É o nome dado ao fenómeno psicológico de acreditar que se é incapaz ou incompetente, mas ainda ninguém descobriu. Mesmo perante a evidência concreta de valor, competência e sucesso — ou seja, o reconhecimento dos outros e a progressão profissional —, a pessoa sente-se uma fraude e teme que, mais cedo ou mais tarde, os outros vão acabar por perceber isso. Em alguns casos, esta perceção é generalizada a todas as áreas da vida, noutros, é um sentimento que está focado em áreas ou situações particulares, como a parentalidade ou o trabalho.
O termo foi usado na literatura científica pela primeira vez em 1978, pelas psicólogas norte-americanas Pauline Clance e Suzanne Imes.
Todos sentimos inseguranças, incertezas e receio da avaliação dos outros em situações importantes ou desafiantes.
Tudo isto só é problemático, refere a psicóloga Tânia Daniela Carvalho, quando há uma grande “frequência, intensidade e persistência dos sentimentos de inadequação”, bem como “um impacto e sofrimento na vida da pessoa.”
Em termos práticos, trata-se da diferença entre ter estes sentimentos em situações pontuais, que sejam desafiantes – por exemplo, a apresentação de um projeto muito importante no trabalho – ou ter estes receios e sentimentos persistentemente, de modo “mais enraizado e crónico, apesar das evidências que provam o contrário, interferindo de forma negativa e prejudicial na vida da pessoa.”
Quem se sente assim tem frequentemente um conjunto de crenças, pensamentos, sentimentos e comportamentos associados, explica Tânia Daniela Carvalho:
- Dúvida e tendência para auto-subestimação permanentes. Ou seja, a pessoa acredita que as conquistas que alcança não são devido às suas competências, mas sim devido à sorte ou circunstâncias externas;
- Medo constante que os outros percebam que não é tão competente quanto aparenta e de ser “desmascarado”, o que leva a uma tendência para evitar novos desafios com receio de falhar;
- Stress e ansiedade, face à pressão que sentem em provar o seu valor e o medo de serem descobertos;
- Perfeccionismo, já que estabelecem padrões extremamente elevados e, quando não se conseguem atingi-los, há uma sensação de fracasso;
- Comparações desfavoráveis com os outros: a pessoa acredita que toda a gente é mais capaz, competente e merecedora de sucesso.
Não. No entanto, pode ter um impacto significativo na saúde mental, sendo um fator, entre outros, que pode conduzir ao desenvolvimento ou agravamento de uma doença.
A título de exemplo, a psicóloga refere como efeitos negativos o aumento da ansiedade, o isolamento, a baixa-autoestima, o burnout e, em casos mais graves, quando a pessoa fica presa numa perceção negativa de si mesma, a depressão.
São quase sempre várias, sendo que há três que podem ser particularmente relevantes: “fatores psicológicos – como o perfeccionismo e a baixa autoestima – , familiares – como comparações e críticas na infância – e pressões sociais e culturais – como expectativas de sucesso e estereótipos de desempenho”, refere a psicóloga.
Por outro lado, frisa que as experiências passadas de fracasso ou trauma poderão desencadear ou agravar esse fenómeno.
De acordo com a psicóloga, os estudos que têm sido feitos sobre a síndrome do impostor mostram que tende a ser mais frequente em mulheres, sobretudo aquelas que trabalham em setores ainda dominados por homens, e que é mais prevalente entre jovens em início de carreira, associado aos receios que decorrem da falta de experiência.
Parece também ser mais prevalente “em profissões altamente competitivas e com uma constante avaliação ao nível do desempenho, por exemplo, no meio académico e nas áreas da tecnologia, artes, medicina ou ciências”, refere. Por outro lado, acredita-se que em sociedades que valorizam mais o sucesso individual e a competitividade, pode ser mais frequente, já que “existe mais ênfase em resultados individuais e em demonstrar competência.”
“Quando este problema passa a ter um grande impacto no dia a da e no bem-estar da pessoa ou dos outros à sua volta”, diz Tânia Daniela Carvalho.
Ou seja, quando a pessoa começa a condicionar as suas escolhas pessoais ou profissionais com base neste medo ou quando começa a sentir os seus efeitos negativos, com o aumento da ansiedade ou baixa autoestima.
Nesta situações, é recomendável consultar um psicólogo, que pode ajudar a perceber as causas desta crença, a combater os sintomas e a desenvolver ferramentas para enfrentar a vida pessoal e profissional com outra confiança.
Sim. Para além de recorrer à ajuda de um psicólogo, também se podem tentar estas abordagens, sugere Tânia Daniela Carvalho:
- Transformar o “diálogo interno”, passando de afirmações negativas e “ruminantes”, para um discurso mais ajustado e positivo. Por exemplo, substituir o pensamento “Tive sorte nesta prova, mas não vai ser sempre assim” por “Tive esta boa nota porque me empenhei e esforcei”;
- Reconhecer os pontos fortes e focar-se neles. Em vez de pensar constantemente no que corre mal ou não foi bem feito, saber olhar para as forças, talentos e potencialidades;
- Praticar a autocompaixão. Uma forma de fazer isso é pensar como se falaria com um amigo que estivesse a passar pela mesma situação;
- Reavaliar expectativas e definir metas alcançáveis: deixar de parte o perfeccionismo ou autocrítica excessiva, recordando que toda a gente comete erros e definir objetivos alcançáveis — em vez de ter metas idealizadas e abstratas.