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Um militar candidato a Belém? – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 24, 2024

Andava o país entretido a discutir se deve ou não celebrar o 25 de Novembro de 1975, ou, se celebrando, como o deve fazer e com que tipo de flores, e eis que de repente o que se mantivera como um rumor se transformou numa quase certeza: o almirante Gouveia e Melo vai ser candidato nas próximas presidenciais. O que nos leva não para 1975 mas sim para 1980. Mas já lá iremos. A 1980. Por agora vamos ao anúncio de que vai haver haver anúncio de candidatura presidencial de Gouveia e Melo, após este cessar as suas funções como Chefe do Estado-Maior da Armada.

A notícia não surpreende: sabe-se que Gouveia e Melo o deseja, que as sondagens lhe são francamente favoráveis, sobretudo se Passos Coelho não se candidatar e, não menos importante, era certo que após os anos de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente haveria um forte impulso para os eleitores escolherem alguém com um perfil inverso.

Ninguém sabe o que Gouveia e Melo pensa mas é indesmentível que projecta uma imagem institucional inversa ao destrambelho presente. Aliás a própria notoriedade de Gouveia e Melo resulta da degradação das nossas instituições, pois só num um país cuja administração funciona mediocremente se acaba a aclamar um homem como excepcional simplesmente porque ele conseguiu fazer aquilo que se esperava dele, no caso pôr a funcionar uma estrutura de vacinação, o que sendo meritório nada tem de excepcional.

Em 2024 a perspectiva de um militar em Belém representa uma ânsia de formalismo institucional que funciona como contraponto à erosão abandalhada a que Marcelo presidiu. Com Gouveia e Melo, acredita-se, não teremos mudanças de calções de banho por esses areais fora, nem caça às selfies pelas ruas, travessas, becos, pracetas, avenidas, alamedas, praças e azinhagas deste país.

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Dir-se-á que ser visto como a antítese de Marcelo não chega para fazer uma candidatura presidencial. Não tenho tanta certeza. As candidaturas presidenciais têm uma forte componente emocional, seja em torno do candidato, seja nas expectativas sobre a sua actuação: Marcelo ele mesmo não foi eleito por causa dos “afectos”, seja isso o que for presidencialmente falando?

A isto junta-se que uma candidatura de Gouveia e Melo é uma derrota para Montenegro, que foi reeleito líder do PSD com uma moção em que ficou claro que o PSD apoiará um militante social-democrata na corrida para Belém. Traduza-se: Luís Montenegro ficou amarrado a uma candidatura de Marques Mendes.

Não sei se Montenegro subestimou a oportunidade política que o CDS, o Chega e a IL ganharam com esse auto-condicionamento do PSD ou se se deixou iludir pelo sucesso da táctica do “Não, é não” que tem usado contra o Chega e por acréscimo contra o PS. Ora uma campanha presidencial tem um lado pessoal que escapa ao controlo dos partidos. Seja em quem se candidata, seja em quem vota. Não só Montenegro não pode impedir Gouveia  e Melo de se candidatar como muito menos pode contar que os eleitores do PSD digam “Sim é sim” a Marques Mendes.

Assim sendo podem os senhores deputados, membros do Governo e demais personalidades presentes na sessão do 25 de Novembro aproveitar o tempo e a circunstância de no hemiciclo se encontrar António Ramalho Eanes para se interrogarem sobre o resultado das eleições presidenciais que tiveram lugar a 7 de Dezembro de 1980. Aquelas em que 3 260 520 portugueses deram o seu voto a António Ramalho Eanes, apesar de os líderes dos maiores partidos, Francisco Sá Carneiro (morreu três dias antes das eleições  presidenciais) e Mário Soares, terem publicamente manifestado estar contra Eanes. Quase 45 anos anos depois dessas eleições de 1980 em que se percebeu que o eleitor pode olhar para as presidenciais com lógicas muito diversas daquelas que o regem nas legislativas, não está fora de questão a possibilidade de Gouveia e Melo ser eleito apesar dos grandes partidos estarem contra.

PS. Cada vez mais países adoptam legislação para impedir o acesso das crianças e adolescentes às redes sociais. Neste momento temos  campanhas várias a alertar para que não se não deve ter smartphone até aos 16 anos e em países como a Austrália o Governo defende  que não se deve ter redes sociais até essa idade mesmo com consentimento dos pais. Mas ao mesmo tempo essas crianças e jovens podem fazer tratamentos alguns irreversíveis para mudarem de sexo.





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