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Polícia Maputo parou de novo ao som de apitos e buzinadelas de contestação e polícia voltou a usar gás lacrimogéneo – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 22, 2024

Ainda não eram 12 horas e já os apitos ecoavam nas ruas de Maputo, que rapidamente paralisaram, no terceiro dia de protestos convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, provocando um ruído ensurdecedor na capital durante 15 minutos. E a reação policial não se fez esperar, lançando gás lacrimogéneo contra os manifestantes.

À hora prevista, Alberto Zimba, e um grupo de amigos, montou o banco no cruzamento das avenidas 24 de Julho e Guerra Popular e dali não saiu, sentado, de apito na boca, cumprindo o protesto, enquanto os automobilistas, parados no trânsito, um pouco por toda a cidade, se juntavam com buzinadelas.

“Estamos aqui, primeiramente, para reivindicar a verdade eleitoral”, explicava o apoiante confesso, como todos os outros que o secundavam, de Venâncio Mondlane.

“Abandonamos os nossos trabalhos, os nossos negócios, estamos aqui para reclamar, para reivindicar e manifestar: Venâncio Mondlane no poder”, atirava.

Naquele cruzamento, no coração da cidade de Maputo, centenas, vestidos de preto, em luto, juntaram-se ao protesto, muitos subiram aos tejadilhos dos carros e até de autocarros imobilizados na via, tocando tambores, com apitos e vuvuzelas, enquanto muitos outros, de telemóvel na mão, transmitiam o momento pelas redes sociais.

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Ao volante, Aristides Amocha passava no local antes ainda das 12 horas (10 horas em Lisboa) e por ali ficou, no interior da viatura, buzinando: “Parar das 12 horas às 12 horas e 15, apitar, buzinar e depois continuar a exercer as atividades”.

Antes de chegar a hora de libertar a rua, Dinis Alves aproveitava para mostrar o cartaz contra as desigualdades em Moçambique e reclamando pela “reposição da verdade eleitoral”.

“Há muita injustiça no país”, afirmava, para rapidamente continuar a passear por uma avenida totalmente ocupada por manifestantes.

Também para Adélcio Langa foi um dia diferente. Buzinou na avenida 24 de julho, de mãos no volante: “Paralisei a minha viatura e estamos a manifestar”.

“Reivindicar aquilo que é o nosso direito, o nosso voto, sou a favor da mudança”, explicava ainda.

Enquanto decorriam os 15 minutos do protesto, dezenas dançavam, cantavam e lançavam gritos de apoio a Venâncio Mondlane, como Mário Laule, subindo e descendo a Guerra Popular.

“O povo está no poder. Aqui viemos reivindicar a vitória dos moçambicanos. Nós fomos às urnas, votamos no nosso candidato Venâncio Mondlane, queremos ele na Presidência”, garantia.

Com o aproximar das 12 horas e 15, muitos começavam a fazer sinal e a gritar: “Está na hora”.

Pouco depois, o trânsito começava a circular, paulatinamente, enquanto muitos dos que antes se manifestavam tentavam agora apoiar na regularização do trânsito, até porque, das 13 horas às 13 horas e 25, um novo protesto prometia tomar conta da cidade, igualmente convocado por Venâncio Mondlane, desta vez entoando o hino nacional em homenagem a Elvino Dias e Paulo Guambe, seus apoiantes, assassinados numa emboscada em 18 de outubro, em Maputo.

Esta nova fase de protestos — paragem nas ruas entre as 12 horas e as 12 horas e 15 — foi convocada pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), e centenas de pessoas responderam saindo às ruas da capital, vestidas de preto, ou parando as viaturas no meio do trânsito.

Esta sexta-feira novamente, carros parados e o buzinão alastraram a outras artérias centrais de Maputo, como as avenidas de Moçambique, Karl Max, 24 de Julho, Eduardo Mondlane, entre outras zonas, como o mercado Estrela.

A ação, disse o candidato, é o luto pelas vítimas, manifestantes — segundo o candidato um total de 50 mortos nos últimos dias — que participaram em ações de protesto anteriores, “baleadas pelas autoridades que as deviam proteger”.

Enquanto carros, camiões e viaturas de transporte público paravam na rua, juntando-se ao protesto com buzinadelas, muitos outros voltaram a sair dos estabelecimentos comerciais e instituições públicas, aglomerando-se também nos passeios, entoando cânticos de apoio a Venâncio Mondlane.

Em reação, a polícia moçambicana dispersou com disparos de gás lacrimogéneo centenas de manifestantes que estavam a contestar os resultados eleitorais, cantando, de joelhos, o hino nacional, no centro de Maputo.

A intervenção policial aconteceu cerca das 13 horas e 20 locais (11 horas e 20 em Lisboa), pelo menos junto à estátua de Eduardo Mondlane, na avenida central de Maputo com o mesmo nome, e provocou a fuga momentânea dos manifestantes.

“Nós simplesmente estávamos a entoar o hino nacional, que é respeito, é símbolo de Moçambique. Os polícias que tinham de respeitar, não conseguiram respeitar, a população não fez nada e amanhã vão-nos chamar de vândalos”, explicava uma das manifestantes.

O protesto convocado para esta sexta-feira por Venâncio Mondlane envolvia, entre outras ações, cantar o hino nacional por 25 minutos, nas ruas, a partir das 13 horas locais (11 horas em Lisboa), tal como o fez Francisco Alface, surpreendido pelo lançamento de gás lacrimogéneo junto à estátua do histórico Eduardo Mondlane, quando a manifestação decorria de forma pacífica, embora com toda a circulação automóvel cortada.

“Estávamos aqui a entoar o hino nacional, de forma pacífica, sem vandalização, sem nada. Eles chegaram de repente e começaram a lançar o gás lacrimogéneo. O trabalho deles é intimidar-nos, nós já estamos cansados de ser roubados e sequestrados. Este país é nosso, nós vamos continuar a nos manifestar até à reposição da verdade eleitoral”, afirmava.

Apesar da intervenção policial, que ainda se repetiu, de apitos e cartazes nas mãos, munidos de garrafas de água, os manifestantes rapidamente voltaram a ocupar os mesmos locais, entre cânticos de apoio a Venâncio Mondlane e “salvem Moçambique”, enquanto reocupavam toda a avenida Eduardo Mondlane.

“Estávamos numa simples manifestação. Vou voltar a repetir: simples manifestação. Só que de repente a polícia começou a atacar-nos com gás lacrimogéneo”, explicava, pouco depois, Vitor Sitoe, garantindo que “tudo estava a acontecer de forma pacífica”.

“Nós não temos armas, só tenho a minha bandeira, que me identifica como moçambicano”, garantia, enquanto se preparava para voltar a entoar o hino, no mesmo local, novamente, como centenas de outros manifestantes.

Este é o último dos três dias da nova fase de protestos convocada pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).

A ação, explica Mondlane, é o luto pelas vítimas, manifestantes — segundo o candidato um total de 50 mortos nos últimos dias — que participaram em ações de protesto anteriores, disse, “baleadas pelas autoridades que as deviam proteger”.

O candidato apoiado pelo Partido Otimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (Podemos) contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela CNE e que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional.

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