA moderado reconciliou-se com o MFA extremista. O PS reintroduziu o PCP e a extrema-esquerda nas salas do poder. Ultimamente, o país oficial apontou as direitas liberal e nacionalista como as únicas ameaças. Não lhe convém lembrar que a democracia em Portugal dependeu, num momento decisivo, de linhas vermelhas muito diferentes. Está aí o problema do 25 de Novembro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR





Source link

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *